Pensatempo

sexta-feira, 15 de março de 2013

Em vez de PNBL, privilégios a monopólio: ministro Paulo Bernardo anuncia “desoneração” de R$ 6 bilhões


Com lucro semelhante ao dos bancos, teles ganham isenção

De Carlos Lopes, no jornal Hora do Povo


De que ri o ministro Paulo Bernardo?
Somente entre 2005 e 2012, a receita líquida - ou seja, depois de pagos os impostos e feitos alguns descontos - dos monopólios de telecomunicações no Brasil montou a R$ 911 bilhões e 437 milhões, quase um trilhão de reais.
Os números de cada ano estão na Pesquisa Anual de Serviços do IBGE (e, no caso de 2011 e 2012, como ainda não foram publicadas as pesquisas do IBGE referente a esses anos, usamos os números do próprio balanço das teles).
Quase um trilhão de reais, depois de pagos os impostos. São esses pobres oprimidos e explorados pelos terríveis impostos que o Estado brasileiro lhes cobra, que o ministro Paulo Bernardo, na última terça-feira, resolveu “desonerar” em nada menos do que R$ 6 bilhões. Diz Bernardo que, com essa isenção de impostos, ele espera que as teles façam investimentos de R$ 18 bilhões até 2016.
O ministro deveria ler os balanços das teles. Saberia, por exemplo, que a Telefónica/Vivo declarou que fez investimentos de R$ 6,117 bilhões em 2012 – e, só nos últimos três anos (2010, 2011 e 2012), dizem os balanços, a Telefónica investiu, no Brasil, R$ 16 bilhões e 788 milhões! O mesmo, mais ou menos, fizeram as outras teles – no balanço.
Isso, sem qualquer “desoneração” de impostos. Então, porque precisariam de R$ 6 bilhões de isenção para – todas juntas e somadas – investirem apenas R$ 18 bilhões até 2016?
Sobretudo se considerarmos que, desde 1998 – ou seja, desde a privatização -, as teles receberam do BNDES, em financiamentos para investir, R$ 38 bilhões e 381 milhões.
Certamente que o investimento declarado pelas teles em seus balanços é uma farsa. Mas o próprio fato de declararem esses “investimentos” e mesmo assim lucrarem quase tanto quanto os quatro maiores bancos instalados no país, mostra que elas não precisam de “desoneração” alguma para investir – o necessário é que o poder público (o Ministério das Comunicações, antes de tudo) acabe com essa farsa.
Porém, se elas não investiram foi porque sua opção preferencial é aumentar os lucros para remetê-los ao exterior. Entre 2002 e 2011 as remessas de lucros oficiais (ou seja, declaradas oficialmente) das teles para suas matrizes aumentaram 1.099,51%. Mesmo em 2012, ano em que elas diminuíram um pouco, atingiram US$ 1,027 bilhão (1 bilhão e 27 milhões de dólares), sem contar os pagamentos de empréstimos intercompanhias e outros artifícios para enviar lucros sem declará-los.
No entanto, o próprio ministro Bernardo declarou que as teles estavam “retardando” seus investimentos. Como “retardando”? E os balanços que elas publicaram? Será que o ministro acha que os investimentos que constam dos balanços das teles não são reais? Não acreditamos...
Porém, em vez de responder a um inquérito policial, as teles receberam R$ 6 bilhões em isenção de impostos, mais a promessa de acabar com o regime público  na telefonia (apesar de que, segundo o ministro, “isso não foi conversado com a presidente Dilma e precisamos da autorização dela para tocar pra frente”) e, ainda por cima, Bernardo falou em recursos do PAC para investir em redes de fibra ótica. Que redes? Somente pode ser a rede das teles, pois a do governo já existe há muito – e as teles, há muito, querem usá-la.
A “desoneração” do ministro Paulo Bernardo, portanto, é um plano para substituir a rede de cabos de cobre das teles por redes de fibra ótica, às custas do Erário, ou seja, do distinto público. Em vez delas gastarem uma parte dos seus lucros (só o lucro líquido da Telefónica, em 2012, foi mais de R$ 4 bilhões), gastarão dinheiro público – os impostos que não pagarão ao Estado.
Isso, na melhor das hipóteses. Podem, também, embolsar essa “desoneração”, ou seja, aumentar sua margem de lucro à custa de não pagar impostos, e continuar declarando investimentos fantásticos em seus balanços.
Hoje, depois de tudo o que aconteceu desde 1998, ninguém duvidaria dessa possibilidade - exceto alguma besta, que sempre as há por aí.
O plano do governo Lula, elaborado pelo engenheiro Rogério Santanna, primeiro presidente da Telebrás após sua reativação, era utilizar a rede de fibras óticas das estatais – especialmente a Eletrobrás e a Petrobrás – para universalizar a banda larga. Em suma, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) partia do reconhecimento de que as teles, com seus preços extorsivos e sua concentração nos aglomerados de maior renda do país,  eram incapazes de universalizar até mesmo a telefonia fixa, inventada por Antonio Meucci em 1856 - quanto mais a banda larga.
Como declarou o então presidente da Telebrás ao HP:
Vislumbramos, então, a seguinte proposta: (…) Em lugar de carregar o passado, o cabo de cobre, todas as tecnologias antigas, nós podíamos usar essa infraestrutura [de fibras óticas estatais] para criar uma rede independente – deixar as teles com a rede delas e criar uma rede neutra, pública. A partir de uma tecnologia mais nova, mais barata, gerar essa rede neutra e vender serviços só no atacado” (HP, 22/10/2010, entrevista de Rogério Santanna).
A venda de serviços no varejo (a chamada “última milha”, a conexão até a casa ou estabelecimento do usuário) seria feita por empresas nacionais privadas. Como disse Santanna, “não precisamos fazer a 'última milha', porque os pequenos provedores associados podem fazê-la, e nós vamos gerar milhares de oportunidades de negócios que hoje são reprimidos”.
O que fez Paulo Bernardo foi acabar com o PNBL – em primeiro lugar, amofinando a presidente Dilma para demitir o seu criador da presidência da Telebrás. O objetivo de Bernardo era – mas, hoje, é mais – evidente: privilegiar as teles, uma quadrilha de monopolistas que nem mesmo construiu suas empresas: pelo contrário, receberam de presente o resultado de décadas de esforço do povo brasileiro. E, para quem estranhe esse “de presente”, lembremos, além do patrimônio dessas empresas, que, na época da privatização, Aloysio Biondi demonstrou que o governo Fernando Henrique gastou mais na “preparação” das empresas estatais de telecomunicações para privatizá-las, do que recebeu por elas. Estamos nos referindo, é natural, ao que foi recebido legalmente.

terça-feira, 12 de março de 2013

Gleisi, a MP 595 e a privatização dos portos



MP permite que o “negociado" passe por cima da lei, jogando no lixo o órgão gestor

Carlos Lopes, no jornal Hora do Povo

Marcha das centrais condenou a privatização dos portos
Em artigo na "Folha de S. Paulo", a ministra Gleisi Hoffman garante que "a medida provisória 595, que altera regras de exploração dos portos, não trata de privatização por uma razão simples: a operação do sistema portuário no Brasil já é privada".
A ministra, pelo jeito, ainda não sabe que a operação de um porto – a movimentação de mercadorias ou passageiros - não é a mesma coisa que sua administração. Dos 34 portos públicos brasileiros, 18 são administrados por sete Companhias de Docas, nas quais a participação do governo federal varia de 97,97% (Bahia) a 100% (Pará), e os outros 16 portos públicos são administrados por governos estaduais ou municipais.
O que a MP 595 faz, no parágrafo único de seu artigo 4º, é permitir a transferência da administração dos portos públicos para mãos privadas – e a isso chama-se privatização. Já que a ministra não leu a MP que defende, transcrevemos esse parágrafo único do artigo 4º: "O contrato de concessão poderá abranger, no todo ou em parte, a exploração do porto organizado e sua administração". Para que a ministra também não se confunda, "porto organizado" é como a lei, há 20 anos, chama os portos públicos.
Em todo o mundo, a administração do porto é o que se chama Autoridade Portuária (AP) – no Brasil, seu órgão deliberativo, em cada porto, é o Conselho da Autoridade Portuária (CAP), que era formado por representantes do Poder Público, dos trabalhadores, dos operadores e dos usuários do porto. A MP 595 extingue os atuais Conselhos da Autoridade Portuária (CAPs) e estabelece outros, com o mesmo nome, cuja composição será conhecida com a publicação de um regulamento. Obviamente, o governo quer alterar a composição atual dos Conselhos da Autoridade Portuária. E, infelizmente, não parece ser para reforçar o Poder Público, ou o poder dos trabalhadores, nessa composição...
Tanto assim que a MP 595 esvazia a Autoridade Portuária, transferindo suas funções para a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Com isso e com a extinção dos CAPs na forma atual, em que trabalhadores e empresários podiam decidir, com o Poder Público, a administração do porto, concede um poder desmedido a supostos (futuros) açambarcadores externos dos portos públicos.
Mas, se a ministra acha que os portos já foram privatizados, por que, em seu artigo, insiste tanto que "o objetivo da medida é melhorar a competitividade do setor", que "é necessário quebrar reservas de mercado que não se justificam no mercado global", que o governo, com essa MP, está "quebrando barreiras e reservas de mercado" e, no jargão do FMI, "faz mais que o dever de casa"?
Para quem acha que melhorar a competitividade é privatizar, de que "barreiras e reservas de mercado" estará ela falando, se acha, também, que os portos já foram privatizados?
É óbvio que, nesse raciocínio, se assim o podemos chamar, são os direitos dos trabalhadores que falta quebrar. É óbvio porque não sobrou outra coisa, se ela considera que os portos já foram privatizados, apesar de suas juras sobre a lei trabalhista (como se os direitos dos trabalhadores se resumissem à legislação trabalhista).
Por isso, a MP 595 estabelece um privilégio para os "terminais privados" (isto é, aqueles fora da área dos "portos organizados", que hoje já são 102 no Brasil): "Artigo 28º Os operadores portuários devem constituir em cada porto organizado um órgão de gestão de mão de obra do trabalho portuário".
Ou seja, isso somente vale para os "portos organizados", isto é, públicos. Os terminais privados fora da área do porto organizado são autorizados a operar com cargas de terceiros (exatamente como os "portos organizados"), mas não são obrigados a constituir um "órgão de gestão de mão de obra do trabalho portuário", o que é agravado por um artigo anterior: "Art. 26. A operação portuária em instalações localizadas fora da área do porto organizado será disciplinada pelo titular da respectiva autorização, observadas as normas estabelecidas pelas autoridades".
Os trabalhadores contratados por esses terminais privados nem precisam ser considerados portuários – com os benefícios que tal condição lhes assegura – porque o artigo 40º da MP 595 permite a "contratação de trabalhadores a prazo indeterminado" de "categorias econômicas preponderantes".
A MP 595 também abole a proibição de que o operador do porto faça contratos de trabalho temporários, proibição que constava do artigo 45 da Lei dos Portos (lei 8.630/93).
E, para aquilatar o que valem certas juras de amor aos direitos dos trabalhadores, o parágrafo único do artigo 28 permite que o "negociado" passe por cima da lei, jogando no lixo o órgão gestor. Literalmente: "Artigo 28º Parágrafo único. Caso celebrado contrato, acordo ou convenção coletiva de trabalho entre trabalhadores e tomadores de serviços, o disposto no instrumento precederá o órgão gestor e dispensará sua intervenção nas relações entre capital e trabalho no porto".

quarta-feira, 6 de março de 2013

50 mil em Brasília saúdam Chávez, defendem investimento público e execram passado neoliberal

Marcha da Classe Trabalhadora e dos Movimentos Sociais destaca necessidade de fortalecer o mercado interno para avançar com mais salário, emprego e direitos
Leonardo Wexell Severo,
 de Brasília
Mais de 50 mil manifestantes tomaram a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nesta quarta-feira (6) para defender a pauta da classe trabalhadora, que enfatiza a necessidade de ampliar os investimentos públicos em infraestrutura e nas áreas sociais, fortalecer o mercado interno e redistribuir renda, execrando o receituário neoliberal de arrocho e precarização de direitos que tem vitaminado a crise nos países capitalistas centrais.
Contando com a participação de baterias de escolas de samba e bloco de baianas, a sétima Marcha das Centrais Sindicais e Movimentos Sociais por “Cidadania, Desenvolvimento e Valorização do Trabalho” homenageou o presidente venezuelano Hugo Chávez – falecido terça-feira – “pela sua abnegação em defesa da soberania e da integração latino-americana”, e a luta feminista, ainda mais reforçada às vésperas do Dia Internacional da Mulher, por “igualdade de salários e de direitos”.
Concentrados desde as primeiras horas da manhã em frente ao estádio Mané Garrincha, militantes da CUT, CGTB. CTB, Força Sindical, NCST e UGT se revezavam nos caminhões de som para defender sua pauta. “Estamos pressionando para que o governo e o Congresso melhorem sua relação com os movimentos sindical e social e cumpram seus compromissos com a sociedade, o que não está ocorrendo”, declarou a presidenta estadual da CUT Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, à frente de uma caravana de 27 ônibus.
48 HORAS DE BUSÃO
Para cobrar atendimento às suas reivindicações, dezenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras encararam longas jornadas. Um dos tantos exemplos, a delegação da Federação dos Municipários do Rio Grande do Sul levou 48 horas de ônibus para somar sua voz. Na Marcha, uma das prioridades da categoria é a regulamentação da Convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que estabelece a negociação coletiva no serviço público. “Essa é uma das tantas demonstrações coletivas de compromisso com a luta que tão bem caracterizam a militância cutista. Sabemos que a conquista é fruto das batalhas e que mudanças estruturais como as que estamos propondo vão exigir muito empenho, unidade e mobilização da base”, declarou o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo.
AMPLIAÇÃO DA LICENÇA-MATERNIDADE
Em frente às tendas das centrais, a coordenadora do Coletivo de Mulheres da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf-Sul), Cleunice Back, colhia assinaturas pela obrigatoriedade da licença-maternidade de seis meses a todas as mulheres trabalhadoras. “Precisamos alterar o conteúdo da Lei 11.770, que facultou a prorrogação da licença-maternidade por mais 60 dias para as trabalhadoras urbanas. Queremos que seja tornada obrigatória a concessão de licença maternidade pelo período de 180 dias para trabalhadoras urbanas e rurais”, disse Cleunice, apontando que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) defende a necessidade desses seis meses iniciais de contato mãe e filho para assegurar uma vida mais saudável, o que também diminuirá os custos dos governos com o setor.
A secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva, apontou a relevância “deste momento de luta para afirmar a pauta feminista”. Um dos projetos de lei prioritários para as mulheres cutistas, recordou, é o PL que prevê que as empresas privadas e públicas tenham comissões internas para discutir o tema das mulheres nos locais de trabalho. “Isso é chave para debatermos a questão da igualdade salarial, das condições de ascensão profissional, o fim do assédio moral e sexual. Mas há muita resistência do empresariado no Congresso Nacional”, denunciou.
Recepcionando as caravanas,o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo Cayres, avaliou que a realização de uma Marcha com tamanha magnitude “amplia infinitamente o poder de barganha dos trabalhadores”. “O foco dado ao fim do fator previdenciário, que é um estelionato nos ganhos do trabalhador que se aposenta, e na redução da jornada teve grande receptividade, mas é preciso ir além e lutar para que se ampliem os investimentos no nosso país e impedir que a redução dos juros sirva apenas para alimentar o lucro dos patrões. É preciso redistribuir  renda”, acrescentou Paulão.
Para o coordenador do Coletivo dos Trabalhadores Indígenas do Mato Grosso do Sul, José Carlos Pacheco, a Marcha acertou em cheio ao unificar a atuação conjunta entre movimentos sindical e social, “pois amplifica lutas comuns, o que coloca pressão para que sejam atendidas mais rapidamente”.
Secretário Nacional de Juventude da CUT, Alfredo Santos Júnior acredita que bandeiras “como a redução da jornada de trabalho são essenciais para conciliar trabalho com estudo, assim como a luta pelos 10% do PIB para a educação e o trabalho decente”. “Hoje temos 67 milhões de jovens, com mais pessoas na população economicamente ativa do que na Previdência, tendência que deve se inverter em 2050. Então, é o momento de aproveitarmos este bônus geracional para pensar lá na frente, para valorizarmos a seguridade, para dar melhores condições para a Previdência pública”, ressaltou.
VAGNER: "CHÁVEZ ESTÁ PRESENTE!"
Diante de um mar de faixas e bandeiras que cobriram a frente do Congresso Nacional, o presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, fez uma saudação especial ao presidente Hugo Chávez, que junto com Lula lutou para construir uma integração inclusiva, com base na soberania e na autodeterminação de nossos países e povos, e não na submissão a quem quer que seja. Em frente ao caminhão de som convertido em palanque a CUT ergueu uma grande faixa com o rosto do presidente venezuelano e os dizeres “Hugo Chávez, presente!”.
Em sua saudação, Vagner Freitas lembrou que todas as conquistas obtidas pelos trabalhadores no último período, como a política nacional do salário mínimo, se deveram à atuação unitária das centrais, mais do que nunca afinadas pela redução da jornada para 40 horas semanais, o fim do fator previdenciário, 10% do PIB para a educação, negociação coletiva no setor público, reforma agrária, 10% do orçamento da união para a saúde, combate à demissão imotivada, valorização das aposentadorias, salário igual para trabalho igual entre homens e mulheres, correção da tabela do Imposto de Renda e mais investimentos.
“A CUT afirma em alto e bom tom: a ação conjunta fortalece o nosso protagonismo. Hoje não vamos apenas entregar nossa pauta à presidenta Dilma, mas defender que se consolide um processo de negociação perene com o governo, como se fosse uma grande Campanha Nacional Unificada das centrais, que garanta avanços, fundamentais para a sustentação do projeto democrático e popular que ela representa”, declarou Vagner Freitas. Na avaliação do dirigente da CUT medidas como a desoneração da folha de pagamento sem contrapartidas sociais acabam atendendo apenas o capital, sem contemplar as necessidades dos trabalhadores.
Várias confederações, federações e sindicatos cutistas também empunharam bandeiras contra a MP 595, “em defesa do patrimônio público nacional, dos empregos e dos direitos dos portuários” e contra os leilões do petróleo, anunciados pelo governo para os próximos meses.
Distribuído amplamente em Brasília, o jornal das centrais manifestou sua solidariedade com os trabalhadores portuários e petroleiros, “mobilizados em defesa do patrimônio público nacional, diante das ameaças de privatização e das concessões em curso”. Tais medidas governamentais, alertam as centrais, “permitem que as transnacionais – vitaminadas com financiamentos públicos via BNDES – avancem sobre setores estratégicos da nossa economia, comprometendo o desenvolvimento soberano do país”.
O presidente da Federação Nacional dos Portuários, Eduardo Guterra, ressaltou o empenho da CUT no enfrentamento aos graves problemas criados pela MP 595, e listou cinco pontos prioritários para serem resolvidos: a isonomia entre portos públicos e privados; a contratação dos trabalhadores via Órgão Gestor da Mão de Obra (OGMO); impedir a privatização das atividades portuárias; manter a guarda portuária e garantir maior autonomia aos Estados.
O avanço do salário mínimo de um patamar de 54 dólares para mais de 300 dólares, lembrou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, é resultado da unidade e da mobilização das centrais. “Se hoje a economia teve um pequeno crescimento ainda, é graças à atuação do sindicalismo, que conseguiu aumento real”, frisou Paulinho.
Saudando a unificação das bandeiras do povo brasileiro, o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah destacou que “além de mostrar a força das centrais, a Marcha demonstra sinergia e compromisso com os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras”. Uma das nossas prioridades, sublinhou Patah, “é o fim do fator previdenciário, uma indignidade que penaliza o trabalhador que deu sua vida, sangue e suor com um redutor de 40% quando mais precisa”.
A unidade da classe trabalhadora também foi apontada como um instrumento estratégico de "luta e de conquista" pelo presidente da Central Geral dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CGTB), Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira), que reiterou ser necessário "ampliar os investimentos públicos para que o país avance de forma significativa no caminho do desenvolvimento, com mais salários, empregos e direitos". "A defesa do nosso mercado interno, da nossa indústria, dependem de maior investimento público e da prioridade do governo para as empresas genuinamente nacionais",  asseverou Bira.
Para o presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), José Calixto Ramos, essa não foi uma simples marcha, mas "a marcha da integração nacional, que sublinhou a necessidade da valorização dos salários como alavanca propulsora da economia do país". Calixto defendeu uma ação redobrada do movimento sindical brasileiro contra as terceirizações e a precarização do trabalho.
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, enfatizou que é hora do Congresso Nacional votar questões de interesse do povo brasileiro, do trabalho e não só do capital. Destacando a importância de uma maior pressão sobre o governo e o parlamento, Wagner lembrou a atuação destacada de senadores como Paulo Paim (PT-RS) e Inácio Arruda (PCdoB-CE), em especial pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salário.

segunda-feira, 4 de março de 2013

“Johnny vai à guerra” com o FNDC




Leonardo Wexell Severo

Após ser vitimado por uma explosão durante a Primeira Guerra Mundial, o soldado Joe Bonham acorda, mutilado, num leito de hospital, e tenta se comunicar em busca de alguma informação sobre a sua situação. Aos poucos - sem braços, pernas, olhos, orelhas, dentes, maxilar e língua - vai tomando consciência, descobrindo que o que restou de seu corpo praticamente lhe impossibilita o diálogo, reduzido que está à mera experiência do complexo militar estadunidense.

Cena do filme Johnny vai à guerra: crítica demolidora
Batendo a cabeça na cama, busca por meio do código morse alertar que não é apenas um “pedaço de carne” e quer ver atendido um único desejo: ser exposto para mostrar a todos o real significado da palavra guerra. Condenado ao silêncio perpétuo, sem a liberdade de expressão para alertar sobre o circo de horrores do qual se vê prisioneiro - sustenta o soldado coisificado - a vida não teria sentido.

Enquanto a agonia da realidade pulsa na tela em preto e branco, a narrativa do que foi o jovem – seus sonhos e devaneios – nos perturbam em cores vivas com a cadência de um monólogo interior. “Johnny vai à guerra”, do escritor e roteirista estadunidense Dalton Trumbo, uma das tantas vítimas da perseguição do fascismo macarthista, desmonta a máquina de guerra e suas mentiras.

“Senil imprensa infantil” - como Marx caracterizou um dos tantos jornais de seu tempo -, usada para deletar nossa memória, a velha mídia tenta, pela repetição à exaustão de canções de ninar, adormecer nossa consciência. Apóstola da mentira, sobrevive do caldo da incultura e maniqueísmo de suas Globos e Vejas, temendo a democratização da comunicação como um vampiro treme diante da luz.

As recentes declarações do Ministério das Comunicações servem a esta “liberdade do privilégio” e nos fazem refletir sobre o alerta do escritor moçambicano Mia Couto: “entre parecer e ser vai menos que um passo, a diferença entre um tropeço e uma trapaça”.

O secretário executivo de dito balcão dos barões da mídia e das teles alega que “em ano pré-eleitoral” – quem dirá no eleitoral, que no Brasil é de dois em dois anos - não seria adequado trazer à tona o debate sobre a regulamentação do setor. Talvez porque afugentaria financiadores tão prestativos de algumas candidaturas amestradas. De quebra, para não deixar qualquer margem de dúvida, o Ministério anuncia R$ 60 bilhões em isenções para vitaminar as empresas de telecomunicações – quase todas estrangeiras – colocando uma pá de cal na Telebrás e no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) proposto pelo governo Lula.

A campanha que o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), entidades populares e movimentos sociais coloca nas ruas exige um novo marco regulatório para o setor, alertando, dialogando e mobilizando a sociedade contra o inconstitucional oligopólio midiático, que se crê invulnerável e inatingível.

Felizmente, apesar da ausência de apoio governamental, a mídia alternativa cresce, espraia consciências e vem fortalecendo a estratégica iniciativa do FNDC. E a bela canção começa a unir vozes e a incomodar a orquestra de cifrões e obediências.

Contra os que prostituem a verdade e acreditam que assim será para todo o sempre, é bom lembrar o general imperialista – tão bem ridicularizado por Eduardo Galeano -, que se media ao despertar e a cada dia se achava mais alto. Até que uma bala interrompeu seu crescimento.

Que assim seja.