Pensatempo: Juro alto e câmbio aceleram desemprego industrial no país

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Juro alto e câmbio aceleram desemprego industrial no país


Em novembro emprego na indústria cai 0,10%, após recuar 0,4% e 0,5% em setembro e outubro

Carlos Lopes, na Hora do Povo

O desemprego na indústria aumentou outra vez em novembro, tanto em relação ao mês anterior quanto ao mesmo mês de 2010, revelou a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (PIMES), do IBGE, divulgada na última sexta-feira.

É o terceiro mês seguido em que o emprego cai na indústria. Em 11 meses (janeiro-novembro), o emprego industrial caiu em sete deles (janeiro, abril, junho, julho, setembro, outubro, novembro); teve crescimento zero em março; e somente aumentou em três desses meses (fevereiro, maio e agosto) – a taxas tão baixas, que, como apontou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), equivalem à estagnação.

No principal Estado industrial do país, São Paulo, o emprego caiu pelo oitavo mês consecutivo de 2011, quando comparado ao mesmo mês de 2010 (a PIMES não fornece resultados regionais em comparação com o mês anterior). A tendência negativa é evidente pelos resultados mensais da indústria paulista (janeiro e fevereiro: 2%; março: 0,5%; abril: -0,2%; maio: -0,7%; junho: -1,5%; julho: -2%; agosto: -1,6%; setembro: -2%; outubro: -3,5%; novembro: -3,7%).

Em 2010, quando a produção industrial cresceu +10,5%, o emprego na indústria cresceu +3,4%.

No entanto, em 11 meses de 2011, a produção da indústria cresceu apenas 0,4%. Portanto, a queda no emprego ainda não refletiu plenamente a queda na produção: de janeiro a novembro ainda há um saldo positivo de 1,1% no emprego industrial. Mas a tendência, mantidas as coisas como estão, é óbvia.

Se a situação em São Paulo é bastante ruim, a indústria da região mais pobre do país, o Nordeste, encontra-se praticamente em decomposição: a produção industrial nordestina já caiu -4,8% de janeiro a novembro. Segundo outra pesquisa do IBGE, a Pesquisa Industrial Mensal Regional, a produção regional caiu -2,9% em um único mês, novembro, em relação a outubro, com a produção industrial da Bahia caindo -6,4%. No ano de 2011, a indústria do Ceará já caiu -12,1%.

No entanto, segundo o ministro Mantega, em entrevista à revista Época que saiu no fim de semana, em 2011, “atingimos nossos objetivos de política econômica e social [??]. Implantamos no país um novo modelo de desenvolvimento, fortemente gerador de empregos” [???].

Naturalmente, ele sabe que isso é mentira - e que não é o único a sabê-lo. Por isso, é obrigado a dizer, de passagem, que “o setor industrial cresceu pouco” - e diz isso como se fosse um detalhe, nessa linguagem desfibrada.

A indústria está em retração desde fevereiro. Talvez o sr. Mantega pretenda que o país cresça com base na agropecuária – mas isso não deu certo com os coronéis da República Velha e o mumificado sr. Gudin. Não há crescimento sólido para o país sem que sua base seja o crescimento da indústria.

Porém, Mantega atribui o problema (e que problema!), no qual tem completa responsabilidade, à “crise mundial [que] nos atrapalhou”.

“Crise mundial” é o mote dos vigaristas atuais. O que existe é uma crise dos países centrais, isto é, dos países imperialistas – EUA, Europa e Japão. Essa crise só é “mundial” para aqueles que acham que o mundo se resume aos países imperialistas.

Estranha crise “mundial” em que, mesmo usando os números do FMI, que não são nada favoráveis aos outros países do mundo, a China, em 2011, cresceu pelo menos +9,5%; a Índia, +7,8% (provavelmente ultrapassará os 8%); a Indonésia, +6,4%; a Argentina, +8%; a Mongólia, +11,5%; Moçambique, +7,2%; Bangladesh, +6,3%; Bolívia, +5%; o Camboja, +6,7%; o Chile, +6,5%; a República Democrática do Congo, +6,5%; o Equador, +5,8%; o Cazaquistão, +6,5%; o Quênia, +5,3%; a Turquia, +6,6%;  o Peru, +6,2% - e paramos por aqui, porque a lista é grande.

Por que a crise dos países imperialistas teria afetado o Brasil, mas não afetou nenhum desses países, quase todos com uma economia muito menor e mais frágil que a nossa? Porque não foi crise alguma que derrubou o nosso crescimento, dos 7,5% do último ano do governo Lula, para os prováveis 2,5% de 2011. Muito menos foi a crise – e muito menos “mundial” - que provocou o desastre na indústria, que caiu de +10,5% (+11,1% até novembro de 2010) para 0,4% até agora, quando ainda não foram divulgados os resultados do último dezembro.

A “crise mundial” do sr. Mantega é, portanto, uma fraude. Mas revela o que ele chama de mundo: os EUA e a Europa, talvez, também, o Japão.

Ele diz que o setor industrial “é o mais atingido pela crise [??]. Aumentou a concorrência, e produtos estrangeiros entraram com força no Brasil. A manufatura brasileira teve mais dificuldade para exportar”.

Será que a indústria dos EUA está mais forte devido à crise? Só um doido afirmaria uma coisa dessas. Como foi, então, que ela “aumentou a concorrência”, a ponto de inverter a balança comercial com o Brasil, que, de superavitária a nosso favor, hoje é deficitária?

Quanto aos produtos chineses, a China é, precisamente, um país que não entrou em crise – mas o Brasil também não estava em crise quando Mantega aplicou sua política recessiva e neoliberal de cabo a rabo. A explicação de Mantega, portanto, é uma mistura de abacaxis com juntas homocinéticas - e pretende que os outros vejam nisso alguma coerência.

Não houve nenhum “aumento da concorrência”. O que houve foi subsídio escandaloso das importações via câmbio manipulado, isto é, pseudo-flutuante. É como amarrar um peso de cinco quilos no tornozelo de um corredor e depois elogiar os adversários pela competência em derrotá-lo. Assim aconteceu com a hipervalorização do real e a desvalorização do dólar – e no momento em que os EUA nos agrediam com bilhões de dólares desvalorizados, que vinham para cá atraídos pelos juros altos, aumentados cinco vezes seguidas. Através de um mecanismo meramente cambial, os importados foram barateados e a produção nacional foi encarecida dentro do próprio mercado interno e no mercado externo. Essa é a “dificuldade” que a “manufatura brasileira” encontrou para “concorrer” e exportar: uma política deliberada de dumping cambial às importações, em benefício de monopólios estrangeiros, contra a produção interna e a indústria nacional.
Os problemas da indústria brasileira foram devidos, inteiramente, aos juros altos e  ao câmbio indecentíssimo, além do corte nos investimentos públicos e do arrocho no crédito e no salário mínimo em 2011. Mas essa foi, exatamente, a política econômica do sr. Mantega.

Quando o entrevistador constata que “faz tempo que o governo vem errando em relação à indústria” e pergunta se ele “faz alguma autocrítica”, a resposta foi: “Não tem autocrítica. É uma situação internacional, difícil para todo mundo. O que fizemos foi criar algumas linhas de defesa, botar a Receita Federal para fiscalizar mais, criar um departamento de inteligência”.

Não perguntaremos por que a “situação internacional” não afetou o crescimento da Mongólia, da Argentina e de vários outros países. Mas essa do “departamento de inteligência” da Receita, como “linha de defesa” para a indústria, é de cabo de esquadra. Um “departamento de inteligência” para resolver problemas que são de política econômica? Faz menos sentido que aquele hai-kai surrealista: “a lua vem surgindo/ redonda como um tamanco/ se você não me queria/ por que roubou minha bicicleta?”.

Mantega revela qual a essência dessa política na briguinha ridícula que expõe, na entrevista, com seu antecessor, Antonio Palocci, em que procura apontar este último como o homem do “mercado financeiro” - quando ele, Mantega, seria um “desenvolvimentista”.

Pois não é verdade. Palocci foi o homem dos bancos no governo até que deixou de ser útil, isto é, até que deixou o governo. Hoje, quem serve aos bancos e as multinacionais dentro do governo é ele, Mantega. A quem beneficia a sua política? Só aos bancos e multinacionais – e a ninguém mais. Palocci não tem mais grande serventia para os monopólios financeiros. Mas não é à toa que Mantega tenta jogar sobre outros o seu próprio papel atual. Mais ou menos a mesma coisa ele faz em relação ao seu passado “desenvolvimentista” – como se a questão não fosse, precisamente, que ele traiu esse passado.

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