Pensatempo: novembro 2011

domingo, 27 de novembro de 2011

Ato “Pela paz, por liberdade e justiça no campo” denuncia impunidade e cobra reforma agrária


Nas ruas de Rondon do Pará, trabalhadores rurais lembram 11 anos do assassinato de Dezinho


Neste sábado, 26 de novembro, manifestantes tomaram as ruas de Rondon do Pará no ato “Pela paz, por liberdade e justiça no campo”, em honra à memória de José Dutra da Costa (Dezinho), incansável batalhador pela reforma agrária e pelos direitos dos trabalhadores.

“Dezinho acreditava e defendia uma forma de desenvolvimento contrária do que sempre se viu em Rondon. Queria ver as terras públicas repartidas entre as famílias de trabalhadores rurais sem terra para aumentar a produção, a circulação de produtos dos agricultores no mercado local, melhorar a renda e a qualidade de vida dos mais pobres”, lembra a presidenta do Sindicato local, Zudemir dos Santos de Jesus. Mantida sob proteção policial, Nicinha, como é mais conhecida, explicou as muitas razões da homenagem ao líder assassinado, que também foram as que selaram a sua morte.
“Dezinho não concordava que os pobres tivessem que viver amontoados nos bairros em extrema pobreza ou que tivessem que enfrentar o trabalho escravo nas fazendas, carvoarias e serrarias. Por isso, denunciava os grileiros de terras públicas, os latifúndios improdutivos, os utilizadores de mão de obra escrava e os autores de crimes ambientais. Os que enriqueceram com tais práticas em Rondon decretaram a sua morte, pensando que com isso colocariam um fim na sua existência. Mataram o homem, mas suas ideias sobrevivem”, acrescentou dona Maria Joelma, sua viúva, escoltada noite e dia por soldados da Força Nacional. 

Situada a mais de 500 quilômetros da capital, Belém, a cidade virou símbolo da impunidade, onde os assassinatos se sucedem, cabendo às mulheres continuarem a luta dos maridos abatidos por pistoleiros a mando dos grandes latifundiários e madeireiros.

A manifestação de sábado foi precedida por uma plenária de mulheres trabalhadoras rurais na sexta-feira à tarde, na qual as lideranças fizeram um resgate da Marcha das Margaridas e de suas bandeiras, mobilização que levou cem mil mulheres a Brasília. “Comprometidas com a justiça no campo, estamos aqui para denunciar o avanço da violência contra a mulher no estado do Pará e no país. Se antes éramos 7% ameaçadas de morte, hoje somos mais de 20%. É preciso dar um basta neste ambiente de terror estabelecido pela grilagem, pelo agronegócio e pelas madeireiras, que vêm banalizando e naturalizando a violência e a devastação”, declarou Carmem Foro, que representou a executiva nacional da CUT no evento. 

O clima criado pela prefeita Cristina (PSDB) – filha de Josélio de Barros, dono da fazenda Texagaú, onde foi encontrado um cemitério clandestino com corpos dos trabalhadores rurais fatiados com dentes de motosserra – dispensa maiores comentários. Josélio chegou a ser preso, para sair logo depois pela porta da frente, e nunca mais voltar à prisão.

Com faixas e cartazes, os trabalhadores renovaram o compromisso com a memória e a história, entoando em coro: “Reforma agrária, já” e “Este é o nosso país, esta é a nossa bandeira, é pelo amor desta Pátria, Brasil, que a gente segue em fileira”. Caminhando a seu lado, entre olhares incrédulos de uma parte da população compreensivelmente aterrorizada, atores globais como Letícia Sabatela e Camila Pitanga, membros do Movimento Humanos Direitos, reforçaram o coro contra a impunidade. “Quanto mais matarem, mais o movimento vai crescer, porque matam um homem não sua causa. Chaplin dizia que a liberdade não morrerá enquanto um homem viver por ela”, destacou Osmar Prado.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alberto Broch, a mobilização de Rondon do Pará “coloca na agenda o novo modelo de desenvolvimento que queremos para o país, que será construído com o fortalecimento dos assentamentos”. Broch cobrou dos representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Instituto de Terras do Pará (Iterpa), mais investimentos em politicas públicas que garantam crédito para a produção e recursos para que ela seja transportada e não apodreça, a fim de assegurar alimento farto e barato na mesa do povo brasileiro.

SEM ESTRADA, SEM TRANSPORTE

O problema do escoamento da safra é mais do que angustiante, é trágico. E palpável. Na Feira da Agricultura, o Sindicato de Rondon disponibilizou pequenas bancas para que os assentados pudessem expor seus produtos à população a preços acessíveis e levantar algum dinheiro. Com a chuva do dia anterior, vários veículos atolaram, ficando no caminho montanhas de abóboras e melancias. Perdeu o produtor. Perdeu o consumidor.

Como lembrou a presidenta da CUT-Pará, Miriam Andrade, a ausência de políticas públicas tem inviabilizado os assentamentos, que podem e devem ser fonte de emprego, renda e cidadania. “Como é possível haver desenvolvimento sem estradas e pontes para escoar a produção, sem que o poder público se comprometa, minimamente, com a compra de um percentual da agricultura familiar para a merenda escolar?”, questionou.

A manifestação comandada pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, com apoio da CUT, Contag, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), aos poucos foi ganhando corpo, elevando o tom. Exigindo paz, liberdade e justiça no campo, o protesto lembrou nomes de alguns lutadores que tombaram vítimas dos latifundiários na região: João Canuto, Irmã Dorothy, Alfim Fagundes, José Cláudio e Maria do Espírito Santo. 

Entre a dor de tantas lembranças, naturalmente se sobressaiu a recordação de José Dutra da Costa, precursor do movimento na cidade. No dia 21 de novembro de 1990, três tiros ceifaram a vida do sindicalista. Dezinho orientava os companheiros a se somar com o Sindicato, a se organizar, a lutar pelo que era seu, a não abaixar a cabeça, a não se deixar ludibriar ou escravizar.  A postura altiva emperrava a engrenagem dos que comandam a economia e a política de Rondon - e de boa parte do Pará.

Dias antes de morrer Dezinho, Décio Barroso Nunes, o Delsão, apontado como o cabeça do consórcio da morte que ordenou o sentenciamento, advertiu o sindicalista de que ele não ia chegar vivo ao Natal.
Contratado para fazer o serviço, Pedro, um dos pistoleiros, foi convencido pelo irmão a não cometer o crime. Afinal, fora um dos tantos assentados beneficiados com a ação de Dezinho. “Sabendo que ao atender a súplica do irmão, estava marcado para morrer, Pedro entregou uma gravação onde Delsão é apontado como ‘o chefão’. Deixa com o irmão fotos da lagoa onde jogava os corpos dos trabalhadores rurais que assassinava a mando dos fazendeiros”, conta Joelma Costa Ferreira, uma das filhas de Dezinho. Logo depois, não foi apenas o arquivo vivo que foi queimado, também o fórum da cidade onde estavam guardadas as fitas cassete, entre outras provas. Ossadas foram levadas a Belém para averiguação e por lá ficaram. Sem respostas. 

Até agora, lembram os dirigentes do Sindicato, o pistoleiro Welington Silva é o único dos acusados da morte de Dezinho que foi julgado e condenado. “Quanto aos intermediários do crime, Ygoismar Mariano e Rogério Dias, mesmo com prisão preventiva decretada, a polícia do Pará nunca fez o menor esforço para prender. Domício Neto, o terceiro intermediário, passou poucos meses preso e foi posto em liberdade. O pistoleiro Welington, condenado a 29 anos de prisão, passou pouco mais de seis anos preso e fugiu da penitenciária de Belém, beneficiado por uma decisão judicial que o autorizou a passar o Natal em casa. Nunca mais voltou e a polícia não moveu uma palha para prendê-lo novamente”.

ASSASSINATO SOB ENCOMENDA

A identificação dos que encomendaram o assassinato de Dezinho só foi possível porque, mesmo ferido com três tiros, o sindicalista ainda conseguiu lutar com o pistoleiro, caindo sobre ele numa vala em frente à sua casa. Isso permitiu que os vizinhos capturassem Welington, com dona Maria Joelma impedindo que fosse linchado. 

Conforme Francisco de Assis, secretário de Formação e Organização da Fetagri-PA, “o principal acusado de ser o mandante do assassinato, o fazendeiro Delsão, é grileiro de uma área pública de 117 mil hectares, como comprovou a Polícia Federal e o Incra“. Ao lado de Lourival de Sousa, o Perrucha, após mais de uma década do crime, Delsão irá à júri popular no próximo ano em Belém. Com rios de dinheiro, seus advogados impetraram – e conseguiram -  um sem número de recursos no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF), adiando o julgamento – e a sentença.

De acordo com o Sindicato, após extraírem ilegalmente a madeira de maior valor, derrubarem a mata nativa para implantar pastagens para criação de gado, os “fazendeiros” da região passaram a estimular a produção de carvão vegetal para as grandes siderúrgicas, fundamentalmente. A lógica é a do trabalho precário e escravo, com abuso da superexploração e baixíssima remuneração, sonegação de impostos, descumprimento da legislação social e trabalhista, além de muita, muitíssima, degradação ambiental. Quem ousa divergir é convidado a se retirar da cidade, antes que tenha o seu corpo “encomendado”.

O deputado federal Beto Faro (PT) cobrou empenho das autoridades, “uma vez que não há confronto, pois o que ocorre aqui é um massacre, onde só morre gente de um lado”. “Queremos ver boi no campo, dendê no campo, mas também queremos ver gente no campo”, sublinhou Faro, acompanhado na manifestação por vários parlamentares da bancada estadual petista.

MANTO DE SILÊNCIO E TERROR

Delsão ou o “chefão”, conforme gravações do pistoleiro Pedro, que acabou morto por não ter entregue a “encomenda”, é conhecido pela postura mafiosa. Orelhas decepadas, gargantas cortadas, cabeças decapitadas, troncos serrados e outras barbaridades se fazem presentes na cidade como um manto de silêncio e terror. 

Diante da omissão do governo do Pará em garantir a segurança de Dezinho, quando ainda estava vivo e ameaçado de morte, e a demora da Justiça em punir os assassinos, sua família, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Justiça Global entraram com um processo na Organização dos Estados Americanos (OEA) contra o Estado brasileiro.

Processado pela OEA, o Estado brasileiro propôs um acordo. A família e as entidades apresentaram então aos governos e ao Judiciário um conjunto de propostas para suspender o processo. Entre elas o pagamento de indenização para a família de Dezinho, a construção de um centro de informática na Vila Galvão, a ampliação da sede do Sindicato – incluindo um centro de qualificação profissional para trabalhadores rurais e urbanos, a construção de poços artesianos nos Projetos de Assentamento Nova Vitória, José Dutra da Costa e Água Branca, e a retomada de terras públicas no município para o assentamento de famílias sem terras.

O acordo previa ainda a obrigação do governo do Pará e do governo federal em construir um memorial em homenagem a Dezinho e, que, em sua inauguração, teriam que fazer um pedido de desculpa formal aos seus familiares.

Em nome do governo brasileiro, Maria Ivonete Barbosa Tamboril, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, fez um caloroso pronunciamento no encerramento do evento de sábado, na Praça da Paz, onde, além da desculpa formal, sublinhou a importância de orquestrar ações conjuntas no âmbito federal para acabar com a impunidade. Um pouco antes, em nome da superintendência do Incra, Ruberval Lopes da Silva havia anunciado a liberação de cerca de dois milhões de reais em linhas de crédito para os assentamentos e a construção de moradias. O coordenador regional do Programa Terra Legal, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Castanheira Alves, anunciou a varredura nas glebas públicas ao lado do Ministério Público Federal, além da liberação dos Contratos de Concessão de Uso (CCU), documentos que dão segurança jurídica aos assentados – por meio do título provisório de posse - e estabelecem obrigações.

Em contrapartida, um representante do governo estadual caiu no ridículo ao declarar do alto do palanque – de onde escafedeu-se rapidamente – que a família de Dezinho receberia insignificantes R$ 40 mil como “indenização”, além de R$ 765,00 mensais como pensão vitalícia. E que o Memorial do líder assassinado seria erguido em Marabá, a cerca de 130 quilômetros de Rondon, quem sabe para não importunar os próceres tucanos locais, bastante vinculados ao rastro de sangue.

“A mobilização coroou anos de uma luta que garantiu o reconhecimento dos assentamentos, onde vivem, plantam e produzem cerca de 800 famílias. A palavra de ordem é avançar, ampliando a pressão por mais direitos e conquistas. Infelizmente, o governo do PSDB continua na contramão, tanto na cidade, onde não investe na agricultura familiar, como no Estado, onde continua acobertando práticas criminosas contra os trabalhadores rurais e os movimentos sociais”, concluiu Carmem Foro, enfatizando que a CUT e a Contag continuarão na linha de frente da luta por justiça.

sábado, 19 de novembro de 2011

PF abre investigação para apurar crimes da múlti Chevron/Texaco


Por Carlos Lopes, no Hora do Povo

Vazamento de petróleo na Bacia de Campos é de 3.738 barris por dia e se estende por 2.379 km2 

Na quarta-feira, a Polícia Federal abriu inquérito para apurar as atividades da Chevron no campo petrolífero de Frade, que redundaram num vazamento até agora envolto em subterfúgios – e mentiras.

Logo à primeira inspeção, o delegado Fábio Scliar, da Delegacia de Meio Ambiente, relatou que “técnicos da PF encontraram divergências sobre o que foi informado pela Chevron sobre o vazamento. Entre elas estão a quantidade de navios que recolhem o óleo no local (a empresa afirmou que são 17 e a PF encontrou apenas um), o tempo para a selagem do poço e o tamanho da mancha de óleo”.

A plataforma Sedco 706 pertence à Transocean, que alugou à British Petroleum (BP) a Deepwater Horizon, que explodiu no Golfo do México, causando a pior catástrofe ecológica da história dos EUA.

O petróleo no Campo de Frade foi descoberto em 1986 pela Petrobrás. Em 1999, no governo Fernando Henrique, foi transferido para a Texaco, hoje parte da Chevron.

A Chevron é a Standard Oil of California, a segunda maior companhia petrolífera dos Rockefellers (logo após a Exxon). Não é conhecida particularmente pela competência (o rol dos seus delitos por imperícia, negligência e ganância é dos maiores do mundo). Mas tem dinheiro suficiente para comprar a acurada opinião de jornais, TVs, escribas de aluguel, ecologistas de araque, e algumas autoridades – além das que nem precisam de dinheiro à vista para se curvar a uma multinacional.

Desde que o vazamento se tornou público, explodiram dois escândalos - e, realmente, não sabemos qual o maior e pior: se um vazamento irresponsável em que escasseiam informações e abundam mentiras, ou se o vergonhoso “noticiário” da mídia colonizada, a mesma que está sempre disposta a atacar a Petrobrás, sobretudo pelos seus sucessos, e que agora é uma veiculadora dos press-releases da Chevron - quando não vai além deles, na bajulação de uma das mais vorazes “sete irmãs”.

Além do colaboracionismo aberto da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e do Ibama com essa urtiga viscosa do decadente monopolismo norte-americano. Acrescentemos, ainda, o silêncio denunciador de ongs pseudo-ambientais, ecologistas de fancaria, marinas da vida e outras pessoas amargas.

A maior parte (quase tudo) que foi apurado sobre o vazamento, deve-se ao jornalista Fernando Brito, que edita o blog do deputado Brizola Neto (PDT-RJ). Aqui, citaremos amplamente os fatos descobertos por este jornalista. Rememoremos, então, os acontecimentos.

Na quarta-feira, dia 9, a Federação dos Petroleiros do Norte-Fluminense denunciou um vazamento no Campo de Frade. A Chevron nada comunicara ao governo brasileiro ou ao público.

No dia seguinte, quinta-feira, dia 10, a Agência Estado publicou uma nota: “’O vazamento se deve a uma rachadura no solo do oceano. É um fenômeno natural’, disse Heloisa Marcondes, porta-voz da Chevron Brasil. ‘Nós estamos mobilizando todo nosso pessoal’ para conter o vazamento”.

Segundo a Chevron, o petróleo começara a vazar “naturalmente”. Um fenômeno tão natural que, segundo sua funcionária, a Chevron estava “mobilizando todo nosso pessoal” para corrigir a natureza.

A mancha de petróleo no mar foi registrada por um satélite artificial ao meio-dia da quarta-feira, dia 9 – portanto, o vazamento começou, no mínimo, 24 h antes, na terça-feira, dia 8. Apesar disso, seis dias depois, a mídia insistia em que o vazamento começou na quinta-feira, porque só foi nesse dia, dois dias depois, que a Chevron admitiu no Brasil o vazamento. Além de atribuí-lo a um “fenômeno natural”, a Chevron falsificou a localização, apontando-a “entre o campo de Frade e o de Roncador” (este último é operado pela Petrobrás).

No entanto, o Ibama, no dia 16, emitiu nota destacando que “a empresa responsável pela perfuração em nenhum momento sonegou informações aos órgãos ambientais” (grifo nosso). Se isso fosse verdade, a direção do Ibama teria que ser demitida por esconder do país a informação que recebeu.

A mesma nota diz que o Ibama só vai “mensurar o dano ambiental ao final dos trabalhos”, isto é, “assim que o vazamento for estancado”. Trata-se de um privilégio que nem a BP teve do frouxíssimo governo Obama. Mas, sobretudo, é uma restrição ao direito dos brasileiros de saber o que está acontecendo. Para que serve o Ibama? Só para bloquear obras fundamentais para o país porque havia uma bagre dourada nadando num rio da Amazônia ou um passarinho com sede no rio São Francisco?

Porém, continuemos.

A ANP saiu imediatamente em defesa da Chevron. Sua maior façanha foi divulgar que o vazamento era de, no máximo, apenas 330 barris/dia (cada barril tem cerca de 159 litros), enquanto a própria Chevron afirmava que era de 400 a 650 barris por dia, e, posteriormente, de 800 barris por dia.

A Chevron sabia da existência de uma falha geológica na área – ela mesma se referiu a isso em relatório ao Ibama. Também sabia que o petróleo, na bacia sedimentar, estava a 3 mil metros de perfuração, onde a Petrobrás o achou. No entanto, alugou uma sonda com capacidade de perfurar até 7.600 metros. É provável que, sem experiência nem tecnologia para isso, quisesse chegar ao petróleo da camada pré-sal – o que não é ilegal (infelizmente), mas a Chevron devia ter razões para fazê-lo ocultamente: divulgara amplamente que, no Campo de Frade, extrairia petróleo pesado – isto é, da bacia sedimentar, não do pré-sal – para exportá-lo (cf. Revista TN Petróleo, nº 66).

Por que estava tentando fazer isso às ocultas? Exatamente por sua falta de condições tecnológicas ou de segurança para fazê-lo. O que aponta para isso são dois fatos: 1) o preço que pagava pelo aluguel da sonda (US$ 315 mil/dia) é muito abaixo do aluguel das sondas mais modernas; 2) a plataforma Sedco 706 é uma velharia com 35 anos de idade, já aposentada no Mar do Norte, onde era utilizada como alojamento para trabalhadores, e não mais para perfurar – conforme matéria de 2008 do “The Wall Street Journal”.

No entanto, com essa sucata, a Chevron estava perfurando três poços ao mesmo tempo. Como diz Fernando Brito:

“... a Chevron-Texaco, para fazer economia, está fazendo perfurações ‘de batelada’. Isto é, cava uma seção de um poço, tampa, cava a seção inicial de outro, faz o mesmo e vai para um terceiro, para voltar, na mesma sequência, para cada fase posterior de perfuração. (…) nos mapas da ANP não encontramos nenhuma outra petroleira que use este método. (…) são atribuídas quatro perfurações à Sedco 706, uma concluída e três em andamento simultâneo, segundo dados do dia 3 de novembro passado”.

O resultado desse afobamento esganado, combinado com o atraso tecnológico, numa área com uma falha geológica, foi desastroso. Depois, a mentira.

A Chevron afirmou no dia 14 que a mancha no mar tinha 163 quilômetros quadrados. A pedido do deputado Brizola Neto, o geógrafo John Amos, cujo site, Skytruth, é especializado em fotografias por satélite, avaliou várias imagens. Eis as suas conclusões:

“A imagem de satélite MODIS/Aqua da NASA foi tirada há três dias [12/11]. Ela mostra uma mancha de óleo (…) que se estende por 2.379 quilômetros quadrados (…) um volume de 628 mil galões (14.954 barris) de petróleo. Supondo que o vazamento começou ao meio-dia em 8 de novembro (...), estimamos uma taxa de vazamento de pelo menos 157 mil galões (3.738 barris) por dia. Isso é mais de 10 vezes maior do que a estimativa da Chevron de 330 barris por dia”.

A estimativa de 330 barris/dia é da ANP. Mas isso somente quer dizer que o vazamento é seis vezes maior do que declarou a Chevron – e, claro, 10 vezes maior do que a ridícula ANP quis fazer crer.

Só na última terça-feira, a ANP divulgou que tinha realizado uma reunião sobre o vazamento e enviado uma diretora para uma ignota Sala de Emergência da Chevron.

A diretora, Magda Chambriard, é aquela que, no dia 4 de outubro, na Offshore Technology Conference (OTC), prometeu leiloar o pré-sal às multinacionais (HP, 07/10/2011).

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Mandela, o exemplo de Kadafi e as falsificações midiotas



Muamar Kadafi: "A vida sem liberdade não é nada"

Frente à repulsa e à consternação causadas pelo bárbaro assassinato do líder líbio Muamar Kadafi, as agências desinformativas a serviço do imperialismo voltam a projetar sobre o herói as suas taras, deformações e perversidades, na tentativa de justificar o repugnante crime cometido.

Seguindo à risca o manual da CIA de satanização de lideranças anti-imperialistas, a mídia reproduz que Kadafi – o líder que, reconhecidamente, estimulou e garantiu uma ampla participação feminina na vida pública – tinha prazer em se utilizar de escravas sexuais. 

Vale lembrar que os mesmos meios de comunicação que reproduzem à exaustão imbecilidades deste porte são os mesmos que fingem desconhecer depoimentos claros e incisivos, como o de Nelson Mandela, em defesa da personalidade e da humanidade do líder líbio.

“Kadafi é o guia de todos nós. Nenhum dirigente africano nunca terá sua estatura, sua aura e sua capacidade. É um construtor. Quando vejo o que este homem fez de seu país, apesar das tormentas ocidentais disfarçadas de mísseis que têm matado crianças. Ele nunca abandonou o país, não teve medo. Este homem é seguramente um homem de Deus. É preciso ser íntimo de Deus para ter esta força. Fez da Líbia um país próspero, não endividado e que investiu nas economias da África negra”. Palavras de Mandela que nenhum mar de tinta jamais conseguirá apagar.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Manifestantes derrotam repressão e reocupam Wall Street



Diante da tomada do centro financeiro do império por estudantes, sindicalistas, organizações comunitárias e sociais - manifestantes do “Ocupa Wall Street” - que reivindicam o fim do privilégio aos bancos e um basta na imensa concentração de riqueza, o governo dos Estados Unidos trocou George Washington por Washington Luiz, tratando o grave problema social como caso de polícia.

A violência da repressão, com a utilização de centenas de policiais, helicópteros, caminhões, balas, bombas e nuvens de gás lacrimogêneo, multiplicou o número de presos e feridos graves em Nova Iorque e em algumas das 100 principais cidades por onde o protesto, que já dura dois meses, se espraia. A agressão e o sangue derramado provocaram um tsunami de solidariedade ao movimento, ridicularizando as cínicas pregações de Barack Obama e Hillary Clinton sobre “democracia” e “direitos humanos”. 

A evacuação do acampamento ocorreu no meio da noite com tropas amparadas por holofotes de helicópteros e imensos faróis em caminhões para cegar com jatos de luz, somada a uma camioneta com ensurdecedores “canhões de som”. Os policiais ganharam carta branca para atuar com a segurança da impunidade – diante do brutal impedimento a qualquer cobertura da imprensa. Foram confirmadas várias prisões de jornalistas, incluindo dois da AP (Associated Press), um do Daily News e um blogueiro do New York Times, além do vereador Ydanis Rodriguez. Tais ingredientes turbinaram a reação à ditadura do capital financeiro.

A reprovação popular vai além das duras críticas ao desastre político-econômico que isenta impostos dos ricaços em meio à escalada do desemprego – que atinge 25 milhões de pessoas - e ao alastramento da miserabilidade que atinge 49 milhões de norte-americanos. Os protestos aumentam de tom, indo à própria raiz antidemocrática de um sistema “caduco” que, privilegiando 1%, dá às costas aos 99%.

Como expressou um manifestante expulso por policiais da Praça Liberdade, em Nova Iorque, durante a madrugada: “Não podem desalojar uma ideia cujo momento chegou”. Outra mensagem postada nas redes sociais ironizava o fato da polícia ter ocupado a praça: “Só esperamos entender quais são as suas demandas”. A crítica é uma alusão ao argumento corriqueiramente utilizado pelos meios de comunicação a serviço dos especuladores, de que falta ao movimento Ocupa uma plataforma. É assim que a mesma mídia que invisibilizou as reivindicações durante as primeiras três semanas - e que agora desinforma sobre os seus pleitos – tem pautado as suas coberturas.

Em Nova Iorque, a ordem de expulsão ocorreu a uma da manhã, quando foi dado aos manifestantes apenas dez minutos para deixar o local, sob pena de prisão. A biblioteca de cinco mil livros foi completamente desmantelada e virou escombros, assim como a cozinha que oferecia comida grátis, a clínica que atendia a todos, o centro de comunicação e, logicamente, as barracas onde pernoitavam cerca de 200 pessoas. No total, 146 manifestantes da praça e outros 24 que haviam ocupado um pequeno parque – que se negaram a abandonar o local - foram cercados, algemados e presos, um a um, e jogados ao chão sob as botas dos policiais.

Contatadas via celular e internet, centenas de pessoas que se deslocaram em solidariedade aos acampados no meio da noite foram impedidas de chegar ao local e mantidas distantes pela truculência policial. “Como podem dormir à noite fazendo isso?”, “Desobedeça as ordens, tu também és dos 99%”, “Isto não é o fim de nada, é o início de algo novo”, foram algumas das conclamações e questionamentos lançadas pelos populares que conseguiram chegar até o local, apesar do fechamento das estações de metrô e demais meios de transporte durante horas. Um indignado veterano de guerra disparou: “Eu dei sangue e partes do corpo por este país para isso?”
Ao anoitecer de terça-feira uma decisão judicial manteve a proibição do acampamento, impedindo os manifestantes de levar barracas ou comidas à praça. Determinados, os “indignados” não arredaram pé e reocuparam, erguendo a voz: “Todo o dia, toda a semana, ocupa Wall Street”.

Ditadura ianque espanca manifestantes em Nova Iorque e em mais outras cinco cidades



Numa agressão meticulosamente articulada entre governos, polícia e conglomerados de mídia, tropas de choque montadas a cavalo não economizaram bombas nem cassetetes para desalojar milhares de manifestantes do “Occupy Wall Street” acampados nas principais praças de cidades norte-americanas em vários estados, em protesto contra a absurda concentração de riqueza e o desmedido “socorro” financeiro dado pelo governo aos banqueiros.
Conforme os ativistas, que reivindicam “empregos, não cortes nas áreas sociais”, a repressão - desatada com mais violência a partir do último sábado (12) - prendeu pelo menos uma centena de manifestantes e deixou um rastro de sangue, com vários feridos graves.

PARQUE ZUCCOTTI

Na madrugada da terça-feira (15), policiais começaram operação para expulsar os manifestantes do Parque Zuccotti, no distrito financeiro de Nova York, onde eles estavam acampados desde 17 de setembro. Pelo menos 70 pessoas foram detidas. Muitas delas estavam acorrentadas umas às outras numa tentativa de resistir à retirada.

O pretexto alegado pelas autoridades para a expulsão é que “a ocupação era um risco à saúde e à segurança públicas”.

Dezenas de policiais cercaram o parque, que foi iluminado com spots, e mantiveram a população à distância. Muitas pessoas acorreram ao local em solidariedade aos manifestantes.

Na segunda-feira (14), numa operação de guerra que envolveu até helicóptero, policiais arrasaram – literalmente - o acampamento de Oakland, na Califórnia, desmontando mais de cem barracas, prendendo e espancando duramente seus ocupantes, enquanto uma multidão de simpatizantes entoava em coro: “Vergonha!”.

Antes de entrar em ação, a tropa de choque havia montado uma cerca provisória em torno da praça, na tentativa de manter tangidos os mais de 200 manifestantes. Durante estes dias o porto da cidade também foi fechado temporariamente em protesto diante do descomunal favorecimento ao sistema financeiro, num momento em que o desemprego aumenta e programas sociais são reduzidos.

Antecipando-se às bombas da polícia, os jornais de Oakland publicaram na mesma segunda-feira um texto justificando a pretensa legalidade da ação, já que a tropa estaria apenas cumprindo uma ordem judicial emitida na sexta-feira. Claramente intimidatório, dizia que “o município não podia garantir a saúde pública adequada e a segurança na praça” ocupada pelos manifestantes.

Os acampamentos de Salt Lake City (Utah), o de Denver (Colorado), os de Saint Louis (Missouri) e o de Portland (Oregon) também foram alvos da sangrenta repressão. Após ter resistido heroicamente a uma primeira investida dos fascistas, o acampamento de Oregon, devastado por bombas e cassetetes, foi reduzido a entulho.

Até mesmo uma manifestação de solidariedade estudantil ao Ocupem Wall Street, organizada no campus de Berkley (Califórnia), foi violentamente reprimida pelo simples temor de que o movimento esteja movendo suas bases das praças públicas aos centros universitários. Um medo, aliás, plenamente justificável.

Na Universidade de Berkley, a assembleia de estudantes rejeitou o ultimato para que não fosse montado um acampamento denominado Occupy Cal (Ocupemos Califórnia). A ação policial foi tão desproporcional que até mesmo os canais de televisão mais reacionários foram obrigados a mostrar imagens da polícia arrastando os manifestantes para fora do campus e os espancando com cassetadas, enquanto os jovens resistiam e puxavam palavras de ordem como “Somos 99%” e “parem de agredir os estudantes”.

Apesar da repressão, as manifestações continuam.