Pensatempo: O discurso dos anti-chavistas e a desintegração

domingo, 30 de setembro de 2012

O discurso dos anti-chavistas e a desintegração


Estou na Venezuela. Vim de TAM. Afora o péssimo serviço de bordo, sem um filminho ou musiquinha, nas seis horas de voo, a aeromoça sequer falava espanhol. O senhor do meu lado não sabia o que fazer com suas maletas e ela, gentilmente, lhe explicava em um português apressado de quem quer decolar, agora. Dei uma ajuda e isso rendeu uma conversa de quase seis horas entre ele, um administrador de clínica privada, sua esposa dentista e eu. Acho que em outra encarnação devo ter sido monge tibetano, porque meu ouvido foi transformado em penico por longas horas. Mas anotei tudo, tintim por tintim, para socializar a visão da oposição a Chávez em apoio a Capriles, um Collor fora de época e de lugar.
Vejamos oito pontos:
Primeiro – O fato da Unesco ter conferido a Venezuela o título de país livre do analfabetismo não passa de marketing. Chávez comprou a importante instituição da ONU para a cultura, vez em sempre sabotada pelos sucessivos governos dos Estados Unidos.
Segundo – O fato da Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe (CEPAL) colocar o país em terceiro lugar no Continente entre os com menor percentual de pobreza é tudo mentira, propaganda encomendada pelo governo para influir nas eleições, A Cepal informa que, na terra do libertador Simón Bolívar, entre 2002 e 2010, a pobreza diminuiu 20,8% ao passar de 48,6% para 27,8%, enquanto a pobreza extrema reduziu de 22,2% para 10,7%.
Terceiro – Fiquei sabendo que a Bolívia não está progredindo a olhos vistos por ter revertido a lógica entreguista de 85% das riquezas dos hidrocarbonetos para os estrangeiros e 15% para o país, mas porque o governo venezuelano está custeando tudo o que o “índio” Evo Morales necessita.
Quarto – Ainda existem problemas sociais porque a Venezuela “presenteia” os países da Alternativa Bolivariana para as Américas com dezenas de bilhões de dólares a fim de "exportar sua ideologia”. Fiquei sabendo pelos adeptos de Capriles que a integração não é boa para a Venezuela, que só entrou para o Mercosul “pela porta dos fundos”, porque Brasil, Uruguai e Argentina “desrespeitaram a decisão democrática do povo paraguaio”.
Quinto – Através das “Missões”, programas sociais que atacam os principais problemas dos mais pobres, o governo está cevando uma geração de pessoas que não quer mais trabalhar. “Agora ninguém mais quer passar roupa, porque o governo paga quem veste camisa vermelha e vai para a rua se manifestar”.
Sexto – A “geopolítica”, segundo os sábios caprilistas, aponta que a Venezuela está intimamente ligada aos interesses dos Estados Unidos. Portanto, o governo venezuelano deveria fazer como o da Colômbia, em vez de procurar alianças com os BRICs (Brasil, Rússia, India e China).
Sétimo – Há um problema com a saúde pública venezuelana motivada pelos médicos cubanos, “que não entendem nada de tecnologia e estão queimando todos os aparelhos modernos colocados à sua disposição”. Queimaram tantos durante tanto tempo que os hospitais estão superlotados, dizem.
Oitavo – O preço extremamente baixo da gasolina (o litro de água engarrafada é cerca quatro vezes mais caro) precisa ser revisto para diminuir os congestionamentos e colocar mais recursos no caixa do Estado. “Só deve andar quem puder pagar”. Uma solução simples e objetiva que talvez ninguém tenha pensado antes.
Infelizmente, o festival de asneiras continuou. E eu ali, apontando tudo. Vou informando a todos as pérolas. Reluzem. E dão asco.

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