Afirmou
Iván González, coordenador político da Confederação Sindical das Américas
(CSA), entidade que representa mais de 50 milhões de trabalhadores de 53
organizações nacionais de 23 países. Na avaliação do dirigente, o problema mais
sério neste momento “é a pouca capacidade do governo venezuelano de enfrentar a
intensa campanha midiática que continua sendo fonte permanente de desinformação”.
Leonardo Wexell Severo
Qual a sua avaliação da situação atual da Venezuela?
Desde o
início, o governo do presidente Nicolás Maduro teve uma postura clara de
abordar e enfrentar os problemas. Assim que começou a violência, incitada por
setores mais radicais da oposição, ele propôs uma agenda que já vinha sendo
construída e estava na sua pauta, desmontando o discurso de “desabastecimento e
insegurança”. Desta forma, no momento em que esse setor oposicionista se lança
à “guarimba” [bloqueio violento de vias com agressões], fica evidente que esta
não era uma demanda da sociedade, mas uma ação orquestrada, desestabilizadora,
de caráter abertamente golpista.
De onde partiram esses ataques?
Os focos
mais violentos – e alguns ainda persistem - se concentraram justamente nos
municípios controlados pela oposição nas regiões mais ricas, com a cumplicidade
ou envolvimento direto das autoridades locais. Este é o caso, entre outros, de
San Cristóbal, no estado Táchira, fronteira com a Colômbia, onde o prefeito
teve plena e comprovada participação nos crimes, e por isso mesmo está preso.
Aí também houve o envolvimento de paramilitares colombianos.
Quem acompanha as notícias pelas agências internacionais vê um país à
beira do colapso econômico e social. O que está acontecendo?
A
realidade é que o nosso país, pois sou venezuelano, nunca foi paralisado, como
tentaram nos fazer crer. A atividade econômica sempre se manteve. Salvo nas
regiões das quais falei, a vida seguiu seu rumo. A população nunca respaldou a
violência. Mesmo opositores que inicialmente participaram de algumas
manifestações pacíficas de protesto, abandonaram as ruas quando elas mudaram de
conotação.
Em que pé se encontram as negociações de paz?
Desde o
primeiro momento o presidente Maduro propôs a realização de uma Conferência
Nacional de Paz, convocando a participação de todos os setores oposicionistas,
os empresários, a Igreja, reconhecendo os problemas do governo. Só quatro
semanas depois, a oposição formal, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), se
somou à iniciativa. Com isso o governo isolou o setor mais agressivo, liderado
por Corina Machado, fortalecendo a autoridade do presidente, o respeito à
Constituição e a condenação à violência.
A democracia sai mais fortalecida?
O governo
está muito mais firme. Ampliou sua base, enriqueceu suas propostas com a
contribuição de outras entidades e reforçou o compromisso com uma agenda mais
inclusiva, particularmente com o setor produtivo, reforçando os acordos com a
oposição democrática. Há uma agenda comum de enfrentamento à violência e à
insegurança, de renovação de uma parte dos magistrados do Tribunal Superior de
Justiça e do Conselho Nacional Eleitoral, que serão eleitos por ¾ do Congresso
Nacional, como estabelecido na Constituição, com a participação da oposição.
Qual o papel da Unasul para o avanço do diálogo?
A Unasul
teve um papel fundamental no estabelecimento do diálogo, garantindo o respeito
às instituições democráticas e à soberania do país, afastando as tentativas dos
golpistas de isolar a Venezuela.
Em que pé estão os problemas econômicos ainda existentes?
Há
gargalos como a administração de divisas para a importação, que é uma fonte
constante de especulação e de ataques econômicos. O governo estabeleceu
mecanismos mais transparentes, acordados com os setores produtivos, o que vem
garantindo um maior acesso a divisas, com o dólar mais barato. O objetivo é
fazer com que, no médio prazo, a inflação seja reduzida.
Qual o maior obstáculo a ser superado neste momento?
Acredito
que o problema mais sério é a pouca capacidade do governo venezuelano de
enfrentar a intensa campanha midiática que continua sendo fonte permanente de
desinformação. Quem avalia a Venezuela pelas agências de notícias vê um país
mergulhado no caos, onde falta tudo, com policiais que atiram em jovens
desarmados e um governo reprimindo a torto e a direito quem se manifesta
pacificamente. Não dizem nada sobre o fato de que mais de metade dos cerca de
40 mortos foi fruto da ação desta oposição violenta, não da polícia
bolivariana, que foi vítima de agressões. É preciso esclarecer, porque senão
fica parecendo o que não é.
A quem serve esta campanha orquestrada contra a Venezuela?
Aos
setores mais reacionários e belicosos da administração dos Estados Unidos. São
eles que ficam instigando a oposição e criando um clima para defender sanções
contra a soberania e a democracia na Venezuela. Para isso distorcem os fatos e
não reconhecem qualquer avanço nos diálogos que vêm ocorrendo. Não reconhecem
nem mesmo os setores de oposição que sentaram para negociar. Por outro lado,
com as manipulações da mídia, estimulam e dão visibilidade aos atores mais
violentos, que não querem negociação, mas defendem abertamente a deposição do
governo.