Pensatempo: abril 2014

quinta-feira, 24 de abril de 2014

“Povo venezuelano derrotou o golpe estimulado pelos EUA e sua mídia”




Afirmou Iván González, coordenador político da Confederação Sindical das Américas (CSA), entidade que representa mais de 50 milhões de trabalhadores de 53 organizações nacionais de 23 países. Na avaliação do dirigente, o problema mais sério neste momento “é a pouca capacidade do governo venezuelano de enfrentar a intensa campanha midiática que continua sendo fonte permanente de desinformação”.

Leonardo Wexell Severo


Qual a sua avaliação da situação atual da Venezuela?

Desde o início, o governo do presidente Nicolás Maduro teve uma postura clara de abordar e enfrentar os problemas. Assim que começou a violência, incitada por setores mais radicais da oposição, ele propôs uma agenda que já vinha sendo construída e estava na sua pauta, desmontando o discurso de “desabastecimento e insegurança”. Desta forma, no momento em que esse setor oposicionista se lança à “guarimba” [bloqueio violento de vias com agressões], fica evidente que esta não era uma demanda da sociedade, mas uma ação orquestrada, desestabilizadora, de caráter abertamente golpista.

De onde partiram esses ataques?

Os focos mais violentos – e alguns ainda persistem - se concentraram justamente nos municípios controlados pela oposição nas regiões mais ricas, com a cumplicidade ou envolvimento direto das autoridades locais. Este é o caso, entre outros, de San Cristóbal, no estado Táchira, fronteira com a Colômbia, onde o prefeito teve plena e comprovada participação nos crimes, e por isso mesmo está preso. Aí também houve o envolvimento de paramilitares colombianos.

Quem acompanha as notícias pelas agências internacionais vê um país à beira do colapso econômico e social. O que está acontecendo?

A realidade é que o nosso país, pois sou venezuelano, nunca foi paralisado, como tentaram nos fazer crer. A atividade econômica sempre se manteve. Salvo nas regiões das quais falei, a vida seguiu seu rumo. A população nunca respaldou a violência. Mesmo opositores que inicialmente participaram de algumas manifestações pacíficas de protesto, abandonaram as ruas quando elas mudaram de conotação.

Em que pé se encontram as negociações de paz?

Desde o primeiro momento o presidente Maduro propôs a realização de uma Conferência Nacional de Paz, convocando a participação de todos os setores oposicionistas, os empresários, a Igreja, reconhecendo os problemas do governo. Só quatro semanas depois, a oposição formal, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), se somou à iniciativa. Com isso o governo isolou o setor mais agressivo, liderado por Corina Machado, fortalecendo a autoridade do presidente, o respeito à Constituição e a condenação à violência.

A democracia sai mais fortalecida?

O governo está muito mais firme. Ampliou sua base, enriqueceu suas propostas com a contribuição de outras entidades e reforçou o compromisso com uma agenda mais inclusiva, particularmente com o setor produtivo, reforçando os acordos com a oposição democrática. Há uma agenda comum de enfrentamento à violência e à insegurança, de renovação de uma parte dos magistrados do Tribunal Superior de Justiça e do Conselho Nacional Eleitoral, que serão eleitos por ¾ do Congresso Nacional, como estabelecido na Constituição, com a participação da oposição.

Qual o papel da Unasul para o avanço do diálogo?

A Unasul teve um papel fundamental no estabelecimento do diálogo, garantindo o respeito às instituições democráticas e à soberania do país, afastando as tentativas dos golpistas de isolar a Venezuela.

Em que pé estão os problemas econômicos ainda existentes?

Há gargalos como a administração de divisas para a importação, que é uma fonte constante de especulação e de ataques econômicos. O governo estabeleceu mecanismos mais transparentes, acordados com os setores produtivos, o que vem garantindo um maior acesso a divisas, com o dólar mais barato. O objetivo é fazer com que, no médio prazo, a inflação seja reduzida.

Qual o maior obstáculo a ser superado neste momento?

Acredito que o problema mais sério é a pouca capacidade do governo venezuelano de enfrentar a intensa campanha midiática que continua sendo fonte permanente de desinformação. Quem avalia a Venezuela pelas agências de notícias vê um país mergulhado no caos, onde falta tudo, com policiais que atiram em jovens desarmados e um governo reprimindo a torto e a direito quem se manifesta pacificamente. Não dizem nada sobre o fato de que mais de metade dos cerca de 40 mortos foi fruto da ação desta oposição violenta, não da polícia bolivariana, que foi vítima de agressões. É preciso esclarecer, porque senão fica parecendo o que não é.

A quem serve esta campanha orquestrada contra a Venezuela?

Aos setores mais reacionários e belicosos da administração dos Estados Unidos. São eles que ficam instigando a oposição e criando um clima para defender sanções contra a soberania e a democracia na Venezuela. Para isso distorcem os fatos e não reconhecem qualquer avanço nos diálogos que vêm ocorrendo. Não reconhecem nem mesmo os setores de oposição que sentaram para negociar. Por outro lado, com as manipulações da mídia, estimulam e dão visibilidade aos atores mais violentos, que não querem negociação, mas defendem abertamente a deposição do governo.
 

terça-feira, 22 de abril de 2014

“Reconhecer a República Saarauí é acabar com a última colônia na África”



Karin Lagdaf, representante da Frente Polisário no Brasil, destaca papel da solidariedade e denuncia emirado do Marrocos por anexação e repressão



Leonardo Wexell Severo

O emirado do Marrocos mantém ocupado, de forma ilegal e criminosa, desde 1975, a República Árabe Saarauí Democrática (RASD). Nesta entrevista, o dirigente Karin Lagdaf, representante da Frente Polisário, que lidera a luta de libertação nacional desde o primeiro governo no exílio, destaca a importância da mobilização pelo reconhecimento da RASD a partir do crescente isolamento do emirado. O muro que segrega a República, a fim de superexplorar as suas riquezas naturais - como o peixe e o fosfato -, é mantido com 117 mil soldados e seis milhões de minas terrestres.


Temos acompanhado a intensa mobilização da Frente Polisário pelo reconhecimento da República Árabe Saaraui Democrática. Qual é a situação atual desta luta pela independência do Marrocos?


A situação está evoluindo bem, não tão rápido quanto queríamos, mas há avanços claros na luta contra o Marrocos, inclusive no seu próprio campo. Mesmo os governos dos Estados Unidos e da França começaram a ter mais reservas e a serem menos agressivos conosco, suspendendo programas e acordos, o que tem debilitado a ocupação marroquina e a sustentação desta violação no campo internacional.


Como o emirado do Marrocos tem reagido?


A desgraça continua. A repressão dentro dos territórios ocupados não diminuiu em nenhum momento. No dia 17 de abril veio um novo informe da Organização das Nações Unidas e, agora, finalmente, acredito que teremos uma missão da ONU específica para a questão dos direitos humanos em nosso país. Causa estranheza que não haja vigilância alguma para uma questão tão grave como são as reincidentes violações praticadas pelas tropas marroquinas. Acho que esta nova correlação, mais favorável, se deve ao fato de que o Marrocos não é mais membro do Conselho de Segurança da ONU.


Como este crescente e amplo leque de apoios para a causa independentista tem repercutido?


No plano africano temos ampliado e fortalecido apoios em todos os níveis, desde a direção da União de Sindicatos da África até a vice-presidência do parlamento africano. O governo do Marrocos com sua decisão de não reconhecer que a França domina o Senegal e o Camarões está se isolando cada vez mais. Todas as universidades da Espanha realizaram atos de solidariedade à luta saarauí. Da mesma forma como ocorreram inúmeros protestos na Europa contra a presença de bases estadunidenses no Iraque, cresce o apoio contra a presença do Marrocos em nosso território.


De que forma o agravamento da crise interna no Marrocos tem impactado a sua capacidade de agressão ao povo saarauí?


O governo do Marrocos está com uma dívida externa de US$ 40 bilhões, o equivalente a mais de 127% do seu PIB e não tem como pagar. No ano passado isso se refletiu em menos recursos do emirado para o ensino e para a saúde, o que gerou e continua gerando maior descontentamento interno.


Bandeiras do Brasil e da República Saarauí: unidade contra a anexação
Estamos frente a um globo que traz nitidamente a República Saarauí com um território demarcado, é um país reconhecido por grande parte da comunidade internacional.  No entanto há problemas diplomáticos justamente na nossa região...


No Paraguai, sob a presidência de Fernando Lugo, íamos inclusive abrir uma embaixada, mas as relações retrocederam. Na América Latina, fora o Brasil, a Argentina e o Chile, todos os países, sem exceção, reconhecem a República Saarauí como um país de fato e de direito. No Brasil, deputados e senadores já aprovaram o reconhecimento por unanimidade, na Câmara e no Senado. Infelizmente, até agora o governo ainda não formalizou esta decisão tão importante.  Temos conversado com importantes amigos, no nível mais alto do Itamaraty, e estamos otimistas, mas ainda não há nada de concreto. Como é o nosso povo que está sofrendo com a ocupação, temos pressa.


Fale um pouco mais sobre a ocupação.


Temos um muro que nos divide, onde estão alocados 117 mil soldados marroquinos e seis milhões de minas terrestres. Há uma separação entre a parte ocupada com a parte liberada, equivalente a 32% do território. O Marrocos explora nossas riquezas naturais enquanto mantém centenas de milhares de saarauís à margem. Quem luta é condenado com penas de 25 a 30 anos pelo governo marroquino, quando não é submetido à prisão perpétua.  Como estamos falando com brasileiros, é bom lembrar que utilizam companhias do Rio de Janeiro para trazer peixes e industrializar no Brasil, vendendo fosfato e importando remédio, pólvora e pesticida. É como se fôssemos a última colônia na África.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Almada: “O Paraguai se levantou contra a privatização dos setores estratégicos”


Entrevistando Martín Almada, prêmio Nobel da Paz Alternativo

“A greve geral disse não à Aliança Público-Privada, que é uma má fotocópia do receituário fracassado do FMI”, afirmou o intelectual e Prêmio Nobel Alternativo da Paz

Leonardo Wexell Severo