Pensatempo: 2013

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Herói judeu e ministro de Mandela defende o “fim do apartheid de Israel”

28/11/2012

Ronnie Kasrils denuncia que “política de terrorismo de Estado de Israel é ainda pior do que a dos racistas sul-africanos”


Ronnie Kasrils, veterano combatente anti-apartheid
Em seu “Livro das perguntas”, Pablo Neruda indaga: “Por que as árvores escondem o esplendor de suas raízes?”. E como se respondesse à inquietação do poeta chileno e ignorasse a minha pergunta, Ronnie Kasrils, sul-africano de pais judeus de origem russa, nascido em Joanesburgo, veterano militante da causa antiapartheid e ex-ministro de Nelson Mandela, iniciou a entrevista exclusiva mostrando o longo caminho percorrido até o Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre. Da mãe, “doce, solidária e humanista”, aprendeu que a segregação a que os negros eram submetidos na África do Sul, com suas mais variadas formas de abuso e violência, “era o mesmo tipo de veneno imposto aos judeus na Europa”. Seu pai, um caixeiro viajante, vendedor de balas e doces para as segregadas e miseráveis comunidades negras, logo se converteria numa das principais lideranças sindicais da África do Sul. Desta combinação surgiu a indignação e o desejo da mudança. Daí até a militância clandestina, estimulado por uma prima comunista, foi um passo. A pele branca caiu como uma luva para as necessidades do movimento antiapartheid, até que foi banido de falar em público, de ir às fábricas, de reunir-se com mais de três pessoas e, finalmente, ficar desempregado. “A partir de então os racistas me deixaram com todo o tempo livre para me dedicar à luta contra o apartheid sul-africano”. Por sua luta, Ronnie Kasrils foi reconhecido como “herói judeu”, título cassado após ter se pronunciado “contra o apartheid de Israel”. Dirigente do Congresso Nacional Africano (ANC), Ronnie esteve reunido com Che Guevara, participou ativamente ao lado de vários combatentes pela libertação do Continente, como Agostinho Neto, de Angola, e Samora Machel, de Moçambique, e foi ministro de Nelson Mandela. “A política de terrorismo de Estado de Israel é ainda pior do que a do apartheid sul-africano, pois o regime de segregação racial não cercava os bantustões – locais onde os negros eram concentrados e apartados da sociedade branca -  nem os bombardeava com mísseis. Israel ergue muros e pratica crimes diariamente, covardemente, sem trégua, contra idosos, mulheres e crianças. Como disse certa vez um comandante militar israelense ao ver as barbaridades praticadas contra a aldeia de Deir Yassim, Israel está repetindo os nazistas”.
No auditório da Fecosul, Ronnie debaterá na próxima sexta-feira (30) sobre a Luta Palestina Anti-Apartheid – desafios, modelos e estratégias para a paz justa.
Abaixo, a íntegra da entrevista, que contou com a colaboração de Leonardo Vieira.

Como foi a sua participação na luta contra o apartheid na África do Sul?

A luta política contra o apartheid era pela não-violência, até que em março de 1960 um protesto pacífico em frente a uma delegacia de polícia foi banhado em sangue. O massacre deixou 69 mortos e representou um divisor de águas. Diante da brutal violência e repressão, discutimos que não havia outro caminho se não a resistência armada. Mandela me indicou como membro do comando de Durban e iniciamos ações que tinham como alvo os símbolos do apartheid, como os “Escritórios de classificação” onde os negros eram catalogados.

Catalogados de que forma?

Os racistas tinham 14 classificações diferentes para distinguir a inferioridade das raças. Iniciava pelo europeu e ia até o bantu, o mais negro de todos. Se uma pessoa dissesse que era branca eles olhavam as unhas, os dentes, como os nazistas faziam. Se um imigrante viesse do Líbano, devido à colonização europeia, era classificado como branco, se viesse da Síria era colorido. Atacávamos estes escritórios de classificação com uma regra: nunca matar ninguém. O objetivo era colocar abaixo os símbolos da opressão e do racismo. Isso inspirou muita gente a lutar e serviu como alerta ao regime de que era preciso mudar.

Foi um longo período de resistência até a realização das eleições e a vitória de Mandela em 1994.

Foram décadas de muita luta, pois os racistas não estavam dispostos a ceder. A repressão se desatou forte, com muitos militantes presos, torturados até a morte ou exilados. Neste período contamos com grande solidariedade de Angola e Moçambique para reconstruir nossa rede clandestina, que era então a única forma possível de luta.

Quais foram os pilares desta reconstrução?

Foram quatro pilares. O primeiro foi o motor da luta política, o povo como força que lidera o processo, com o sindicalismo à frente, com atuação destacada de jovens, mulheres e grupos culturais. O segundo pilar foi a montagem da rede clandestina, desde a propaganda, com a entrega de panfletos, até a infraestrutura para os combatentes. O terceiro foi a ação armada, com referência na atuação de Mao Tsé-Tung e de Che Guevara. O quarto foi a solidariedade internacional.

E a reunião com Che Guevara?

Eu me encontrei com Che em Dar-es Salaam, na Tanzânia, numa reunião em que também estavam Agostinho Neto, de Angola, e Samora Machel, de Moçambique. A concepção do Che e dos cubanos era bolivariana, de todos os líderes assumirem o internacionalismo da causa e contribuírem para a libertação de cada país como se fosse o seu próprio. Era esta a sua pregação e foi este o seu compromisso até o fim.

Fazendo um paralelo com o momento da derrubada do apartheid na África do Sul, como vês o papel da solidariedade internacional contra a política de terrorismo de Estado e segregação levada a cabo pelo governo de Israel?

O movimento antiapartheid nos deu um tremendo apoio e impulso em vários momentos em que a situação interna estava extremamente complicada. Foi uma contribuição inestimável para enfraquecer e isolar os racistas, pois unia gente de todas as origens e classes. Vale lembrar que era um Estado muito poderoso, com mais de cinco milhões de brancos. Nenhuma colônia teve tantos brancos, com raízes no país há muitos anos, grande exército, economia industrial com abundantes recursos minerais. E os Estados Unidos e a Europa como defensores, com Ronald Reagan e Margaret Thatcher à frente. Ao mesmo tempo, os negros eram submetidos à pobreza mais abjeta, à ignorância profunda, com o regime estimulando a divisão por tribos para melhor manipular. Se você fosse mestiço ou indiano já era capataz, era assim que funcionava. Diante deste quadro interno, a solidariedade trazia esperança.

Neste momento, a adoção de uma política de boicote, desinvestimento e sanções não seria um caminho natural para chamar o governo israelense à razão?

Acredito na efetividade do boicote quando ele chega no bolso, pois é onde dói, ajudando as pessoas a abrirem os olhos e potencializar a resolução desta situação insustentável. Com o boicote e as sanções, os acadêmicos israelenses que se sentem naturalmente orgulhosos de suas conquistas repensarão o alto preço pago pelos palestinos. Se houver boicote de armas e sanções militares, estará minada a capacidade de agressão de Israel.

Conte um pouco da sua trajetória.

Eu tive de sair da África do Sul em 1963. Tive treinamento militar na União Soviética e em Cuba. Passei pela Tanzânia, Londres, Angola e Moçambique como chefe do braço armado do Congresso Nacional Africano até 1990. Fui ministro de Defesa Adjunto de Mandela até 1994, ministro de Águas e Florestamento em 1999, ministro da Segurança em 2004 até 2008, quando saí do governo. Sempre fui muito incisivo contra a agressão israelense, ainda mais por ser descendente de judeus, e me tornei um alvo para Israel e para os sionistas. Visitei oficialmente a Cisjordânia e a Faixa de Gaza onde pude ver o quão absurda é a manutenção deste criminoso regime de segregação.

O que sentiste ao visitar os territórios ocupados por Israel?

Tanto em Gaza quanto na Cisjordânia senti uma espécie de dejà   vu, era como se estivesse de volta ao regime de apartheid. Na verdade, o que é feito contra os palestinos é ainda pior do que o apartheid sul-africano. Porque por mais brutal que fosse o regime, na África do Sul não se bombardeavam os bantustões, nunca houve o uso de helicópteros, mísseis e tanques. Nas operações, os racistas quebravam portas, prendiam, torturavam, mas isso durava duas semanas, nunca indefinidamente, como acontece na Palestina. Estive em 2004 com Yasser Arafat na sede da presidência da Autoridade Nacional Palestina (ANP) em Ramalah e ele me disse “não está vendo o meu bantustão?” Eu respondi que aquilo não era um bantustão e todos me olharam assombrados, como seu eu tivesse relativizando a gravidade da situação. Mas logo eu respondi que o local era pior do que um bantustão, porque eles nunca foram bombardeados nem nunca houve muros ao seu redor.

Uma segregação sem limites.

Qualquer ser humano de bom senso se sente extremamente chocado com tamanha selvageria. A situação é ainda mais impressionante quando tais crimes são reproduzidos por pessoas descendentes dos que sofreram o holocausto. Minha mãe, sempre muito doce, me ensinou os valores da vida e diante do que via sendo feito com os negros sul-africanos dizia que as pessoas, quando são submetidas a uma lavagem cerebral, se tornavam nazistas. Quando viu as crianças palestinas assassinadas na aldeia de Deir Yassin, em 1948, Cizling, um chefe israelense, disse: “Agora nos comportamos como nazistas”. É inadmissível que alguém com origem judaica perverta desta forma os ideais humanistas e passe a agir como monstro, praticando punições coletivas.

De que forma o Fórum pode contribuir para colocar um ponto final nesta sucessão de crimes?

O Fórum Social Mundial Palestina Livre tem um significado histórico de mobilização da sociedade, principalmente neste momento em que cresce a pressão internacional para que a ONU reconheça o Estado palestino como membro pleno. O fato de que esta solidariedade internacional seja um movimento pacífico mostra o seu intenso valor moral. O fim do apartheid de Israel contra os palestinos vai beneficiar não só os israelenses, mas também os judeus pelo mundo afora, a exemplo do que ocorreu quando caiu o regime de segregação na África do Sul. Muito diferente de representar uma ameaça, o fim do apartheid liberou os sul-africanos do peso das correntes de uma histeria militar e conquistou uma harmonia para toda a África, com progresso e segurança para todos. Tamanhos benefícios só podem vir com uma solução justa. Vale lembrar que na era dourada do Islã e do judaísmo houve uma convivência harmoniosa, de elevada solidariedade.

Da mesma forma que Estados Unidos, Inglaterra e Israel se alinhavam na ONU para blindar o regime de apartheid da África do Sul, hoje os EUA e a Europa Ocidental se empenham na defesa dos crimes do Estado de Israel. Qual a sua leitura sobre isso?

O interesse econômico e geopolítico explica as razões de tamanho apoio dos EUA e dos países da Europa Ocidental, mas os israelenses têm de repensar essa dependência total, porque o mundo está mudando. Israel é muito pequena dentro de um mundo árabe enorme. Será melhor para todos que o governo de Israel saia deste jogo perigoso e busque uma convivência harmoniosa com a região.

Começou a contagem regressiva para o final do apartheid de Israel?


Atualmente converso com ministros do tempo do apartheid na África do Sul e pergunto: o que te fez mudar? E um ministro muito importante me respondeu que havia sido quando o banco Barclay, da Inglaterra, anunciou que iria sair do país. Então, disse ele, é o fim pra mim, não tem mais jeito. O início do fim ocorreu portanto quando o banco do colonialismo inglês, sofrendo as intensas pressões internas, com as mobilizações, e internacionais, com a onda de solidariedade, após 200 anos, deixou o país. Isso ajudou a mudar a corrente de opinião.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Observadores internacionais denunciam: “fraude eleitoral foi institucionalizada em Honduras”

 
 
“A fraude eleitoral foi institucionalizada em Honduras”, denuncia manifesto da Via Campesina, cujos observadores internacionais se mantiveram ativos em aproximadamente 400 mesas eleitorais do país no último domingo (24).
Entre outros crimes, os observadores puderam comprovar “compra de votos, tentativas de suborno, cédulas pré-marcadas, violação ao voto secreto e emissão de dados antecipados por parte do Tribunal Superior Eleitoral em base a urnas ainda não contabilizadas”, além de diversas ações de “pressão e violência mediante ameaças e agressões, que se fizeram ainda mais graves na área rural”.
 
Conforme o Partido Livre (Liberdade e Refundação), de Xiomara Castro, os resultados parciais divulgados com estardalhaço pelo TSE, e repercutidos pelos grandes conglomerados de comunicação como a antessala da eleição do candidato do Partido (ANTI)Nacional e da embaixada americana, Juan Orlando Hernández,
Soldados encapuzados en Rigores, Honduras
ocultavam um grande percentual de urnas contrárias ao governo. Mais exatamente 1.900 atas ou o equivalente a 400 mil votos de regiões favoráveis a Xiomara.
 
A Missão Sindical Internacional de Observação Eleitoral, organizada pela Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA), se fez presente na capital e no interior do país, e também alertou para as “graves evidências de fraude". 
 
Na sede do Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos de Honduras (Cofadeh), o Jubileu Sul, a CSA e outras sete organizações e redes sindicais apresentaram na terça-feira um informe preliminar em que manifestam “sérias preocupações” sobre o processo eleitoral hondurenho. “Durante todo o dia se receberam denúncias de diversas formas de manipulação e compra de votos, ameaças e outros atos de violência contra fiscais e votantes do Partido Livre. A Missão de observação recebeu testemunhos destes atos e alguns deles foram presenciados por seus representantes, assim como recolheram denúncias várias organizações internacionais que se deslocaram para observar o pleito”, ressaltou nota.
 
ALERTA - “Advertimos sobre o perigoso momento que vive o país, ante a fraude montado pelos mesmos personagens e instituições responsáveis pelo golpe de Estado de 2009 (que depôs o presidente Manuel Zelaya). O não reconhecimento da vontade do povo está criando um clima de tensão e angústia que aprofunda a instabilidade e a falta de institucionalidade em Honduras”, alertam as entidades.
 
A Via Camponesa também denunciou que parte de sua delegação de observadores vinda de El Salvador foi impedida de entrar no país. “Unido a isso queremos denunciar à comunidade internacional o assassinato de Amparo Pineda e Julio Romero, líderes comunitários da localidade de Cantarranas, no município de San Juan de Flores, Departamento de Francisco Morazán, por vários homens encapuzados, com armas de grosso calibre. Os dirigentes foram mortos quando regressavam de uma capacitação eleitoral a doze horas do início das eleições”.
 
Conforme Florencia Goldsmann, do Observatório das Violações dos Direitos Humanos Resistência das Mulheres no Contexto Eleitoral, na comunidade de Rigores, no Departamento de Colon, soldados e policiais encapuzados ameaçavam os camponeses, criminalizando a oposição ao governo.
 
Mesmo observadores internacionais foram submetidos a esta truculência quando militares encapuzados adentraram o Hotel La Aurora, em Tegucigalpa, tentando apreender seus passaportes e dificultar o registro das ilegalidades.
 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

“Povo hondurenho defenderá nas ruas a sua vitória nas urnas”, afirma Zelaya

“Exigimos que se respeite a decisão do povo de que Xiomara seja sua presidenta”, ressalta o coordenador do Partido Livre, repudiando a fraude

Leonardo Severo - Direto de Honduras

Soldados cercam protesto pacífico contra o golpe eleitoral
Exigimos que se respeite a decisão do povo de que Xiomara Castro seja a sua presidenta. Não importa o que façam, porque esse processo se iniciou e ninguém vai pará-lo”, afirmou o coordenador do Partido Livre (Liberdade e Refundação), Manuel Zelaya. Junto a centenas de militantes, o ex-presidente destacou durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (25) em Tegucigalpa que, “se necessário, o povo defenderá nas ruas a sua vitória nas urnas”.
Deposto por um golpe militar patrocinado pelos EUA em 2009, Zelaya enfatizou que “as urnas falaram em defesa de uma mudança profunda” e denunciou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) age em função dos interesses da oligarquia vende-pátria, representada pelo candidato Juan Orlando Hernández, do Partido (Anti) Nacional.
 “O Tribunal não está contabilizando 1.900 atas, cerca de 400 mil votos, de zonas em que na sua grande maioria o Partido Livre ganhou amplamente. Estamos prontos para comparar as atas que temos com as que chegaram do TSE. Que eles demonstrem o contrário, que perdemos. Nunca poderiam fazê-lo”, acrescentou Zelaya, aplaudido de pé.
Segundo Zelaya, a disposição do Partido Livre não é a de “conclamar a sublevação, mas de garantir direitos, que não se negociam”. “Por que o Tribunal aparta 20% das urnas em seu resultado? Basta ter um mínimo de inteligência para explicar”, condenou o ex-presidente, com a militância respondendo em coro: “vamos às ruas!”.
A presidenta eleita, Xiomara Castro, dedicou a vitória aos “homens e mulheres que entregaram sua vida por esta causa, aos jovens que doaram seu sangue pela liberdade da Pátria e de todo o povo hondurenho”. “Os dados que recebemos de todo o país com a contagem das atas eleitorais confirmam que sou a presidenta da Honduras. Não vou decepcionar, cumpriremos da primeira a última palavra empenhada”, agradeceu.

RECHAÇO À FRAUDE
Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos denuncia
O candidato do Partido Anti-Corrupção (PAC), Salvador Nasralla, também rechaçou a fraude: “Os resultados estão dramaticamente violentados e não correspondem à realidade”. Nasralla, um apresentador de televisão, asseverou que o partido governista utilizou dois call centers para produzir e escanear atas falsas. Elas seriam enviadas ao centro de apuração, adulterando os resultados. “Tenho todas as provas e já apresentei uma denúncia à fiscalização. Além disso, o partido do governo comprou muitos dos representantes de mesa do meu partido, para que se retirassem do centro de votação e não defendessem nossos votos”, disse.
Reforçando esta denúncia, a TV Globo de Honduras divulgou entrevistas com inúmeros fiscais que comercializaram suas credenciais partidárias para o Partido Nacional. A reflexão é elementar: pela legislação eleitoral as mais de 16 mil urnas necessitariam de, pelo menos 32 mil pessoas de cada partido, entre fiscais e suplentes. Tais agremiações deveriam ter, portanto, pelo menos esses dois votos. Abertas as urnas, os partidos que atuaram como legenda de aluguel, todos juntos, não somaram sequer 1% dos votos. Formados para isolar o Partido Livre, seus “representantes” atuaram para controlar as mesas eleitorais e armar a fraude.
“GRAVES EVIDÊNCIAS DE FRAUDE”
 Foi o que viu a delegação de observadores da Confederação Sindical Internacional (CSI), que apontou a existência de “graves evidências de uma fraude eleitoral”. “Durante todo o dia recebemos denúncias de diversas formas de manipulação e compra de votos, ameaças e outros atos de violência contra os fiscais e os eleitores do Livre”, informou a CSI, ressaltando que “alguns deles foram testemunhados pelos representantes da missão, assim como pelas várias organizações internacionais aqui vindas para observar as eleições”.
Denis Roberto foi brutalmente agredido pelos fascistas
Também nesta segunda-feira à tarde, no Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos de Honduras (Cofadeh), a canadense Laura Carter, dirigente do Industrial Global Union, apontou a existência de “uma série de irregularidades, que podem ter impacto determinante nos números divulgados pelo TSE". Laura informou que na zona de São Miguel, na região metropolitana de Tegucigalpa, que conta com 50 mil votantes, força expressiva de Xiomara, nada menos do que 400 eleitores apareceram como "mortos" - sendo retirados da lista, sem poder votar - e outros mil simplesmente "desapareceram do registro".

Marcelina Samaniego, representante da Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM), denunciou “a sonegação de informações e o não envio das planilhas de votação”. Como na região de San Pedro Sula, Xiomara liderava, esclareceu Marcelina, o jovem que manejava o computador e centralizava o processo lhe disse ter "orientações claras" para atrasar o envio de urnas desfavoráveis. "Nós não podíamos ter acesso e a Força Pública e a Militar estavam ali para respaldar o que eles dissessem", acrescentou. 

Denis Roberto Aguilar Gomez, fiscal do Partido Livre na Escola Tomas Alvarez na mesa 9357, no bairro Nova Esperança, na região metropolitana de Tegucigalpa, foi agredido por 20 fascistas do Partido Nacional. Quando foi denunciar aos policiais militares acabou sendo detido ilegalmente e agredido, por ser de oposição. "Me torturaram dentro da escola", relatou, mostrando as marcas da agressão.

PERSEGUIÇÃO E INTIMIDAÇÃO

Às vésperas das eleições de domingo (24), o governo hondurenho utilizou policiais militares e da migração para perseguir e intimidar observadores internacionais, identificados como simpatizantes de Xiomara. Personalidades como Rigoberta Menchú, prêmio Nobel da Paz, foram impedidas até de entrar no país. Ao mesmo tempo, os golpistas convidaram 23 organizações de extrema direita para acompanhar o pleito.

Na cidade de El Progreso, próxima a San Pedro Sula, um dos principais polos da resistência ao golpe contra Zelaya, cinco soldados da Migração, fortemente armados, entraram no centro de capacitação da Igreja em busca de “salvadorenhos”. Terceira principal cidade do país, El Progreso é o berço de Roberto Micheletti, ditador alçado ao poder em 2009.

Na capital, Tegucigalpa, prefeitos e parlamentares da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), que governa El Salvador, também foram abordados e constrangidos por policiais a poucos metros do Honduras Maya, hotel em que estamos hospedados.

Nesta segunda, soldados fortemente armados voltaram a cercar o hotel, tentando impedir um protesto pacífico contra a fraude eleitoral, condenada em coro como um novo golpe. “Mídia vendida, conta-nos bem, não somos um, não somos cem”, alertaram os manifestantes, repudiando a manipulação dos grandes conglomerados de comunicação em favor dos golpistas.




quarta-feira, 30 de outubro de 2013

“Às vésperas da eleição, governo de Honduras usa mídia para acelerar as privatizações”

Leonardo Wexell Severo, de Puerto Cortés-Honduras

Marwin Gomez, líder dos trabalhadores de Puerto Cortés
Às vésperas do processo eleitoral que elegerá no dia 24 de novembro o futuro presidente de Honduras, os 128 deputados ao Congresso e as 298 administrações municipais, o governo de Porfírio Lobo usa e abusa dos grandes conglomerados de comunicação para acelerar a desnacionalização da economia. Aplicando o receituário ditado pelo FMI e pelo Banco Mundial, os neoliberais estruturaram uma empresa, a Comissão da Aliança Pública e Privada (Coalianza), para gerir a “concessão” de rodovias, portos e aeroportos – entre outros valiosos bens - aos estrangeiros. No caso de Porto Cortés, por onde passam 95% das exportações e importações hondurenhas, Coalianza “licitou” o terminal de contêineres e de carga, entregando no dia 1º de fevereiro, por três décadas, seu filé para a International Container Terminal Services Incorporated (ICTSI). De acordo com Marwin Alberto Gomez, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Nacional Portuária, “não há nenhum sentido em repassar ao capital estrangeiro a parte mais lucrativa de Porto Cortés, que responde por cerca de 80% das entradas, pois isso inviabilizaria o Estado”. “Essa medida entreguista, potencializada por uma ampla campanha midiática”, alertou Marwin, busca se antecipar à virtual eleição da oposicionista Xiomara Castro de Zelaya, do Partido Livre (Liberdade e Refundação) e esposa do ex-presidente Manuel Zelaya - sequestrado e deposto em 2009 por um golpe armado pelos EUA - favorita em todas as pesquisas de intenção de voto. “O governovendeu a ideia, através dos meios de comunicação, de que a privatização era uma solução para modernizar, para impulsionar e levar adiante a empresa nacional portuária. Tivemos encontros com os companheiros do Partido Livre, onde reiteramos a necessidade de pôr fim à privatização. Esse é um processo completamente viciado, contrário ao interesse nacional. Se houvesse Justiça em Honduras, ele já estaria anulado”, enfatizou o líder portuário. Desde o golpe contra Zelaya – que ficou exilado na embaixada brasileira na capital, Tegucigalpa - a oposição nacionalista expressa pela imprensa alternativa foi confrontada à bala pelo governo, o que deixou um saldo de 26 jornalistas assassinados. Abaixo, a íntegra da entrevista feita com Marwin no alto da torre de observação do Porto. Que estava com o elevador danificado.

Viajando por Honduras, no giro pelas ruas de Tegucigalpa, San Pedro Sula e agora Porto Cortés, pudemos ver uma intensa campanha em favor do candidato oficialista, o atual presidente do Congresso, Juan Orlando Hernandez, e da privatização. Há uma batalha política e ideológica muito latente, que se acentua com a proximidade das eleições do próximo dia 24. Como liderança sindical, qual a sua avaliação?

O governo vendeu a ideia, através dos meios de comunicação, que a privatização era uma solução para modernizar, para impulsionar e levar adiante a empresa nacional portuária. Desconsiderou que o Sindicato havia proposto um plano de desenvolvimento para o porto, financiado através da emissão de bônus por meio da qual a empresa ia modernizar suas instalações e, ao mesmo tempo, gerar os recursos necessários para pagar esses empréstimos. Às vésperas da eleição o governo usou a mídia para acelerar a privatização. É uma medida entreguista potencializada por uma ampla campanha midiática. Não há nenhum sentido em repassar ao capital estrangeiro a parte mais lucrativa de Porto Cortés, que responde por cerca de 80% das entradas, pois isso inviabilizaria o Estado.

Todas as pesquisas neste momento apontam para uma vitória da candidata oposicionista, Xiomara Castro de Zelaya, do Partido Livre, que tem se posicionado em defesa da soberania nacional. As privatizações/concessões a toque de caixa refletem o desespero dos neoliberais?

Leonardo Severo com sindicalistas hondurenhos
Tivemos encontros com os companheiros do Partido Livre, onde reiteramos a necessidade de pôr fim à privatização pois entendemos que esse é um processo completamente viciado, contrário ao interesse nacional. Na verdade, se houvesse Justiça em Honduras, esse processo entreguista   já estaria anulado pelos tribunais.

Como está a luta contra a privatização de Porto Cortés?

Porto Cortés é a porta de entrada e saída do país, responde por 95% das nossas importações e exportações, o que faz dele o porto mais importante de Honduras e um dos mais estratégicos da América Central. É a porta de Honduras para o mundo, trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana. O seu tipo de baía, natural, abrigada, protegida pelas cordilheiras, lhe garante um mar calmo. Não temos problemas de maré e de nenhuma índole, mantendo estável o calado, a profundidade da baía. Estamos mobilizados em defesa de um patrimônio que é de todos os hondurenhos.

A economia hondurenha depende diretamente do  tráfico marítimo que passa por Porto Cortés. Por que privatizar?

É esta pergunta, este questionamento que estamos fazendo nós trabalhadores e toda a população. Por que privatizar Porto Cortés se ao longo da sua história de 48 anos ele tem sido uma das empresas estatais mais rentáveis, contribuindo para a economia, ajudando a todos os governos de plantão. Hoje é uma joia preciosa para a onda de privatizações impulsionada pelo presidente Lobo. Ao contrário da privatização, defendemos um plano estratégico para desenvolver a sua estrutura, para acelerar o desenvolvimento do país, porque nos encontramos no porto que abre as portas do mundo a Honduras.

Tentam entregar o filé e deixar o Estado com o osso. Qual o papel da Coalianza nisso tudo?

Quero fazer uma pequena introdução. Essa empresa portuária gera 1,6 bilhão de lempiras ao ano [cerca de 80 milhões de dólares]. Destes, dá ao governo cerca de 400/500 milhões de lempiras [de 20 a 25 milhões de dólares]. Falar de Coalianza é algo preocupante para os trabalhadores, porque o que ela veio fazer é praticamente entregar as empresas rentáveis do Estado. Criaram uma associação pública-privada com o único objetivo de entregar as empresas lucrativas, as que não necessitam de investimento. Por isso tais parcerias têm vindo para empobrecer cada vez mais a economia do país, esvaziando o estado.

A privatização tem seus derivativos: terceirização, arrocho e precarização. Como o Sindicato tem enfrentado esta lógica perniciosa e regressiva?

Denunciei o processo de privatização e de corrupção, mas como o Ministério Público está praticamente corrompido, a favor do governo, foi interposto um processo legal contra mim. Uma chantagem jurídica para que retirássemos a denúncia. Assim, tenho proibições até de sair do país. Querem calar a boca de quem denuncia para manter a ilegalidade impune. Além da ação na Justiça e das articulações políticas para barrar a privatização, temos nos movimentado bastante. Nosso Sindicato está se transformando para fortalecer sua organização a fim de beneficiar o conjunto dos trabalhadores do setor. Para nós é fundamental investirmos na autorreforma sindical. Nossa concepção é de que precisamos evoluir de um Sindicato de base, representativo somente de um setor, de uma categoria profissional, para convertê-lo numa entidade de todos os trabalhadores dos transportes, seja marítimo, aéreo ou rodoviário, a nível nacional. Isso ampliará o nosso poder de fogo, nos dará mais capacidade para defender o interesse dos trabalhadores. Com um Sindicato forte, teremos a maior quantidade de direitos possível.

Há muita gente ainda no porto literalmente “a ver navios” em relação aos direitos sociais e trabalhistas.

No setor portuário há aproximadamente três mil trabalhadores, muitos que entregaram toda sua vida ao porto, mas que nunca receberam o que é seu de direito. Agora passarão a ter compensações sociais, seguridade social, benefícios médicos e econômicos.  Estamos empenhados para que quando haja uma nova fonte de emprego no setor portuário, em primeiro lugar se busque as entidades dos trabalhadores. Em segundo lugar queremos garantir a proteção desses companheiros e para isso é preciso que sejam representados por uma organização, para que não cheguem em desvantagem frente aos novos empregadores. Em terceiro lugar queremos a vigência do movimento organizado. Isso é essencial para enfrentar os novos desafios que, no caso de Honduras, se chama privatização.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A luta contra o leilão de Libra e os estelionatos entreguistas



Manifestações e denúncias impediram um crime maior  
Carlos Lopes, na Hora do Povo
O leilão do campo de Libra encontrou a sua própria definição: sob ordem da Presidência, foi realizado por trás de tropas do Exército, da Força de Segurança Nacional e com o cerco até de barcos da Marinha de Guerra, com jovens sendo atingidos e feridos por uma catadupa de balas de borracha, com helicópteros atirando-as sobre a multidão e a violência histérica contra, até mesmo, a bandeira nacional. Nenhum apoio do povo, nenhuma manifestação a favor – só algumas declarações de vendilhões sem vergonha, de alguns tolos e de alguns puxa-sacos do patrão.
Algo que não se via desde a ditadura – e em seus piores momentos.
O resultado demonstrou que a intenção do governo sempre foi a de entregar Libra ao cartel multinacional das petroleiras; segundo, que somente não entregou mais porque o povo, a mobilização em todo o país, não deixou.
Talvez o melhor comentário sobre o leilão de Libra tenha sido feito, ainda antes, pelo petroleiro João Antônio de Moraes, líder da FUP e da CUT, com a rude precisão dos operários: "Quem aluga a bunda não pode escolher onde sentar".
Não pode mesmo – como demonstra uma notícia publicada no dia seguinte ao leilão, inteiramente confirmada pelos fatos:
"A escolha dos executivos que vão compor a Pré-Sal Petróleo S.A (PPSA), estatal que vai gerir os contratos de blocos arrematados no regime de partilha de produção, semana passada, foi ‘absolutamente fundamental’ para que a Total decidisse participar do leilão de Libra ontem, nas palavras do diretor-geral da francesa Total no Brasil, Denis Besset. (…) A questão da formação da PPSA havia sido levantada por Besset (…) quando o executivo declarou que era complicado definir a participação sem saber qual era a formação da PPSA" (Valor Econômico, 22/10/2013, grifos nossos).
Assim, para entregar parte do Campo de Libra à Total – e também à Shell – a presidente Dilma nomeou, para presidente da PPSA, o braço direito do celerado David ("o petróleo é vosso") Zylbersztajn na ANP e, para diretor, o chefe de gabinete do malfadado Henri ("Petrobrax") Reichstul na tentativa de esquartejamento da Petrobrás - ambos durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O último, inclusive, era um lobista na ativa das multinacionais. Função da PPSA: fiscalizar as multinacionais.
Já o renegado Lima, depois de se exibir no leilão - devidamente garantido pelas forças policiais e militares presentes - declarou que estava "muito feliz" porque "no Brasil nós nunca fizemos isso porque nunca tivemos uma área tão prolífica como o pré-sal". Pelo jeito, Lima quer proteger o petróleo da sanha dos brasileiros, entregando-o às multinacionais. O leilão do campo de Libra foi o primeiro leilão de petróleo já descoberto da História. Ninguém leiloa petróleo que já foi descoberto. Leiloam-se áreas para pesquisar petróleo, não áreas em que já se descobriu o petróleo. Mas, pior é o ridículo de dizer que foi a ANP, e não a Petrobrás, que descobriu petróleo nos campos de Libra e Franco, provavelmente com o uso do delicado mini-canivete (suíço?) do seu então diretor-geral. Deixa de ser mentiroso, ô Haroldo!
Disse a presidente Dilma, na segunda-feira à noite, que "85% de toda a renda a ser produzida no Campo de Libra vão pertencer ao Estado brasileiro e à Petrobras. Isso é bem diferente de privatização".
"Bem diferente"? Quem disse que isso era privatização, e só privatização, e nada mais que privatização, foi ela – é verdade que era candidata, não presidente. Foi a candidata Dilma quem disse:
"Eles [os tucanos] defendem a privatização do pré-sal, ou seja, que a exploração do pré-sal seja feita por quem? Pelas empresas privadas internacionais. Isso é grave porque o pré-sal é uma das riquezas mais importantes do país. Defender a privatização do pré-sal significa tirar dinheiro do país. (…) Isso seria um crime contra o Brasil".
Quanto ao resto, a expressão "renda a ser produzida no Campo de Libra" é uma forma de não dizer chongas – ou absolutamente nada - da mesma forma que o acréscimo "a Petrobrás" depois de "Estado brasileiro". "Renda a ser produzida no Campo de Libra" inclui até o preço de um melhoral que algum companheiro petroleiro, acometido de dor de cabeça, compre na cantina de uma plataforma - se é que existem cantinas nas plataformas.
A questão é a parte do governo (ou da União) na partilha do petróleo extraído, não a renda em geral – pela simples razão de que é possível comprar melhoral em outro lugar que não uma plataforma de petróleo, da mesma forma que recolher Imposto de Renda ou Contribuição Social Sobre o Lucro (CSSL) de alguma empresa no pré-sal não é diferente de fazer o mesmo com qualquer outra empresa do país. O que é diferente – isto é, específico - no Campo de Libra é a partilha do petróleo lá produzido.
Como diz um filósofo aqui da casa, não entender algo tão óbvio é burrice demais para ser só burrice. Basta ver as percentagens citadas. Depois desses 85% da presidente, vale tudo.
Nesse passo, daqui a alguns dias, as multinacionais vão estar pagando ao governo para que fique com o nosso petróleo e ainda vão dar um vale para cada brasileiro gastar numa Coca-Cola. Pelas contas da presidente, 41,65% de 45% - que é o "excedente em óleo" ou "óleo-lucro" - são 85%, em vez de 18,74% (v. coluna de Fernando Siqueira nesta página). Antes, para o Lobão e a Magda, a mesma conta resultava em 75% - a presidente, num único dia, avançou mais 10 pontos percentuais. Daqui a pouco o governo vai estar recebendo 120%, 150%, talvez 300% do petróleo de Libra.
Nem vale a pena observar outra vez que os autores dessas contas estão somando espartilhos com caixas de maizena (daí expressões engana-trouxas do tipo "renda a ser produzida no Campo de Libra") porque, mesmo assim, a conta não dá certo. O que se está discutindo é quanto, na partilha do petróleo, mais exatamente, na partilha do "excedente em óleo" (petróleo extraído menos custo de produção menos royalties) ficará com a União, tendo em vista que os países produtores de petróleo ficam com 80% do excedente – uma média de 72% do óleo produzido – e, no Brasil, o governo estabeleceu que apenas 41,65% desse excedente ficará com a União, podendo, de acordo com uma escala móvel, baixar até 15%.
O resto, leitores, é bobagem (o renegado Lima somou até um aluguel para chegar a lugar algum).
O que não é bobagem, leitores, é ver o nosso povo, é ver trabalhadores, estudantes, mulheres, gente humilde dos bairros, gente que saiu das plataformas e das fábricas, recusando o letal marasmo que lhe é oferecido, para levantar-se e defender o nosso petróleo, a Petrobrás, vale dizer, a nossa Nação, a nossa Pátria. Pois aí está o novo Brasil, ainda em germe, aí, sim, está o nosso passaporte para o futuro.
Não sabemos ainda tudo o que o governo concedeu para entregar 40% de Libra ao cartel petroleiro. Mas, por consequência, tudo o que fez foi para impedir a Petrobrás de ter uma parcela maior. É evidente que a Petrobrás poderia ter 50% ou mais. Porém, se não fosse a sua defesa pelo povo, pelos que, em todo país, mobilizaram-se contra esse leilão ignominioso, nem os 40% ela teria. Tal como já havia anunciado o ministro Lobão, ficaria nos 30%, que é o mínimo que lhe garante a lei do presidente Lula no pré-sal.
Assim, a Shell e a Total, duas das cinco "supermajors", as petroleiras que mandam no cartel (pela ordem, de acordo com o Platts Top 250 Global Energy Company: ExxonMobil, Shell, Chevron, BP, Total; a ExxonMobil e a Chevron são, ambas, "Standard Oil" do grupo Rockefeller, portanto, é um grupo de cinco que, na verdade, são quatro) ficaram com 40%, mesma percentagem que a Petrobrás. Duas estatais chinesas, a CNPC e a CNOOC, pegaram 10% cada uma.