Deputado eleito para o
Parlamento Latino-Americano destaca compromisso do governo Chávez com os ideias
de Bolívar. “Não queremos uma América para os americanos do Norte”, frisou
Por Leonardo Severo e Vanessa Silva, de Caracas-Venezuela
Em entrevista à Rede
ComunicaSul – Comunicação Colaborativa, o deputado Carolus Wimmer, um dos
representantes eleitos pelo povo venezuelano para o Parlamento Latino-Americano
(Parlatino), destaca o compromisso do governo Chávez com o aprofundamento da
integração, em benefício dos nossos países e povos. Eleito pelo Partido
Comunista da Venezuela (PCV), Wimmer denuncia as sabotagens e bloqueios movidos
pelos Estados Unidos contra o país, defende a nova Lei Orgânica do Trabalho,
que recuperou e ampliou direitos suprimidos pelo neoliberalismo, denunciou a
ação criminosa dos monopólios de mídia e ressaltou a importância de um
Parlatino atuante para a defesa de um projeto de desenvolvimento inclusivo e
redistributivo das riquezas nacionais.
A direita na Venezuela tem
atacado a opção ideológica do governo Chávez pela multipolaridade, enquanto
defende uma aliança estratégica com os estadunidenses. Qual a sua percepção?
No governo Chávez houve um
bloqueio tecnológico e científico dos Estados Unidos e da União Europeia contra
a Venezuela. A multipolaridade e as novas alianças internacionais são também
uma consequência deste bloqueio. Tínhamos aviões militares F-16 no solo,
impossibilitados de voar por falta de peças de reposição, pois o governo dos
Estados Unidos avaliava que eram peças estratégicas e que éramos um país
inimigo. A Venezuela comprou da Espanha barcos para sua guarda costeira
combater o narcotráfico, supostamente um dos principais eixos da política
internacional dos EUA. O que fez o governo estadunidense? Inviabilizar a
compra, que parte dos equipamentos dos barcos construídos nos estaleiros
espanhóis tinha tecnologia que lhes pertencia. Então as dificuldades,
imposições, sabotagens e bloqueios vêm por todos os lados por parte das
políticas imperialista. Desta forma, acabaram naturalmente surgindo novos parceiros.
A presença dos EUA
historicamente tem sido marcante em um país que importava tudo, pois não
produzia nada. Há relatos de que até ovos vinham de Miami. Como é isso?
Sou um imigrante alemão
que chegou nos anos 1970 na Venezuela. Naquele momento havia apenas três
multinacionais de automóveis, todas elas norte-americanas: Cryshler, Ford e
General Motors. Em 1971, a Volkswagen teve de deixar o país por pressão da embaixada
dos EUA. Assim eram as coisas na Venezuela, tudo era para atender aos
interesses estadunidenses, quando muito sobravam migalhas para os europeus. É
isso que estaremos decidindo no próximo 7 de outubro: um projeto de integração
latino-americano ou um projeto de integração norte-americano. Passados dois
séculos, está bem viva a luta entre o latino-americanismo de Bolívar e o
pan-americanismo da doutrina Monroe, da América para os americanos, do Norte. A
vitória de Capriles colocaria em perigo o projeto desenvolvimentista e o rumo
integracionista, pois ele revisaria todos os convênios e contratos em função
dos interesses das grandes empresas dos EUA. Portanto, no próximo domingo, não
está em jogo somente a Presidência da República da Venezuela, mas um projeto de
desenvolvimento conjunto, que vem melhorando a qualidade de vida do continente.
No caso específico da
Venezuela, há muitas iniciativas como a Lei Orgânica do Trabalho, que vão na
contramão do receituário neoliberal imposto recentemente pela troika à Europa,
de redução de salários e direitos. Em muitos países, como o Brasil, a direita
defende a chamada “flexibilização” das relações de trabalho, argumentando que
isso tornaria o país mais “competitivo”. Qual a sua avaliação da nova lei do
trabalho?
Não é por vaidade, mas por
justiça, que gostaria de lembrar que o projeto inicial da Lei Orgânica do
Trabalho, os Trabalhadores e as Trabalhadoras, foi elaborado por um parlamentar
do Partido Comunista da Venezuela (PCV), Oscar Figuera, que era então presidente
da Comissão de Assuntos Trabalhistas do Congresso Nacional. Pela própria
dinâmica da luta de classes, esta lei ficou engavetada durante muito tempo, até
que o presidente Hugo Chávez Frias, com sensibilidade, a retirou da Assembleia
e a colocou entre as Leis Habilitantes, que são de iniciativa presidencial. É
uma lei que recupera direitos perdidos nos anos 1980 e 1990 com as
privatizações, como os contratos coletivos, que foram substituídos por
contratos temporários, sem nenhuma estabilidade, sem garantias. Que reduz a
jornada de trabalho sem redução de salário.
É uma lei que recupera
direitos e dá dignidade ao trabalhador.
A lei elimina os contratos
temporários desde o primeiro dia, não há mais três meses de contrato de
experiência, isso está eliminado. O trabalhador passou a ter direito desde o
momento em que for contratado. Há também avanços estratégicos, como o
reconhecimento dos Conselhos Socialistas de Trabalhadores e Trabalhadoras, que
funciona como um poder operário, também nas empresas do Estado. Isso fortalece
a democracia e contribui para uma maior formação política, ideológica, sindical
e cultural da classe trabalhadora. Este ponto, em que pese estar colocado na
lei orgânica, agora precisará de uma lei específica. Independente desta questão
estar pendente, os trabalhadores pegaram a cópia da lei, no marco do processo
revolucionário que estamos vivendo, e foram à luta de forma massiva, se
adiantando à própria legislação. Algo assim só pode ocorrer num processo rico
como o nosso. O debate nestes conselhos não é só o que a empresa produz, mas
para que, como se emprega, para onde vai o lucro. Há um avanço, uma tomada de
consciência, que é uma das características da democracia popular revolucionária
que estamos vivendo.
Já há empresas onde estes
conselhos estão atuando?
No Hotel Alba, que reúne
573 trabalhadores, no Canal 8 de Televisão, na Rádio Nacional da Venezuela, em
várias estruturas públicas. É algo novo, impulsionado por Chávez, que vai além
do sindicalismo que, naturalmente, deve cuidar da proteção dos direitos dos
trabalhadores, de melhores acordos, de maiores salários. Mas aqui estamos
falando de poder operário, da perspectiva democrática de superação do
capitalismo, da construção de uma nova sociedade, de luta contra a exploração,
de uma efetiva humanização das relações de trabalho.
Ao contrário do que a
mídia privada veicula todos os dias em nosso país, pudemos ver na Venezuela uma
total liberdade de imprensa, onde muitos meios chegam inclusive a agredir o
presidente, ministros e parlamentares, sem qualquer compromisso com a objetividade
ou com a própria realidade. O que fazer?
Quando houve o fechamento da
RCTV, a oposição fez muitos protestos, rapidamente ecoados pelas agências
internacionais no exterior. Agora, há muita expectativa de que quando se
encerre o prazo de concessão da Globovisión, que é um apêndice da CNN e da CIA,
ela não seja renovada. O fato é que o espaço radioelétrico pertence ao Estado
venezuelano e que assim como há contratos para o aluguel de determinado imóvel,
que vencem após determinado tempo e onde o morador precisa sair, que é a lógica
do capitalismo que defendem, da mesma forma estes canais podem voltar ao Estado
caso descumpram as regras. No caso venezuelano o que está ocorrendo é que eles
violam abertamente a lei para provocar o seu fechamento. É algo criminoso.
Querem que o governo adote medidas para fazer um escândalo internacional. Chávez
tem agido com calma, driblando armadilhas e provocações.
Como tem sido a atuação do
Parlatino?
O Parlatino está num
momento de decisão, em que a esquerda progressista e anti-imperialista
necessitará ficar mais atenta, atuar mais, coordenar ações. Com a criação da
CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), com uma
estrutura presidencial executiva, precisamos ter um parlamento ao seu lado, um
legislativo para lhe dar suporte. Se funcionar a CELAC, como deve, eliminamos a
OEA (Organização dos Estados Americanos), o que exigirá uma mudança na
correlação de forças. Esta ação conjunta das forças progressistas terá um papel
fundamental para o avanço da luta anti-imperialista em nosso Continente,
afirmando cada vez mais uma visão integracionista, de solidariedade e de
reciprocidade. Esta tem sido a nossa luta e o nosso compromisso na caminhada
rumo ao socialismo.
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