Marcha da Classe
Trabalhadora e dos Movimentos Sociais destaca necessidade de fortalecer o
mercado interno para avançar com mais salário, emprego e direitos
Leonardo Wexell Severo,
de Brasília
Mais de 50 mil
manifestantes tomaram a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nesta
quarta-feira (6) para defender a pauta da classe trabalhadora, que enfatiza a
necessidade de ampliar os investimentos públicos em infraestrutura e nas áreas
sociais, fortalecer o mercado interno e redistribuir renda, execrando o
receituário neoliberal de arrocho e precarização de direitos que tem vitaminado
a crise nos países capitalistas centrais.
Contando com a
participação de baterias de escolas de samba e bloco de baianas, a sétima
Marcha das Centrais Sindicais e Movimentos Sociais por “Cidadania,
Desenvolvimento e Valorização do Trabalho” homenageou o presidente venezuelano
Hugo Chávez – falecido terça-feira – “pela sua abnegação em defesa da soberania
e da integração latino-americana”, e a luta feminista, ainda mais reforçada às
vésperas do Dia Internacional da Mulher, por “igualdade de salários e de
direitos”.
Concentrados desde as
primeiras horas da manhã em frente ao estádio Mané Garrincha, militantes da
CUT, CGTB. CTB, Força Sindical, NCST e UGT se revezavam nos caminhões de som
para defender sua pauta. “Estamos pressionando para que o governo e o Congresso
melhorem sua relação com os movimentos sindical e social e cumpram seus
compromissos com a sociedade, o que não está ocorrendo”, declarou a presidenta
estadual da CUT Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, à frente de uma caravana de 27
ônibus.
48 HORAS DE BUSÃO
Para cobrar atendimento às
suas reivindicações, dezenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras
encararam longas jornadas. Um dos tantos exemplos, a delegação da Federação dos
Municipários do Rio Grande do Sul levou 48 horas de ônibus para somar sua voz.
Na Marcha, uma das prioridades da categoria é a regulamentação da Convenção 151
da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que estabelece a negociação
coletiva no serviço público. “Essa é uma das tantas demonstrações coletivas de
compromisso com a luta que tão bem caracterizam a militância cutista. Sabemos
que a conquista é fruto das batalhas e que mudanças estruturais como as que
estamos propondo vão exigir muito empenho, unidade e mobilização da base”,
declarou o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo.
AMPLIAÇÃO DA
LICENÇA-MATERNIDADE
Em frente às tendas das
centrais, a coordenadora do Coletivo de Mulheres da Federação dos Trabalhadores
na Agricultura Familiar (Fetraf-Sul), Cleunice Back, colhia assinaturas pela
obrigatoriedade da licença-maternidade de seis meses a todas as mulheres
trabalhadoras. “Precisamos alterar o conteúdo da Lei 11.770, que facultou a
prorrogação da licença-maternidade por mais 60 dias para as trabalhadoras
urbanas. Queremos que seja tornada obrigatória a concessão de licença maternidade
pelo período de 180 dias para trabalhadoras urbanas e rurais”, disse Cleunice,
apontando que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) defende a
necessidade desses seis meses iniciais de contato mãe e filho para assegurar
uma vida mais saudável, o que também diminuirá os custos dos governos com o
setor.
A secretária nacional da
Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva, apontou a relevância “deste momento
de luta para afirmar a pauta feminista”. Um dos projetos de lei prioritários
para as mulheres cutistas, recordou, é o PL que prevê que as empresas privadas
e públicas tenham comissões internas para discutir o tema das mulheres nos
locais de trabalho. “Isso é chave para debatermos a questão da igualdade
salarial, das condições de ascensão profissional, o fim do assédio moral e
sexual. Mas há muita resistência do empresariado no Congresso Nacional”,
denunciou.
Recepcionando as
caravanas,o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo
Cayres, avaliou que a realização de uma Marcha com tamanha magnitude “amplia
infinitamente o poder de barganha dos trabalhadores”. “O foco dado ao fim do
fator previdenciário, que é um estelionato nos ganhos do trabalhador que se
aposenta, e na redução da jornada teve grande receptividade, mas é preciso ir
além e lutar para que se ampliem os investimentos no nosso país e impedir que a
redução dos juros sirva apenas para alimentar o lucro dos patrões. É preciso
redistribuir renda”, acrescentou Paulão.
Para o coordenador do
Coletivo dos Trabalhadores Indígenas do Mato Grosso do Sul, José Carlos
Pacheco, a Marcha acertou em cheio ao unificar a atuação conjunta entre
movimentos sindical e social, “pois amplifica lutas comuns, o que coloca
pressão para que sejam atendidas mais rapidamente”.
Secretário Nacional de
Juventude da CUT, Alfredo Santos Júnior acredita que bandeiras “como a redução
da jornada de trabalho são essenciais para conciliar trabalho com estudo, assim
como a luta pelos 10% do PIB para a educação e o trabalho decente”. “Hoje temos
67 milhões de jovens, com mais pessoas na população economicamente ativa do que
na Previdência, tendência que deve se inverter em 2050. Então, é o momento de
aproveitarmos este bônus geracional para pensar lá na frente, para valorizarmos
a seguridade, para dar melhores condições para a Previdência pública”,
ressaltou.
VAGNER:
"CHÁVEZ ESTÁ PRESENTE!"
Diante de um mar de faixas
e bandeiras que cobriram a frente do Congresso Nacional, o presidente da CUT
Nacional, Vagner Freitas, fez uma saudação especial ao presidente Hugo Chávez,
que junto com Lula lutou para construir uma integração inclusiva, com base na
soberania e na autodeterminação de nossos países e povos, e não na submissão a
quem quer que seja. Em frente ao caminhão de som convertido em palanque a CUT
ergueu uma grande faixa com o rosto do presidente venezuelano e os dizeres
“Hugo Chávez, presente!”.
Em sua saudação, Vagner
Freitas lembrou que todas as conquistas obtidas pelos trabalhadores no último
período, como a política nacional do salário mínimo, se deveram à atuação
unitária das centrais, mais do que nunca afinadas pela redução da jornada para 40
horas semanais, o fim do fator previdenciário, 10% do PIB para a educação,
negociação coletiva no setor público, reforma agrária, 10% do orçamento da
união para a saúde, combate à demissão imotivada, valorização das
aposentadorias, salário igual para trabalho igual entre homens e mulheres,
correção da tabela do Imposto de Renda e mais investimentos.
“A CUT afirma em alto e
bom tom: a ação conjunta fortalece o nosso protagonismo. Hoje não vamos apenas
entregar nossa pauta à presidenta Dilma, mas defender que se consolide um
processo de negociação perene com o governo, como se fosse uma grande Campanha
Nacional Unificada das centrais, que garanta avanços, fundamentais para a
sustentação do projeto democrático e popular que ela representa”, declarou
Vagner Freitas. Na avaliação do dirigente da CUT medidas como a desoneração da
folha de pagamento sem contrapartidas sociais acabam atendendo apenas o
capital, sem contemplar as necessidades dos trabalhadores.
Várias confederações,
federações e sindicatos cutistas também empunharam bandeiras contra a MP 595,
“em defesa do patrimônio público nacional, dos empregos e dos direitos dos
portuários” e contra os leilões do petróleo, anunciados pelo governo para os
próximos meses.
Distribuído amplamente em
Brasília, o jornal das centrais manifestou sua solidariedade com os
trabalhadores portuários e petroleiros, “mobilizados em defesa do patrimônio
público nacional, diante das ameaças de privatização e das concessões em
curso”. Tais medidas governamentais, alertam as centrais, “permitem que as
transnacionais – vitaminadas com financiamentos públicos via BNDES – avancem
sobre setores estratégicos da nossa economia, comprometendo o desenvolvimento
soberano do país”.
O presidente da Federação
Nacional dos Portuários, Eduardo Guterra, ressaltou o empenho da CUT no
enfrentamento aos graves problemas criados pela MP 595, e listou cinco pontos
prioritários para serem resolvidos: a isonomia entre portos públicos e
privados; a contratação dos trabalhadores via Órgão Gestor da Mão de Obra
(OGMO); impedir a privatização das atividades portuárias; manter a guarda
portuária e garantir maior autonomia aos Estados.
O avanço do salário mínimo
de um patamar de 54 dólares para mais de 300 dólares, lembrou o presidente da
Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, é resultado da unidade e da mobilização
das centrais. “Se hoje a economia teve um pequeno crescimento ainda, é graças à
atuação do sindicalismo, que conseguiu aumento real”, frisou Paulinho.
Saudando a unificação das
bandeiras do povo brasileiro, o presidente da União Geral dos Trabalhadores
(UGT), Ricardo Patah destacou que “além de mostrar a força das centrais, a
Marcha demonstra sinergia e compromisso com os interesses dos trabalhadores e
trabalhadoras”. Uma das nossas prioridades, sublinhou Patah, “é o fim do fator
previdenciário, uma indignidade que penaliza o trabalhador que deu sua vida,
sangue e suor com um redutor de 40% quando mais precisa”.
A unidade da classe
trabalhadora também foi apontada como um instrumento estratégico de "luta
e de conquista" pelo presidente da Central Geral dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CGTB), Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira), que reiterou
ser necessário "ampliar os investimentos públicos para que o país avance
de forma significativa no caminho do desenvolvimento, com mais salários,
empregos e direitos". "A defesa do nosso mercado interno, da nossa
indústria, dependem de maior investimento público e da prioridade do governo
para as empresas genuinamente nacionais",
asseverou Bira.
Para o presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), José Calixto Ramos, essa não foi uma simples marcha, mas "a marcha da integração nacional, que sublinhou a necessidade da valorização dos salários como alavanca propulsora da economia do país". Calixto defendeu uma ação redobrada do movimento sindical brasileiro contra as terceirizações e a precarização do trabalho.
O presidente da Central
dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, enfatizou que
é hora do Congresso Nacional votar questões de interesse do povo brasileiro, do
trabalho e não só do capital. Destacando a importância de uma maior pressão
sobre o governo e o parlamento, Wagner lembrou a atuação destacada de senadores
como Paulo Paim (PT-RS) e Inácio Arruda (PCdoB-CE), em especial pela redução da
jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salário.
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