Pensatempo: Manifestantes derrotam repressão e reocupam Wall Street

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Manifestantes derrotam repressão e reocupam Wall Street



Diante da tomada do centro financeiro do império por estudantes, sindicalistas, organizações comunitárias e sociais - manifestantes do “Ocupa Wall Street” - que reivindicam o fim do privilégio aos bancos e um basta na imensa concentração de riqueza, o governo dos Estados Unidos trocou George Washington por Washington Luiz, tratando o grave problema social como caso de polícia.

A violência da repressão, com a utilização de centenas de policiais, helicópteros, caminhões, balas, bombas e nuvens de gás lacrimogêneo, multiplicou o número de presos e feridos graves em Nova Iorque e em algumas das 100 principais cidades por onde o protesto, que já dura dois meses, se espraia. A agressão e o sangue derramado provocaram um tsunami de solidariedade ao movimento, ridicularizando as cínicas pregações de Barack Obama e Hillary Clinton sobre “democracia” e “direitos humanos”. 

A evacuação do acampamento ocorreu no meio da noite com tropas amparadas por holofotes de helicópteros e imensos faróis em caminhões para cegar com jatos de luz, somada a uma camioneta com ensurdecedores “canhões de som”. Os policiais ganharam carta branca para atuar com a segurança da impunidade – diante do brutal impedimento a qualquer cobertura da imprensa. Foram confirmadas várias prisões de jornalistas, incluindo dois da AP (Associated Press), um do Daily News e um blogueiro do New York Times, além do vereador Ydanis Rodriguez. Tais ingredientes turbinaram a reação à ditadura do capital financeiro.

A reprovação popular vai além das duras críticas ao desastre político-econômico que isenta impostos dos ricaços em meio à escalada do desemprego – que atinge 25 milhões de pessoas - e ao alastramento da miserabilidade que atinge 49 milhões de norte-americanos. Os protestos aumentam de tom, indo à própria raiz antidemocrática de um sistema “caduco” que, privilegiando 1%, dá às costas aos 99%.

Como expressou um manifestante expulso por policiais da Praça Liberdade, em Nova Iorque, durante a madrugada: “Não podem desalojar uma ideia cujo momento chegou”. Outra mensagem postada nas redes sociais ironizava o fato da polícia ter ocupado a praça: “Só esperamos entender quais são as suas demandas”. A crítica é uma alusão ao argumento corriqueiramente utilizado pelos meios de comunicação a serviço dos especuladores, de que falta ao movimento Ocupa uma plataforma. É assim que a mesma mídia que invisibilizou as reivindicações durante as primeiras três semanas - e que agora desinforma sobre os seus pleitos – tem pautado as suas coberturas.

Em Nova Iorque, a ordem de expulsão ocorreu a uma da manhã, quando foi dado aos manifestantes apenas dez minutos para deixar o local, sob pena de prisão. A biblioteca de cinco mil livros foi completamente desmantelada e virou escombros, assim como a cozinha que oferecia comida grátis, a clínica que atendia a todos, o centro de comunicação e, logicamente, as barracas onde pernoitavam cerca de 200 pessoas. No total, 146 manifestantes da praça e outros 24 que haviam ocupado um pequeno parque – que se negaram a abandonar o local - foram cercados, algemados e presos, um a um, e jogados ao chão sob as botas dos policiais.

Contatadas via celular e internet, centenas de pessoas que se deslocaram em solidariedade aos acampados no meio da noite foram impedidas de chegar ao local e mantidas distantes pela truculência policial. “Como podem dormir à noite fazendo isso?”, “Desobedeça as ordens, tu também és dos 99%”, “Isto não é o fim de nada, é o início de algo novo”, foram algumas das conclamações e questionamentos lançadas pelos populares que conseguiram chegar até o local, apesar do fechamento das estações de metrô e demais meios de transporte durante horas. Um indignado veterano de guerra disparou: “Eu dei sangue e partes do corpo por este país para isso?”
Ao anoitecer de terça-feira uma decisão judicial manteve a proibição do acampamento, impedindo os manifestantes de levar barracas ou comidas à praça. Determinados, os “indignados” não arredaram pé e reocuparam, erguendo a voz: “Todo o dia, toda a semana, ocupa Wall Street”.

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