Texto e foto: Leonardo
Wexell Severo, San Pedro Sula-Honduras
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Xiomara Castro de Zelaya discursa na cidade de Villanueva |
“Nosso
compromisso é com a construção de uma democracia participativa em Honduras,
onde o povo tenha voz e voto em todas as ações do governo”, afirma Xiomara
Castro de Zelaya, candidata do Partido Livre (Liberdade e Refundação) às
eleições presidenciais do próximo 24 de novembro. Nesta entrevista exclusiva em
San Pedro Sula, Xiomara agradece a solidariedade do povo brasileiro com o
ex-presidente Manuel Zelaya, seu marido, e destaca o papel do Estado e do
protagonismo popular para um desenvolvimento inclusivo e soberano.
Lideras todas as pesquisas
de intenção de voto à presidência. Quais as suas expectativas para Honduras e
para a integração latino-americana?
Em primeiro lugar gostaria
de agradecer ao povo brasileiro pelo acompanhamento e o respaldo que têm nos
brindado durante todos esses anos. A luta que empreendemos nesse momento é para
reverter o golpe de Estado realizado em Honduras e fazer com que esta batalha
de resistência contra o entreguismo e em defesa da soberania seja vitoriosa. É
com esta consciência que o povo hondurenho está se mobilizando, mandando uma
mensagem à América Latina para que nunca mais, em nenhum dos países do nosso
Continente, volte a ser cometido um golpe de Estado.
Como pensas retomar o
patrimônio público que os golpistas entregaram às transnacionais e aos seus
testas-de-ferro ao longo destes anos?
Nós, do Partido Livre, estamos
fazendo uma proposta bem clara, que é a refundação do país. Esta é a nossa
resposta frente às duríssimas e difíceis condições em que se encontra o povo
hondurenho após esses últimos quatro anos. Temos hoje um país completamente militarizado
e que é, apesar disso, o mais violento do mundo. Desde o golpe, em 2009, mais
de 24 mil pessoas foram assassinadas. Mas o golpe não nos trouxe só violência.
Fez, além disso, que nosso país esteja entre os últimos lugares em
competitividade no mundo, pois não há possibilidades nem condições dignas de
trabalho. A pobreza aumentou mais de 7%, zerando todos os avanços que havíamos
tido durante o governo do presidente Zelaya. Como este modelo fracassou, nós
estamos propondo uma nova forma de governar, iniciativas que deem respostas às
necessidades do povo, que garantam equidade, justiça e paz para todos. Por isso
propomos a refundação de Honduras, nos mobilizamos para reconstruir a Pátria.
Uma vez eleita, por onde
seu governo iniciará esta reconstrução?
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Com Xiomara e Caio Plessmann de Castro, em San Pedro Sula |
Nós defendemos um socialismo
democrático para começar esse processo a partir de um governo que governe para
todos e não para um pequeno grupo. É necessário reconciliar o povo hondurenho e
para isso propomos um pacto social entre todos os setores do país, através de
uma Assembleia Nacional Constituinte. Precisamos criar uma nova Constituição.
Antes de tudo, ela deverá expressar o sentir e o pensar de cada um dos setores
ali representados, refletindo sobre qual é o Estado que queremos, onde se defina
cada um dos poderes do Estado, quais as suas funções e responsabilidades no
desenvolvimento nacional. Porém que também se garanta participação cidadã, para
que nunca mais um Congresso Nacional respalde um golpe de Estado. Defendemos uma
Constituição que reflita a necessidade de convocar o povo hondurenho a
construir leis para beneficiar a comunidade e o país. Não podemos mais permitir
a imposição de leis que atentem contra a soberania popular. Aqui foram feitas
leis por meio das quais entregando nossos recursos, onde estão entregando nossas
minas, leis que estão confrontando e tirando os direitos que o povo foi
adquirindo a partir das suas próprias lutas, como a do magistério, dos
operários e dos camponeses. Quanto às leis anti-povo, nós as podemos revogar
através da Assembleia Nacional Constituinte. Nós nos comprometemos com o povo e
sentimos que hoje, mais do que nunca, a Constituinte tem valor e sentido em
nosso país. Mais de 80% dos pesquisados em Honduras concordam e apontam que a
saída para fazermos as transformações radicais que estamos propondo passam,
necessariamente, pela efetivação de um pacto social por meio da Constituinte.
Há muita expectativa em
relação às mudanças já nos primeiros dias do novo governo. Do ponto de vista
econômico, quais as medidas emergenciais a serem adotadas?
A situação econômica de
Honduras é muito difícil. No período em que o presidente Manuel Zelaya estava
governando a dívida interna representava 17% do Produto Interno Bruto, enquanto
neste momento alcança mais de 60% do PIB. Ou seja, o governo se sustentou a
partir do golpe de Estado com créditos e empréstimos, comprometendo parcela
expressiva dos recursos públicos do presente e do futuro da nação. Isso faz com
que precisemos tomar medidas radicais.
Quais seriam essas medidas?
Em primeiro lugar é
preciso readequar a dívida para garantirmos os recursos necessários ao
desenvolvimento nacional. A dívida foi feita com prazos curtos e juros muito
altos, então é preciso reduzir os juros e alongar o prazo para o seu pagamento.
Da mesma forma, é preciso que todos os recursos que consigamos sejam direcionados
a gerar mais empregos, renda e crescimento econômico. É necessário investir na
produção, é necessário ampliar os investimentos para que o campo volte a
produzir. Nos últimos quatro anos se investiu muito pouco na parte
agroindustrial do país, na agricultura. Nós temos que assegurar a alimentação
do povo hondurenho, assegurar também que se apliquem recursos com taxas de
juros baixas, para se fomentar a construção. Claro, todos esses pontos dependem
de criarmos no país uma democracia com bases sólidas, uma democracia
participativa onde o povo tenha voz e voto em todas as ações do governo.
Com negociação coletiva e
garantindo os direitos dos trabalhadores, algo que os golpistas suprimiram por
completo.
Exatamente, vamos virar
essa página. Nós temos muito claro que é preciso revogar as leis que foram
impostas pelos golpistas contra os professores, por exemplo. Eles modificaram a
legislação para entregar os recursos que pertencem ao povo, que são patrimônio
da nossa população, praticamente liberando para que se possa liquidar e
expropriar as terras dos camponeses. Vamos revogar estas leis por meio da
Constituinte, garantindo ao povo hondurenho que as decisões tomadas nunca mais
sejam dissociadas do interesse popular, do interesse da Pátria.
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