Pensatempo: julho 2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Em defesa da Globosfera, Serra põe o bico na janela

Leonardo Severo
 
Escoltado pelos grandes conglomerados de comunicação, o candidato tucano à Prefeitura de São Paulo esbraveja e acusa a blogosfera de estar em campanha “nazista” contra a sua candidatura.
 
Apóstolo da globosfera, da folhosfera e de outras esferas igualmente sacrossantas, democráticas e plurais, fala diante do silêncio sepulcral dos barões da mídia, que tanta solidariedade prestaram ao atentado que sofreu com a bolinha de papel. Novamente diz ser atingido de forma covarde e reage contra os blogueiros “sujos”, “verdadeira tropa de assalto na internet”.
 
A tática é tão antiga quanto a do batedor de carteiras que sai gritando “pega ladrão”. Infelizmente, quem a está utilizando tem condições de fazer estragos imensamente maiores com uma simples caneta: privatizações, concessões, arrocho salarial, precarização...
 
Blindado por emissoras de rádio e televisão, além de publicações muito bem nutridas por anúncios que potencializam suas armas de manipulação em massa (a Veja que o diga, com oito páginas do Ministério da Educação na última edição), o tucano investe na promiscuidade desta relação.
 
Enquanto isso, as supostas “tropas” que o enfrentam encaram, de peito aberto e bolsos vazios, a ferocidade da luta pela democratização da comunicação, pela verdade e a justiça. A mídia alternativa que o diga.
 
Diante do desafio de manter em alto a bandeira da verdadeira e 'efetiva liberdade de expressão, é preciso refletir sobre o seu real significado, sem o que tal “liberdade” continuará restrita a umas poucas famílias de proprietários que decidem o que ver e ouvir. É exatamente isso o que está ocorrendo na atual campanha eleitoral, onde respaldados pela “objetividade” de “pesquisas”, promovem candidatos nanicos a “gigantes” e gigantes a “nanicos”.
 
Como bem demonstraram os professores paulistas ao denunciar um policial infiltrado numa manifestação contrária ao governo do Estado de São Paulo para fazer provocações - a fim de culpabilizar os que defendiam a melhoria da educação pública – é preciso, sempre, fazer e refazer uma leitura crítica. Afinal, já nos alertou Mia Couto, “entre parecer e ser vai menos que um passo, a diferença entre um tropeço e uma trapaça”.
 
Aos que sobrevivem do caldo da incultura de seus cachoeiras, paulopretos e policarpos, ensurdecidos pelo seu próprio aplauso, a blogosfera é um contagioso exemplo a ser segregado, enquanto não possa ser corrompido ou definitivamente banido.  
 
Infelizmente, para o candidato do PSDB, os tempos são outros. Ainda que certos anúncios publicitários continuem favorecendo a mordaça e a lambança, contra a mudança, a verdade é tesouro e tesoura a cortar as asas das aves de mau agouro. 
 
O candidato que tão bem representa os lúgubres anos de FHC estancou e, mais cedo ou mais tarde, verá a realidade lhe sorrir. Então terá de encarar a ladeira. Como o general imperialista, ridicularizado por Eduardo Galeano, que se media ao despertar e a cada dia se achava mais alto. Até que uma bala interrompeu seu crescimento.
 
A candidatura da grande mídia pôs o bico na janela.

terça-feira, 24 de julho de 2012

PPL: “O Brasil precisa voltar a crescer”

Resolução do Diretório Nacional do Partido Pátria Livre (PPL)



O Brasil, no momento, enfrenta problemas graves em sua economia. Desde já é preciso ser claro que estes problemas não são advindos da crise nos países imperialistas do norte da América, da Europa - e, na Ásia, o Japão. Pelo contrário, até o FMI, em seu último relatório, reafirmou a estimativa de que os países "emergentes e em desenvolvimento" têm a perspectiva de crescer, em média, 5,6% este ano. Por que o Brasil - para o qual se prevê atualmente menos de 2% de crescimento, ou seja, menos que os pífios 2,7% do ano passado - depois de um consistente crescimento de 7,5% no último ano do governo Lula - seria o único substancialmente afetado pela crise dos países imperialistas? Hoje, através dos jornais, há uma vasta gama de diagnósticos - e, sobretudo, de perplexidades e palpites, via de regra algo alucinados - sobre os problemas atuais do nosso país. No sentido de contribuir para a discussão, pela importância do seu conteúdo, publicamos hoje a resolução da última reunião do Diretório Nacional do Partido Pátria Livre (PPL), realizada no dia 3 de junho. Intitulada "O País Precisa Voltar a Crescer 2" (uma referência à resolução anterior, que tinha o mesmo título), é um documento de importância decisiva nos dias atuais.
C.L.
I
O Diretório Nacional aprovou em 26 de fevereiro uma Resolução com o título "O Brasil Precisa Voltar a Crescer", que por sua vez se baseou na avaliação debatida na reunião de dezembro.

Naquela ocasião, não havia ainda sido divulgado o resultado do PIB de 2011. Mas, diante da projeção feita pela Fiesp de um PIB de 2,8%, e da conclusão do ministro Mantega de que esse seria um "bom resultado" em função da "crise internacional", nosso esforço se voltou para demonstrar os graves equívocos desse raciocínio.

Primeiro: A crise dos centros financeiros imperialistas, iniciada em 2008, levou de roldão as economias dos EUA, Europa e Japão, mas no resto do mundo, não só na China e na Índia, o quadro de 2011 foi de franco crescimento. A média dos países da América do Sul, excetuando o Brasil, ficou acima dos 6,5%. (1)

Segundo: O desabamento do PIB - de 7,5% em 2010, para menos de 3% em 2011 - e a crise da nossa indústria se deveram à adoção de uma política interna altamente recessiva, baseada na elevação dos juros (acarretando a apreciação do câmbio), na fixação de um superavit primário esmagador, nos cortes orçamentários, na redução do investimento público, na contenção dos salários (para desaquecer o mercado interno) e na elevação do nível de desnacionalização da economia.

É verdade que a taxa básica de juros (Selic), depois das cinco altas sucessivas de 2011, já começara a recuar diante dos protestos generalizados do movimento sindical e do empresariado nacional. Mas o fato é que a luta e a discussão no interior da sociedade avançaram significativamente, após a divulgação, em março, dos minguados 2,7% de crescimento do PIB. 

A tese da inevitabilidade de um crescimento pífio foi bastante abalada, embora não esteja morta. E a nossa querida presidenta, que pode mais do que Mantega e Tombini, tem afirmado insistentemente que as taxas de juros no Brasil precisam convergir para os patamares internacionais, que na média estão abaixo de 0%.
Com base nesta pressão, os juros têm recuado e o câmbio melhorado. A taxa básica (real) está em 2,8% e o cambio na faixa dos R$ 2,00 - ambos ainda distantes do patamar da razoabilidade, mas não mais naquela situação de câmbio a R$ 1,60.
II
É importante a percepção revelada pela presidente Dilma de que as taxas de juros precisam cair ao nível das taxas internacionais, porque para o Brasil voltar a crescer é mesmo indispensável reduzir as taxas de juros – especialmente a taxa básica – e equilibrar o câmbio.

Mas isso não é tudo. Já é hora do governo concentrar a atenção numa questão estratégica. 

Desde 1995, o estoque de capital estrangeiro no Brasil tem crescido numa velocidade extremamente mais rápida do que o estoque de capital nacional.

Em 2010, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) atingiu US$ 579,6 bilhões. Entre 1995 e 2010, o estoque de capital fixo cresceu em torno de 35%, enquanto a parcela estrangeira nesse total aumentou 1290%.(2) 

Na prática, isso funciona assim: Entre os anos de 1995 e 2000, 1100 empresas privadas brasileiras foram compradas por multinacionais.(3) Notem que não estamos mencionando as mais de 300 estatais privatizadas, cuja maioria também foi adquirida por corporações americanas e européias. 

Entre 2004 e 2011, essa desnacionalização selvagem atingiu 1074 empresas nacionais. Só no ano de 2011 foram 208 empresas. E o resultado do primeiro trimestre de 2012 apresenta um crescimento de 117,65% em relação ao primeiro trimestre do ano passado (4).

Um pequeno exemplo do tipo de consequência que isso provoca pode ser verificado na tragédia do etanol. Em 2008 o Brasil exportava 4,7 bilhões de litros, produzidos principalmente em usinas nacionais, que foram pioneiras nessa atividade econômica. A produção cresceu à razão de 10,4% ao ano, entre 2003 e 2008. A criação de novas usinas se acelerava: 9 em 2005, 19 (2006), 25 (2007) e 30 (2008). Veio a "Strong Consolidation", eufemismo para designar a ofensiva desnacionalizante através da qual a Shell tomou a Cosan e a Nova América, a Britsh Petroleum pegou a Companhia Nacional de Açúcar e Álcool e a Tropical Bioenergia, a Bunge se apoderou da Moema, a Louis Dreyfus empalmou o Grupo Santelisa, o Noble Group absorveu o Grupo Cerradinho, a Shree Renuka Sugars tomou posse do grupo Equipav, a Tereos abiscoitou parte do Grupo Guarani, a Vertente e a Mandu... O número de novas usinas foi declinando: 19 (2009), 10 (2010) e 5 (2011). Em 2011 as exportações foram 70% menores do que em 2008, e o Brasil teve que amargar a importação de 1 bilhão e 100 milhões de litros de etanol de milho dos EUA.(5)

Como é possível prosseguir desse jeito?

As multinacionais importam, em média, 290% a mais que as empresas nacionais, porque preferem trazer de fora máquinas, equipamentos, componentes e insumos. Assim, o estoque de capital externo, que já é mais que excessivo nos setores chave da economia, vai tornando as importações e as remessas de lucros insustentáveis para o país. 

Para vencer esse gargalo e tirar nossa indústria do estado de penúria em que se encontra é preciso mais do que reduzir os juros e equilibrar o câmbio. 

Não dá mais para o Brasil continuar sem política industrial, sem política de substituição das importações, sem política para desenvolver a engenharia nacional nos setores de tecnologia de ponta.

A proposta do PPL é resolver essas três questões, que na verdade são faces distintas do mesmo problema, priorizando as empresas genuinamente nacionais nos financiamentos e nas encomendas do Estado, tal como recomendava a Constituição de 88, antes de ser mutilada por FHC. Sem isso não haverá um verdadeiro crescimento sustentado.

E aqui não se trata de ser contra o capital externo, mas de dar à empresa nacional a prioridade que ela merece.

A alegação de que o Brasil não dispõe de recursos suficientes para promover o florescimento da uma indústria genuinamente nacional, em todos os setores, é 100% falsa. Não fosse, o ministro da Fazenda não teria precisado planejar, no início de 2011, a redução dos financiamentos do BNDES - segundo o gênio, "para abrir espaço ao investimento privado" . Não teria concordado em produzir, deliberadamente, uma queda de 18% - 19% se levarmos em conta só a indústria – nesses desembolsos. E, menos ainda, que os 82% restantes continuassem a ser em grande parte destinados a multinacionais, que em tese estariam no Brasil para suprir a nossa suposta falta de capitais.(6) 
 

III


Aumentar o peso do setor nacional (estatal e privado) na nossa economia é fundamental para que ela tenha saúde. 

Ademais, é preciso sempre ter em mente que sem aumento real de salário, emprego e investimento público não há economia que se sustente. Atropelar esse princípio elementar que norteou o governo Lula equivalerá sempre a caminhar para trás. (7)

Não é com desoneração dos impostos das multinacionais que o Brasil retomará o caminho do crescimento. Os derrubadores do PIB emplacaram em 2011 todo o arsenal de medidas recessivas de uma só vez. Dilma terá que se livrar de todas, se quiser salvar o PIB de 2013, pois o de 2012 também já se encontra seriamente comprometido.

Dada a importância estratégica do movimento sindical nessa batalha, o PPL não medirá esforços para estreitar os laços com as Centrais Sindicais. Falamos de todas as que têm atuado unitariamente na grande campanha pela redução dos juros e a redenção da nossa indústria. (8) E, especialmente, da nossa corajosa Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, que, mesmo golpeada por uma traição interna das mais abjetas, não arredou o pé da trincheira, reorganizou-se e deflagrou uma campanha de filiação.

O PPL vai apoiar essa campanha como quem apóia um irmão. Nossas mais de 700 Comissões Provisórias enraizadas em todos os Estados do Brasil vão tomar para si o encargo de filiar pelo menos um sindicato à CGTB.

Convocamos todas as forças vivas da nação a desfraldarem essa bandeira. Os maiores beneficiários do fortalecimento da CGTB serão o movimento sindical como um todo, a unidade das Centrais e a luta nacional e democrática. 

IV
Como estamos às vésperas das eleições, acreditamos ser essa uma oportunidade ímpar para difundirmos amplamente a síntese do nosso programa partidário, do qual derivam não apenas nossas propostas para solucionar os problemas nacionais, mas também os municipais.

Acrescentamos à síntese anterior um item específico sobre a questão da Cultura. E ela ficou assim:

1. Ampliar o mercado interno, com aumento real de salários e mais empregos. 

2. Reduzir os juros, equilibrar o câmbio e promover o desaperto orçamentário. 

3. Concentrar os recursos do BNDES para financiar as empresas nacionais e dar prioridade a elas nas encomendas do Estado. 

4. Desenvolver a ciência, a engenharia nacional e os setores de tecnologia de ponta vitais para a nossa independência - especialmente a microeletrônica, informática, telecomunicações, engenharia genética, energia nuclear, engenharia aeroespacial, materiais estratégicos e a indústria da defesa. 

5. Apoio do Estado às realizações dotadas de excelência e relevância para o desenvolvimento da cultura nacional. 

6. Educação e Saúde: pública, gratuita e de qualidade para todos.

V

O Pátria Livre marchará unido nessas eleições municipais com uma política clara de priorizar o lançamento de candidaturas próprias a prefeito nas grandes cidades e as alianças eleitorais com as forças que compõem a base de sustentação do governo Dilma. 

Nosso objetivo primordial é levar o mais longe possível as propostas do partido e encher as praças com o verde-amarelo das nossas bandeiras. Queremos consolidar o partido e atrair novas forças. Queremos nos converter rapidamente num grande partido de massas, à altura dos desafios que o país enfrenta nessa fase final da luta para completar a sua independência. 

Para que o PPL seja de fato esse partido, para que não se transforme numa sopa de interesses subalternos, não podemos descuidar em nenhum momento da disciplina.

Nesse sentido, o Diretório Nacional reafirma a decisão da reunião de 26 de fevereiro de que até a realização das convenções não haverá membro de Diretório, Comissão Provisória e candidato que não esteja em dia com as suas obrigações partidárias – nenhum membro do PPL que não preencha esses requisitos estará apto a votar ou ser votado nessas convenções. Acrescentamos também que a política eleitoral em cada município deverá ser previamente aprovada pela respectiva Executiva Estadual, e, nas cidades acima de 200 mil eleitores, pela Executiva Nacional.

No PPL não há questão que não possa ser debatida e democraticamente decidida. Mas também não haverá deliberação geral que valha para uns e não para outros.

Paralelamente à batalha eleitoral, é fundamental seguir estimulando a rumorosa CPMI do Cachoeira a aprofundar as investigações sobre os malfeitos. 

As gravações da Polícia Federal revelam que as ações da quadrilha iam muito além do enriquecimento ilícito e da lavagem de dinheiro. Elas comprometem o ex-líder do Dem no Senado, a revista "Veja", uma grande empresa da construção civil, o governador Marconi Perillo, um ministro do STF e o procurador-geral da República - que mesmo sabendo fez questão de tudo acobertar - numa série de ações de cunho conspirativo visando desestabilizar o governo e promover o golpismo, para, no mínimo, enfraquecê-lo e empurrá-lo para trás.

Tanto o governo Lula quanto o governo Dilma foram vítimas dessas armações. É necessário que os responsáveis sejam expostos à execração pública e não permaneçam impunes, para que a atuação de esquemas desse tipo seja fortemente desestimulada, limpando o terreno para que o governo possa avançar sem inibições e sobressaltos. Pois, mais do que nunca, o que ele necessita é de tranquilidade para reavaliar o caminho percorrido, retornar à estrada do crescimento e dar a volta por cima.

São Paulo, 3 de junho de 2012.

Notas

(1) Quem conhece um pouco da História do Brasil sabe que os momentos de crise dos centros imperialistas sempre foram os mais propícios para o país valorizar seu mercado interno, suas empresas, sua tecnologia, seus trabalhadores e crescer aceleradamente.
Mas para quem insiste em desconsiderar a experiência das gerações passadas não custa nada lançar um olhar sobre o estado atual do mundo e ver que não há razão objetiva para o Brasil ter empacado.
Não vamos falar de China e Índia (nossos parceiros no BRICS) que, não tendo tomado conhecimento da crise em 2008, 2009 e 2010, cresceram em 2011 a uma taxa de 9,2% a primeira e 7,4% a segunda.
Vamos só apresentar uma singela relação de países de vários continentes com as respectivas taxas de crescimento no ano de 2011, algumas já confirmadas e outras baseadas nas previsões que figuram no último relatório do FMI. E aqui cabe parênteses: o FMI, por um vício cuja origem já se perdeu no tempo, costuma errar para cima nas previsões referentes aos países mais afinados com suas políticas e para baixo em relação aos demais.
Eis os números: Argentina (9,2%); Uruguai (6%); Paraguai (6,4%); Chile (6,2%); Equador (5,8%); Peru (6,6%); Bolívia (5%); Colômbia (4,6%); Venezuela (4,2%); México (4,1%); Rússia (4,1%); Bielorrússia (5%); Ucrânia (4,7%); Geórgia (5,5%); Uzbequistão (7,1%); Cazaquistão (6,5%); Turquia (6,6%); Mongólia (11,5%); Sri Lanka (7%); Bangladesh (6,3%); Vietnam (5,8%); Laos (8,3%); Camboja (6,7%); Indonésia (6,4%); Malásia (5,2%); Filipinas (4,7%); Nigéria (6,9%); Moçambique (7,2%); Quênia (5,2%); Etiópia (6,7%); Marrocos (4,6%); Zimbábue (6%); Tanzânia (6,1%); Zâmbia (6,7%); Botswana (6,1%); República Democrática do Congo (6,5%).
Diante desse quadro, não é possível concordar com a nossa presidente quando ela afirma, em entrevista coletiva na Bulgária (05/10/2011), que o país não poderia estar "imune ao aprofundamento da crise" dos big brothers.
Por que não poderia, se a média de crescimento da América do Sul, sem o Brasil, ficou acima dos 6,5%? (O Brasil Precisa Voltar a Crescer, Resolução do Diretório Nacional do PPL, 26 de fevereiro de 2012)
(2) "Estoque de Patrimônio nas Mãos de Estrangeiros É de US$ 579 bi", Carlos Lopes em "Hora do Povo", 21/12/2011.
(3) Programa do Partido Pátria Livre, 21/04/2009.
(4) KPMG Consultoria (ver "Hora do Povo", edições de 25/04/2012 e 09/05/2012).
(5) "O Etanol Era Nosso", Carlos Lopes em "Hora do Povo", 13/01/2011
(6) "Financiamento do BNDES à indústria cai 19% em 2011", Carlos Lopes em "Hora do Povo", 20/01/2012.
(7) O governo Lula fixou quatro pilares fundamentais para que o Brasil pudesse singrar esses mares conturbados com segurança, sem se deixar dominar pela lógica hegemônica, cínica e pervertida.
Política externa independente; recuperação dos empregos e salários; crescimento com base no investimento público e na expansão do mercado interno; fim das privatizações das empresas públicas - todos eles premissas para a construção de um verdadeiro projeto nacional-desenvolvimentista.
Faltava uma definição explícita sobre a prioridade para as empresas nacionais (estatais e privadas) nos financiamentos e encomendas do Estado, e um plano abrangente para desenvolver, com base no capital nacional, os setores de tecnologia de ponta:..
O governo Dilma, em seu primeiro ano, não avançou no que precisava e refluiu em boa parte do que já estava feito.
Congelou a Telebras e o projeto de universalização da banda larga. Diluiu o conteúdo antiimperialista da política externa independente numa sopa eclética de admoestações contra supostas ou reais violações dos direitos humanos atribuídas pelos campeões mundiais da modalidade, os EUA, a regimes que eles têm interesse em desestabilizar. Adiou o aumento real do salário mínimo, arrochou os servidores, fez campanha para conter o aumento real de salários em todas as categorias. Reduziu o investimento público (os desembolsos do BNDES caíram 18% em relação a 2010), paralisou obras, travou a elevação do orçamento da Saúde e da Educação. Catapultou os juros com cinco altas sucessivas que desequilibraram o câmbio e escancararam o país às importações, derrubando a indústria e o crescimento econômico como um todo. De quebra, privatizou o controle de três aeroportos, com a Infraero no estranho papel de pagar R$ 11,7 bilhões para isso. (O Brasil Precisa Voltar a Crescer, Resolução do Diretório Nacional do PPL, 26 de fevereiro de 2012).
(8) "90 mil em São Paulo no Grito de Alerta pela Salvação da Indústria" (ver "Hora do Povo", 06/04/2012).

sábado, 7 de julho de 2012

Com queda de 4,3% na indústria, Mantega vê “ciclo de expansão”



Dona Dilma precisa começar a governar antes que seja tarde

Carlos Lopes, na Hora do Povo 

Desfiamos, na edição anterior, alguns índices econômicos desastrosos: o crescimento no primeiro trimestre foi de minúsculos 0,2%; as projeções para o segundo, estão por volta de 0,7%; a Fiesp projeta apenas 1,8% para o ano; a produção industrial caiu -4,3% (e pelo nono mês consecutivo); a indústria de São Paulo reduziu sua atividade em -6,3%, e paramos por aqui, para não fazer o leitor perder o sono.

Na quarta-feira, Mantega declarou na Fiesp, para 400 empresários: “estamos prestes a começar um novo ciclo de expansão forte da economia brasileira”. Como é possível um ministro da Fazenda, sem uma única medida efetiva para enfrentar uma situação que se agrava a cada momento, dizer uma coisa dessas?

Porém, Mantega diz qualquer coisa. No mesmo discurso: “[a indústria] vai desacelerar não só nos países europeus, mas também na China e no Brasil”.

A indústria, no Brasil, não “vai desacelerar”, pois há nove meses está caindo. Mas é evidente que Mantega está se lixando. Porém, como é possível conciliar essa frase (ou esta outra: “estamos enfrentando uma crise bastante grave, que não vai ser solucionada no curto prazo”), com “estamos prestes a começar um novo ciclo de expansão forte da economia brasileira”?

Mantega, além de seus outros predicados – incluindo o servilismo aos monopólios financeiros - é um irresponsável, pois é com essa leviandade que trata a política econômica, isto é, a vida das pessoas, de trabalhadores, empresários, homens e mulheres, crianças, jovens e idosos, gente assim como nós todos.

Depois de “prever” que o crescimento seria de 4,5% este ano – ele derrubou-o de 7,5% (2010) para 2,7% em 2011 – Mantega diz que “nos últimos trimestres crescemos bem abaixo da nossa capacidade por causa do impacto da crise”. Previu que cresceremos “entre 4,5 e 5% em 2013 e 2014”. Quando lhe perguntaram quanto cresceremos este ano, disse: “não estou aqui para fazer projeções de PIB”. É mesmo?

Em que interferiu, no Brasil, a crise nos EUA e na Europa? Por que mecanismo? Economia não é meteorologia. As crises são causadas pela conduta dos homens, ainda que muitos deles não percebam. 

Nem o Banco Central, que colaborou para a débàcle com cinco aumentos sucessivos de juros no ano passado, tem mais a cara de pau de afirmar que os problemas atuais do Brasil são por causa da “crise internacional” (na página 74 de seu recente Relatório de Inflação, o BC refere-se à “moderação da atividade doméstica observada no segundo semestre do ano passado, que foi maior do que se antecipava”. Quanto à crise dos países centrais, há somente, de passagem, uma menção acaciana aos “efeitos da complexidade que cerca o ambiente internacional” - o que quer dizer absolutamente coisa alguma).

Então, por que crescemos bem abaixo da nossa capacidade?

Primeiro, porque o sr. Mantega considerou, em janeiro de 2011, que era um terrível risco o Brasil continuar a crescer. Segundo, porque considerou (como, aliás, desde 2006) que a mola da economia deviam ser filiais de multinacionais, isto é, o famigerado “investimento direto estrangeiro” (IDE). Terceiro, porque obstruiu o investimento – e o gasto – público, com uma teoria imbecil de que isso aumentaria o investimento privado. Quarto, Mantega implantou na política econômica o mais desvairado servilismo aos bancos, desde que aquele maluco, Gustavo Franco, foi demitido do BC.

A devastação foi tão violenta na economia brasileira que vários elos da cadeia produtiva deixaram de existir. Assim, como está hoje, com um magote de multinacionais dominando a economia, ela tende à estagnação – e à desindustrialização – porque as filiais de multinacionais pertencem a uma cadeia produtiva que está fora do país. Por isso investem tão pouco, importam tanto e remetem tantos recursos do país para suas matrizes no exterior. Aqui elas apenas montam produtos com componentes – isto é, tecnologia – importados.

Mantega disse na Fiesp que “2012 é como se fosse 2009, um ano em que as coisas começaram a melhorar no meio do ano”.

Mas o que há de diferente é a política econômica – Lula não deixou Mantega dirigir a política econômica, no que fez muito bem, e alicerçou o crescimento do país em financiamento público, investimento público, gastos (de custeio) públicos e expansão do mercado interno, isto é, aumento do salário real, portanto, aumento do consumo. Com isso, o investimento aumentou +21,3% (2010).

Hoje, o financiamento público, no BNDES, está tomado pelas multinacionais (70% dos empréstimos acima de R$ 100 milhões em 2011). 

O investimento público está beirando o ridículo – uma publicação do IPEA mostra uma queda de -14,43% no investimento do governo federal (administração direta) de 2010 para 2011. Na verdade, a queda é maior (-22,57%), se considerarmos somente o efetivamente liberado pelo caixa do governo. Em 2012, até o último dia 3, só foram efetivamente liberados 15,82% da verba para investimentos. Quanto às estatais, até o fim de maio só haviam sido executados R$ 23,6 bilhões, incluindo a Petrobrás – e no mesmo período do ano passado, essa quantia era ainda menor: R$ 19,8 bilhões (cf. IPEA, “Conjuntura em Foco”, nº 19, ano 4, junho de 2012, pág. 9 e “LOA 2012, Execução Orçamentária GND”, cons. 03/07/2012).

Quanto aos gastos de custeio, leitor, com os servidores em greve, nem é preciso explicar.

Por fim, a expansão do mercado interno foi freada, através de um arrocho salarial – em cima dos servidores e aposentados, mas também do salário-mínimo em 2011 – e uma campanha contra os aumentos reais em geral. Mantega disse aos empresários: “Temos pressão para o aumento de servidores. Temos que ter muito cuidado com isso, não podemos brincar em serviço em tempos de crise”, porque o “aumento salarial dos servidores públicos [é um] risco fiscal”. E ainda disse que os salários do funcionalismo já são muito altos, exemplificando com os servidores do Judiciário (naturalmente, não é original misturar ministros do STF com o contínuo de uma Vara Federal; é apenas canalha).

Ele estava falando em arrochar salários diante de 400 empresários. Que mensagem ele estava passando para os empresários? É tão óbvia que não necessitamos dizer.

Aqui o reacionarismo se confunde com a burrice: não há saída para o país, senão expandindo o seu mercado interno – o que implica em aumento do salário real. Para quem as empresas nacionais vão vender os seus produtos, mais ainda no momento atual, se não for para os habitantes do país? Mas ele somente se importa com as filiais de multinacionais, que para cá vieram explorar mão de obra barata e vender para as camadas mais favorecidas – o que implica em concentração de renda, monopolização e arrocho salarial.

Numa situação em que devido às suas próprias medidas, a indústria nacional está acabando (ou sendo acabada), levando consigo o crescimento, o risco perigosíssimo que Mantega vê é... o Congresso ser sensível aos servidores, estudantes e aposentados que querem “quebrar o Estado brasileiro” (sic) com aumentos salariais (depois de dois anos sem qualquer reajuste), com mais verbas para a educação e com a mínima recomposição de pensões e aposentadorias. Assim convocou os empresários para que pressionem o Congresso para não aprovar nenhum “projeto com forte impacto sobre as contas públicas”. De onde se conclui que a função do Congresso é discutir abobrinhas.

Mantega está cada vez mais parecido com Mussolini – com uma diferença: Mussolini era mais sério (e, apesar de ser também uma besta, era mais inteligente).



terça-feira, 3 de julho de 2012

PROIFES: “Governo não negocia, desqualifica e desvaloriza o serviço público. Greve é a resposta”


Eduardo Rolim, presidente da Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior, defende mobilização contra o arrocho

Leonardo Wexell Severo

Aumento salarial que corrija a defasagem de cerca de 15%, reestruturação da carreira e correção das distorções existentes são as três principais reivindicações da Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (PROIFES-Federação) para por fim à greve que se espalha e ganha força pelo o país.

“Estamos sem reajuste desde 2010. Falaram que iríamos ter uma melhor relação da folha de pagamento com o PIB, mas, ao contrário, os professores, assim como o conjunto dos servidores públicos, estão sofrendo um retrocesso salarial”, denuncia Eduardo Rolim de Oliveira, presidente do PROIFES.

Conforme Eduardo, “o fato é que o governo não negocia, desqualifica e desvaloriza o serviço público com sua política de contenção das contas públicas”. Embora o PROIFES tenha sempre apostado no diálogo, esclareceu, “como as inúmeras promessas feitas nas mesas de negociação ao longo do tempo foram sucessivamente descumpridas, a greve foi o único caminho para garantir nossos direitos”.

RETROCESSO

Entre os absurdos que chegaram a ser propostos pelo governo federal está a redução drástica dos adicionais de insalubridade e periculosidade, o que agravaria ainda mais o arrocho. “Felizmente conseguimos que o relator da Comissão Mista do Congresso, Eduardo Braga, retirasse essa mudança do texto”, lembra Eduardo. No caso dos médicos, o governo chegou a propor uma MP que dobrava a jornada de trabalho e mantinha os mesmos valores. Unida e mobilizada, a categoria foi à greve e derrotou o achincalhe.

“O fato é que ao priorizar o pagamento de juros e serviços da dívida ao sistema financeiro, em detrimento das políticas sociais, o governo tem contaminado e desfeito importantes políticas do governo Lula. Arrochar para sobrar recursos para o superávit primário vai na contramão das necessidades do país e do povo brasileiro”, reforça Pedro Armengol, diretor executivo da CUT e coordenador do setor público da CUT.

O fato é que para implementar a política de arrocho, a negociação foi substituída pela enrolação. “Vínhamos numa boa perspectiva de valorização dos serviços e dos servidores, com negociações e prazos sendo respeitados. Hoje temos visto sucessivas reuniões serem suspensas sem que o governo se posicione, o que só aumenta a frustração e estimula o movimento grevista”, acrescentou Eduardo.

 

Publicado no site da CUT