Embaixador
alerta para riscos decorrentes do atual “controle dos meios de comunicação
pelas classes hegemônicas mundiais”
“O controle dos meios de
comunicação é essencial para o domínio da classe hegemônica mundial. Como esses
meios são formuladores ideológicos, servem para a elaboração de conceitos, para
levar sua posição e visão de mundo. Daí a razão da democratização da mídia ser
uma questão prioritária”, afirmou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães no
debate “O Brasil frente aos grandes desafios mundiais”, realizado nesta
terça-feira na Universidade Federal do ABC.
Ministro da Secretaria de
Assuntos Estratégicos (2009-2010) e secretário geral do Itamaraty (2003-2009)
no governo do presidente Lula, o embaixador defendeu a campanha do Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) por um novo marco
regulatório para o setor. Segundo ele, uma relevante contribuição à democracia
e à própria soberania nacional, diante da intensa disputa política e ideológica
numa “economia profundamente penetrada pelo capital internacional”.
Entre as iniciativas para
garantir o surgimento e estabelecimento de novas mídias, apontou, está a
“distribuição das verbas publicitárias do governo”, desconcentrando os recursos
públicos e repartindo de forma justa e plural. “O critério de audiência, que
vem sendo utilizado, privilegia o monopólio e o oligopólio”, sublinhou.
O embaixador também condenou
o fato de que um mesmo grupo possa deter emissoras de rádio e televisão,
jornais e revistas – a chamada propriedade cruzada. Conforme Samuel, esta
concentração acaba concedendo um poder completamente desmedido para alguns
poucos divulgarem as suas opiniões como verdade absoluta. “Quando estados como
a Argentina, o Equador e a Venezuela aprovam leis para democratizar a
comunicação, a mídia responde com uma campanha extraordinária, como se isso
fosse censura à imprensa”, lembrou.
MANIPULAÇÃO
Em função dos interesses da
classe dominante, alertou o embaixador, a mídia hegemônica pode, sem qualquer
conexão com a realidade, “demonstrar que um regime político da maioria é uma
ditadura e realizar campanhas sistemáticas que permitam uma intervenção externa,
com o argumento que determinado governo oprime os direitos humanos”. “Podem
inclusive se aproveitar de manifestações pacíficas para infiltrar agentes
provocadores que estimulem o confronto”, alertou.
Uma vez criado o caldo de
cultura, soma-se à campanha de difamação e manipulação das consciências a
intervenção militar, como aconteceu contra o governo de Muamar Kadafi. “Na Líbia
houve a derrubada de um governo que lhes era contrário, não foi ação defensiva
dos direitos humanos em hipótese nenhuma”, frisou. Na avaliação de Samuel, “os
Estados Unidos têm um projeto muito claro de manter o seu controle militar e
informativo”, que utilizam de forma alternada e complementar. “Contra os
governos que contrariam frontalmente os seus interesses, os EUA têm um uma
política declarada de ‘mudança de regime’. Para isso, sem grandes embaraços,
qualquer movimento pode ser instrumentalizado”, assinalou.
Entre os muitos exemplos
de manipulação citados pelo embaixador está o “esforço da política neoliberal
para reduzir direitos”, utilizando-se da campanha pelo "aumento da
competitividade”. ”O receituário que defendem é o de reduzir programas sociais,
controle orçamentário e reduzir os benefícios da legislação trabalhista. Para
isso disseminam ideias como a de que as empresas nacionais não são produtivas”,
destacou Samuel.
Também condenando a
manipulação da informação e o papel desempenhado por setores da mídia, o
professor Paulo Fagundes Vizentini, coordenador do Núcleo de Estratégia e
Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, considerou
inadmissível que “os mesmos que bombardeiam e ocupam militarmente países
soberanos venham agora dar lições de direitos humanos”.
“Antes era feio não ter
opinião, hoje é ideológico, que mais se parece com fisiológico”, disse
Vizentini, defendendo a afirmação do interesse público e da soberania nacional,
e combatendo “os que querem que o país fique na segunda divisão, desde que sejam
o capitão do time”.
O professor sublinhou o
papel estratégico e singular proporcionado pela descoberta do pré-sal, tanto do
ponto de vista energético, como geopolítico, e alertou para a necessidade de
que o Brasil tenha os elementos de dissuasão para impedir que esse imenso
patrimônio venha a ser apropriado militarmente pelos estrangeiros. “Para isso
temos de enfrentar os espíritos fracos e colonizados. O colonialismo é o mais
difícil de combater, porque está dentro da nossa cabeça”, frisou.
Para o secretário de
Relações Internacionais do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Pedro Bocca,
“o fortalecimento dos espaços de mídia dos movimentos sociais, como a TeleSur,
a Alba TV e a TVT, com sua divulgação em canal aberto, são uma necessidade do
momento para o avanço da própria integração”. “Nesse momento, o investimento do
governo é essencial para combater a desinformação e garantir a efetiva
democratização da comunicação e do país”, concluiu.
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