Pensatempo: outubro 2011

sábado, 29 de outubro de 2011

Carta de Foz do Iguaçu detona latifúndio midiota e defende democratização da comunicação

468 ativistas de 23 países presentes ao Encontro Mundial de Blogueiros sublinham luta contra monopólios privados. 


Abaixo, a íntegra da Carta

O 1º Encontro Mundial de Blogueiros, realizado em Foz do Iguaçu (Paraná, Brasil), nos dias 27, 28 e 29 de outubro, confirmou a força crescente das chamadas novas mídias, com seus sítios, blogs e redes sociais. Com a presença de 468 ativistas digitais, jornalistas, acadêmicos e estudantes, de 23 países e 17 estados brasileiros, o evento serviu como uma rica troca de experiências e evidenciou que as novas mídias podem ser um instrumento essencial para o fortalecimento e aperfeiçoamento da democracia.

Como principais consensos do encontro – que buscou pontos de unidade, mas preservando e valorizando a diversidade –, os participantes reafirmaram como prioridades:


A luta pela liberdade de expressão, que não se confunde com a liberdade propalada pelos monopólios midiáticos, que castram a pluralidade informativa. O direito humano à comunicação é hoje uma questão estratégica;


A luta contra qualquer tipo de censura ou perseguição política dos poderes públicos e das corporações do setor. Neste sentido, os participantes condenam o processo de judicialização da censura e se solidarizam com os atingidos. Na atualidade, o WikiLeaks é um caso exemplar da perseguição imposta pelo governo dos EUA e pelas corporações financeiras e empresariais;

- A luta por novos marcos regulatórios da comunicação, que incentivem os meios públicos e comunitários; impulsionem a diversidade e os veículos alternativos; coíbam os monopólios, a propriedade cruzada e o uso indevido de concessões públicas; e garantam o acesso da sociedade à comunicação democrática e plural. Com estes mesmos objetivos, os Estados nacionais devem ter o papel indutor com suas políticas públicas.

- A luta pelo acesso universal à banda larga de qualidade. A internet é estratégica para o desenvolvimento econômico, para enfrentar os problemas sociais e para a democratização da informação. O Estado deve garantir a universalização deste direito. A internet não pode ficar ao sabor dos monopólios privados.

- A luta contra qualquer tentativa de cerceamento e censura na internet. Pela neutralidade na rede e pelo incentivo aos telecentros e outras mecanismos de inclusão digital. Pelo desenvolvimento independente de tecnologias de informação e incentivo ao software livre. Contra qualquer restrição no acesso à internet, como os impostos hoje pelos EUA no seu processo de bloqueio à Cuba;

Com o objetivo de aprofundar estas reflexões, reforçar o intercâmbio de experiências e fortalecer as novas mídias sociais, os participantes também aprovaram a realização do II Encontro Mundial de Blogueiros, em novembro de 2012, na cidade de Foz do Iguaçu. Para isso, foi constituída uma comissão internacional para enraizar ainda mais este movimento, preservando sua diversidade, e para organizar o próximo encontro.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Rosane Bertotti abre Encontro Mundial de Blogueiros com defesa da gestão pública para garantir Banda Larga

Para a democratização, precisamos de um novo marco regulatório da comunicação", frisou


Em sua fala na abertura do 1º Encontro Mundial de Blogueiros, realizada no mirante em frente à usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, a secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, ampliou o coro em defesa da gestão pública para garantir banda larga na internet e reiterou o papel do Estado como garantidor de direitos.


O Estado tem um papel fundamental para que a comunicação seja mais do que o acesso à informação, que seja um direito de todos e de todas”, ressaltou Rosane, que interviu em nome da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS).


Saudando a presença de centenas de blogueiros de 32 países e de 16 Estados brasileiros, a dirigente cutista destacou que “este movimento tem um papel central para fazer a disputa na sociedade e irradiar experiências”, o que considera fundamental para enfrentar a reação dos barões da mídia. “Para democratizar a comunicação e garantir liberdade de expressão, precisamos de um novo marco regulatório”, sublinhou Rosane, que também é uma das dirigentes do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).


Promovido pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé e pela Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom), o evento tem por tema “O papel da blogosfera na construção da democracia”, reunindo até sábado nomes de expressão como Pascual Serrano, do Rebelión; Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique; e Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks.


O presidente do Barão de Itararé, Altamiro Borges, parabenizou a participação de cada um que se fez presente para fortalecer a “batalha de idéias” e sublinhou que a luta por um marco regulatório para a comunicação brasileira e por uma banda larga barata e de qualidade necessita de ampla mobilização popular. "Estas são bandeiras que nos unificam e que nos ajudam a enfrentar os impérios midiáticos deformadores de comportamentos e manipuladores da informação", enfatizou Miro, destacando que o êxito da iniciativa se deve também à inestimável contribuição de companheiros como Joaquim Palhares, da Carta Maior, e da jornalista Natália Viana, do WikiLeaks, que conseguiram ampliar a rede internacional.


Diante de um dos esplendores da engenharia brasileira, que consumiu conforme o belo vídeo institucional de Itaipu uma quantidade de cimento equivalente à construção de 210 Maracanãs e ferro para 380 torres Eiffel, o presidente da Altercom, Renato Rovai, exortou os presentes a se empenharem para “construir a democracia na comunicação aproveitando o que a inteligência humana colocou à nossa disposição”. De acordo com Rovai, que é editor da revista Fórum, a realização do evento em Foz do Iguaçu “espaço geográfico que une fronteiras”, dialoga com a perspectiva da luta pela integração em novos patamares. Infelizmente, ressaltou, ainda temos bo Brasil “mais conexões culturais com os países europeus e com os EUA do que com está ao nosso lado. Mas o fato desse evento acontecer aqui ajuda a nos aproximar da América Latina, a construir um espaço que permita a construção de ações políticas reais",”


Conclamando a todos para que se contagiem com “a energia vibrante das águas dos rios Paraná e Iguaçu”, e fortaleçam o debate sobre as novas mídias e sua relevância para a democracia e o desenvolvimento, o superintendente da Itaipu Binacional, Gilmar Piolla, fez um resgate do trabalho social da empresa, que junto com a Sanepar é uma das patrocinadoras do evento.


Em sua saudação o secretário nacional de Comunicação do Partido dos Trabalhadores, André Vargas, reiterou o compromisso do PT com a construção de um novo marco regulatório da mídia e informou que nos próximos dias será realizada uma manifestação na capital paulista, onde a sociedade brasileira vai se expressar em defesa da democracia nas comunicações. Vargas também destacou o compromisso do partido com o Plano Nacional de Banda Larga, frisando que a internet deve ser “de qualidade, barata e, se possível, gratuita”.


Entre outros combatentes pela democratização encontram-se em Foz o jornalista Mariano Vázquez, da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA) e o equatoriano Oswaldo León, da Agência Latino-Americana de Informação (ALAI).

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Privatização dos aeroportos está mais fedida que as de FHC

Pelo edital de privatização da Anac/SAC, quem açambarcar Cumbica vai despender apenas R$ 146 milhões por ano  

 

A minuta de edital, confeccionada pela Anac e Secretaria da Aviação Civil, para a privatização dos aeroportos de Guarulhos, Brasília e Campinas (Viracopos), excede as expectativas – para pior.


Segundo esse edital – ainda não aprovado em sua forma final – uma empresa ou “consórcio” poderiam levar o aeroporto de Brasília (por 25 anos!) pela módica quantia de R$ 75 milhões; o de Campinas, por 30 anos, R$ 521 milhões; e, por 20 anos, o de Guarulhos, aeroporto mais lucrativo do país, por R$ 2,292 bilhões (cf., Anac, “Edital do leilão para concessão, ampliação, manutenção e exploração dos aeroportos internacionais de Brasília-Campinas-Guarulhos”, 4.23, pág. 25).


Porém, essas quantias seriam pagas em suaves prestações, com o lucro que o açambarcador tivesse com o próprio aeroporto, pois “o Valor da Concessão será pago em parcelas anuais, contado da Data de Eficácia do Contrato de Concessão até o advento de seu prazo final” (cf., Anac, Edital cit., 4.24, pág. 25).


Portanto, o açambarcador do aeroporto de Brasília pagaria R$ 3 milhões; o de Guarulhos, R$ 146 milhões; e o de Campinas, R$ 17 milhões anuais para explorar três dos principais aeroportos do país. Isso, sem investir o seu dinheiro – para investir, os açambarcadores teriam o dinheiro do BNDES. Porém, antes de entrar nesse assunto, uma observação.


Algumas pessoas têm repetido que não se trata de uma “privatização”, mas de uma “concessão”. Mudar a palavra não muda a coisa. Para não deixar dúvidas aos açambarcadores, o edital esclarece:
 
Os Aeroportos Internacionais de Brasília, Campinas e Guarulhos foram incluídos no Programa Nacional de Desestatização - PND, conforme Decreto Federal nº 7.531, de 21 de julho de 2011” (cf., Anac, “Edital”, preâmbulo, pág. 4, grifo nosso).

 
Portanto, não fica bem, por exemplo, um homem de reconhecida inteligência, como o deputado Ricardo Berzoini, declarar que “não é possível comparar privatizações com concessões”. Sem entrar em discussões conceituais sobre o que é uma concessão (isto é, uma concessão do que é público ao que é privado), o que se está discutindo é esta “concessão”, a dos aeroportos de Guarulhos, Brasília e Campinas, e não qualquer outra. Para que incluí-la no programa de privatização de Collor e Fernando Henrique? Exatamente porque se trata de uma privatização.

 
Não falta nem o BNDES – cujo dinheiro, pertencente ao povo brasileiro, foi usado e abusado pelos tucanos para entregar estatais a monopólios privados, sobretudo estrangeiros.
Como naquela época, estaríamos pagando para que nos levem os aeroportos - segundo o ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, o BNDES terá de financiar “entre 50% e 70% do investimento total” nos aeroportos - mas o Estado, através da Infraero, estará proibido de ter mais que 49% do capital das “sociedades de propósito específico” (SPE) que tomariam os nossos aeroportos.


Bittencourt é um sujeito didático: “funciona assim: de cada R$ 100 investidos, R$ 70 virão do BNDES e de outras fontes de financiamento e R$ 30 dos sócios. Dos R$ 30, R$ 14,7 virão da Infraero” (cf. Valor Econômico, 20/10/2011). Logo, a cada R$ 100,00 investidos, os açambarcadores dos aeroportos entrariam com R$ 15,30, apesar de mandarem no aeroporto, administrá-lo de acordo com os seus interesses e lucrarem com ele – e trata-se dos mais lucrativos aeroportos do país.

 Entretanto, “a participação do BNDES, nos empréstimos para projetos de infraestrutura, é limitada a 70%, embora possa aumentar, em casos excepcionais, a 90%” (cf. Valor, ed. Cit.)

 
Diz Bittencourt que “o custo [do empréstimo do BNDES para os açambarcadores] deve ficar em torno de 3% reais. Os valores não são muita coisa para o banco”.

 
Realmente, não são. Então, para que precisamos entregar os aeroportos a consórcios e empresas estrangeiras (pois é disso que se trata: boa parte do edital da Anac trata, precisamente, da participação das empresas estrangeiras na privatização)?

 
Não era para aportar recursos que as empresas estrangeiras viriam tomar os nossos aeroportos?

 
Não, leitor, não era. O objetivo de toda privatização é entregar o bem público, coletivo, a propriedade da população, a alguns assaltantes. Não é resolver problema algum do país, muito menos do povo. Se essa “concessão” significa “conceder” às empresas estrangeiras os nossos recursos (além dos aeroportos mais lucrativos do país, que o Estado já construiu), por que nós mesmos não cuidamos dos aeroportos? Por que falta dinheiro para a Infraero, a mais bem sucedida administradora de aeroportos do mundo, mas não falta para empresas e “consórcios” estrangeiros?

Mas reparem nessa gracinha: “a tendência, por causa da crise financeira internacional, que está aumentando a aversão dos investidores a risco, é que as companhias busquem os recursos do BNDES” - isto é, temos que ajudar, com nosso dinheiro, as empresas e consórcios estrangeiros a se apoderarem dos aeroportos mais lucrativos do país. Senão, elas não terão dinheiro para ganharem mais dinheiro às nossas custas. Como diz Bittencourt, exultante: “é o melhor negócio do mundo” (sic - cf. Valor, ed. cit.).

Realmente, é. Mas não para o Brasil.
O próprio Bittencourt, que agora não tem o menor pejo em falar que os aeroportos precisam de “R$ 21,265 bilhões ao longo de até 30 anos”, declarou em junho que, para a ampliação dos aeroportos até a Copa, bastam R$ 5,6 bilhões (v. HP, 03/06/2011) – isto é, 1/4 do que o BNDES concedeu à Telefónica num único empréstimo.

 Mas quem mandou a Infraero ser nacional e estatal? Diz Bittencourt que “certamente é grande o retorno que temos de empresas estrangeiras interessadas. Antes de ser ministro, fui diretor de infraestrutura do BNDES. Desde essa época a gente via o interesse internacional e nacional em investir nos aeroportos. Não existe restrição para a participação de empresas estrangeiras na concessão de aeroportos”.

 
Como é que um sujeito desses pode ser ministro – e do governo da presidente Dilma?
 
Na campanha eleitoral, a proposta de Dilma - aliás, razoável - foi a abertura do capital da Infraero. Literalmente: “acredito que não haveria dificuldade de abrir o capital da Infraero e manter o controle da empresa nas mãos do Estado, como ocorre com a Petrobrás. Nós tivemos durante muito tempo zero de investimentos nesse País” (entrevista durante caminhada no Rio de Janeiro, 02/08/2010).

 
O que é perfeitamente coerente com o que disse, meses antes, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC: “não permitirei, se tiver forças para isto, que o patrimônio nacional, representado por suas riquezas naturais e suas empresas públicas, seja dilapidado e partido em pedaços. Tenham certeza de que nunca, jamais me verão tomando decisões ou assumindo posições que signifiquem a entrega das riquezas nacionais a quem quer que seja”.

 
Ou, quando, em outubro de 2010, abordou o caráter político-ideológico de seu adversário:

 
Essa é a principal diferença entre o nosso governo e a turma do contra: eles só pensam em vender o patrimônio público. Eu acredito que as empresas públicas desempenham um papel fundamental no desenvolvimento do país”.

 
A presidente Dilma tinha razão. Por isso, é fácil resolver o problema atual. Quando se cometem erros, não há problema em corrigi-los. Problemas há se eles não forem corrigidos.

Carlos Lopes
www.horadopovo.com.br


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Odebrecht demite Comissão de Negociação dos Trabalhadores e infiltra policiais à paisana para perseguir operários

CUT e Conticom protestam contra arbitrariedade e exigem fim do banditismo e respeito à Constituição

Dando as costas à Constituição Federal, a Odebrecht anunciou na última sexta-feira (21) a demissão sumária de 10 trabalhadores da Comissão de Negociação na obra de ampliação da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em Volta Redonda-RJ, além de aproximadamente 70 operários.


“No dia da demissão, os trabalhadores foram constrangidos e humilhados por policiais à paisana vestindo uniformes da empresa, contratados pela Odebrecht, que se infiltraram no canteiro de obras, a fim de identificar lideranças”, condenou Marcos Aurélio Harting, secretário de Formação da Conticom/CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira) e do Sindicato local, cobrando uma ação ágil e enérgica das autoridades para por fim aos reiterados abusos da empresa.

De acordo com o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Artur Henrique, para início de conversa é necessário garantir a reintegração imediata de todos os trabalhadores demitidos pela Odebretch, bem como a criação de uma mesa para negociar as reivindicações dos trabalhadores. Uma carta com este teor foi enviada por Artur ao presidente da Odebrecht, Pedro Novis.

A Conticom estuda apresentar uma denúncia na Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Além das demissões de aproximadamente 80 (oitenta) funcionários, o cerceamento da liberdade de organização sindical e de comunicação e expressão das reivindicações de seus direitos, caracteriza-se como prática antissindical, nos termos definidos pelas Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), às quais o nosso país, Brasil, é signatário e se constitui uma afronta da Odebrecht à Constituição Federal”, sublinhou o presidente cutista. 

Tais policiais, esclareceu Hartung, impediram o acesso dos trabalhadores até mesmo aos seus armários individuais onde guardam seus pertences pessoais. “Adicionalmente, impediram os representantes da comissão de conversarem com os trabalhadores, o que é um direito sindical garantido na Constituição Federal”, destacou.

O clima dentro da obra se agravou nos últimos dias, lembrou o secretário de Formação da Conticom, diante da recusa da empresa em negociar as reivindicações da categoria, constantes em pauta unificada apresentada pelo Sindicato local. Os trabalhadores querem adequar alguns itens do acordo coletivo, celebrado em fevereiro, que têm se demonstrado incompatíveis com a realidade específica dessa obra de grande porte e que contratou operários de diversas regiões do país. 

Após ter recebido a denúncia, encaminhada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústria da Construção e da Madeira (Conticom), a CUT ampliou a pressão sobre as autoridades para que aja com agilidade e rigor no combate ao banditismo antissindical e cobrou que a direção da empresa abandone o comportamento feudal e respeite a lei.

Dando continuidade à política de assédio, perseguição e chantagem que relembra a ditadura, a Odebrecht voltou à carga na segunda-feira (24), colocando “encarregados” e “líderes de equipe” para alertar os trabalhadores que qualquer manifestação seria reprimida e os seus participantes demitidos.

Na terça-feira, novamente e empresa voltou a colocar policiais à paisana para perambular e fotografar a assembleia, convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e Montagem de Volta Redonda e Região, que seria realizada em frente à entrada principal da CSN.

 “Não vamos aceitar que em pleno 2011 a Odebrecht utilize marginais fardados para intimidar operários e fazer com que abram mão de direitos e conquistas. O comportamento criminoso desta multinacional brasileira deve ser combatido de forma exemplar pelo governo, que não pode continuar irrigando com dinheiro público empresas que além de não darem a mínima para o trabalhador, afrontam a própria Constituição do país”, afirmou o presidente da Conticom/CUT, Cláudio da Silva Gomes.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

CGTP comanda greves e mobilizações contra "programa neoliberal de agressões ao povo e ao país"



A Central Geral dos Trabalhadores de Portugal (CGTP) vem realizando uma série de greves e mobilizações entre os dias 20 e 27 “contra o programa neoliberal de agressão aos trabalhadores, ao povo e ao país, implementado pelo governo PSD/CDS, em função da subordinação aos interesses dos grandes grupos econômicos e financeiros”.


Entre os desmandos e atropelos à legislação social e trabalhista, agravados nos últimos 100 dias, alerta a Central, estão “o corte e o congelamento de salários e pensões, o aumento brutal de bens e serviços essenciais como os transportes públicos, a eletricidade e o gás; e os cortes nos serviços públicos e nas funções sociais do Estado, nomeadamente na saúde e educação”.


Longe de combater a crise internacional, alertam os trabalhadores, as medidas só vão agravá-la, pois terão impacto extremamente daninho sobre o mercado interno. “São inadmissíveis as políticas e as posições políticas que defendem a recessão econômica como necessária para nos colocar no nível de vida que devemos ter, para depois ‘renascermos das cinzas’ ”, condenou a CGTP.


Na avaliação da Central, para que Portugal tenha voz forte, “é preciso exigir a renegociação da dívida, com revisão dos prazos, de datas, da dimensão e da forma de resolver os problemas da dívida”. A submissão ao programa recessivo da Troika (FMI, Banco Central e a União Européia), na avaliação dos trabalhadores, equivale a uma “espécie de estado de ocupação do país”, onde “o governo deixa de ser dos portugueses e passa a ser de “defesa dos interesses dos credores e agiotas, que nos exploram com os compromissos que nos impuseram”.


Entre os inúmeros descalabros da política anti-nacional e anti-popular, alerta a CGTP, está em marcha uma ação deliberada de desmonte dos serviços públicos e de perseguição aos servidores. “Os trabalhadores da Administração Pública, face às decisões tomadas nestes dois anos, perdem, em média, cerca de 30% da sua remuneração. Até há setores que perdem mais do que 30%. Observemos que a quebra dos salários dos trabalhadores gregos de 2009 para cá, é de 35%. Nós estamos nos aproximando a grande velocidade, em curto espaço de tempo”.


Da mesma forma o aumento da jornada de trabalho proposta pelo governo equivale a uma perda salarial de 7%, “o que representa uma operação de transferência direta, de uma parte dos rendimentos do trabalho para o capital, sem qualquer efeito no pagamento da dívida, ou na redução do déficit do Estado”.

Kadafi: “Imperialismo é igual à escravidão”

 
“Nunca enfrentei nenhuma luta que não fosse por meus princípios, ajudando o povo, o povo líbio e os povos africanos. E os imperialistas? O que têm a dizer? Nada! São aves de rapina!”
Muamar Kadafi
 
O líder líbio Muamar Kadafi está morto e “a comunidade econômica ficará muito feliz” asseguram as agências de notícias que, cantando o jingle dos seus patrocinadores, comemoram o assassinato como um gol. Bombas e mísseis da OTAN com tecnologia de ponta, made in USA – e talvez alguma contribuição israelense - atingiram Kadafi em sua terra natal, Sirte, depois de heróicos e árduos meses de resistência.
 
“Ele foi capturado. Ele está ferido em ambas as pernas… Ele foi levado de ambulância”, declarou Abdel Majid, chefe militar dos mercenários da OTAN à agência Reuters nesta quinta-feira, 20 de outubro. Logo depois, o mesmo Abdel acrescentou que Kadafi “também” tinha um tiro na cabeça e... havia morrido. Certamente um insignificante detalhe, entre tantos que esclarecem o naipe e a credibilidade de tais “informações”.
 
Tão covarde quanto os mísseis e as armas químicas - como fósforo branco – que continuam sendo jogados sob os patriotas que defendem seu país do invasor estrangeiro e do auto-intitulado Conselho (Anti) Nacional de Transição, é o bombardeio midiático que tenta legitimar o morticínio de civis e o assalto às imensas riquezas líbias.
 
É impressionante o número de “doutores”, “filósofos” e “especialistas” escolhidos a dedo para repetir o script delineado pelos apóstolos do terrorismo de Estado. Sem se atentar ao ridículo da missão, tentam dar ares de “libertação” à partilha do país africano, que até bem pouco tempo ostentava os melhores índices de desenvolvimento humano, expectativa de vida de 75 anos, vigoroso sistema de saúde e educação estatais, garantidos pela gestão nacionalista da oitava maior reserva de petróleo do planeta.
 
Ignorando olimpicamente a realidade, emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas dos barões da mídia fantasiam e tergiversam da forma mais abjeta, oferecendo propaganda como “notícia”, visivelmente abatidos diante da altivez e da coragem de um líder que não abandonou seu povo. Como sublinhou o presidente venezuelano Hugo Chávez, “lembraremos de Kadafi durante toda a vida como um grande lutador, um revolucionário e um mártir".
 
Manipulação
 
“Poderemos retomar nossos negócios. Estamos gratos aos EUA, à França e ao Reino Unido por sua ajuda", teria afirmado uma “fonte”, apontada simplesmente como “residente de Trípoli”, em entrevista à Reuters, BBC e AP - casualmente agências de notícias dos países agraciados pelas polpudas receitas petrolíferas líbias, entregues pelos golpistas em troca do “reconhecimento político”.
 
Para não deixar sombra de dúvida a quem serve, o “primeiro ministro do CNT”, Mahmud Jibril, “confirmou” o assassinato de Kadafi em frente às bandeiras estadunidense e da monarquia deposta, que agora retorna amparada pelos democratas de latrina.
 
Como se seus governos ainda valessem algo e não estivessem cambaleando diante das gigantescas mobilizações populares que tomam as ruas da Europa e dos EUA contra o parasitismo dos banqueiros, rechaçando os pacotes de arrocho que turbinam o desemprego e lançam milhões à miséria, os “líderes” da agressão se apressam em pontificar sob o futuro da Líbia. Como se o relógio corresse a seu favor.
 
A secretária de Estado americana Hillary Clinton defende o assassinato do ex-presidente como “claro avanço”; o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, fala em “futuro firme e democrático" – talvez o mesmo que a sua tropa de choque reserve ao povo inglês; o ministro de Exterior da França, Alain Juppe, diz que “é o início de uma nova era”; enquanto o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, dando-se ares de imperador, proclama: "sic transit gloria mundi".
 
Atuando como correia de transmissão do imperialismo, vestindo a camisa de força da alienação em massa, as agências noticiosas escolhem a dedo imagens e depoimentos de “pessoas do povo” que aplaudem a presença dos assassinos e torturadores que vieram para “libertar o país” e “instaurar a democracia” à ponta de baioneta. Assim, montam um cenário ao bel prazer dos anunciantes para legitimar seus hediondos crimes, construindo um mundo paralelo, onde a única linguagem que ecoa é a da submissão e a única verdade é a do cifrão.
 
Aos que sonham varrer a soberania e a auto-determinação do povo líbio para debaixo das profundas jazidas de ouro negro, vale lembrar um dos últimos comunicados de Kadafi. O inferno para os ladrões do petróleo alheio está apenas começando...
 
Comunicado de Kadafi de fins de agosto de 2011
 
“Aos meus compatriotas
 
Os assaltantes imperialistas que querem usurpar a terra de vocês, querem ver-me morto e já ofereceram um prêmio pela minha cabeça. Não sabem que minha cabeça, minha alma e o martírio pertencem a Alá, o grande deus. Mostrei ao mundo onde está o ninho da maldade.
 
Pensam vocês, meu irmãos, que o que acontece ao meu país acontece por minha culpa? Não. Por isso lhes digo que defendam a liberdade de vocês. Ganhamos essa batalha e outras ganharemos. Deus é grande. Vocês têm casa, saúde e escola gratuitos.
 
Ajudei o Chifre da África e, aqui, nenhum imperialismo imperou. Mas não fiz o bastante. Agora, vocês sofrem. Lutei muito para que, agora, vocês percam tudo. Lutem, lutem, não descansem nem se acovardem.
 
Somos milhões no mundo que já vimos que as coisas são como eu sempre disse que eram: imperialismo é igual a escravidão. Não nos submeteremos. Meu legado há de servir também a outras nações. Não estou morto, porque muitos ainda me querem vivo.
 
Estou com vocês nesses dias e nas noites escuras. Estamos com Alá.
 
Meus irmãos, levem a guerra a cada rincão da opulência, da vaidade, da vida lasciva. Não se deixem seduzir pelos dólares de sangue. Os líbios são seres luminosos. Tenham todos a certeza de que vocês estão do lado da grandeza.
 
Deixem passar o tempo. Há forças no interior de vocês. Libertem-se dos demônios do mundo, vivam e deixem viver.
 
Todos sabem onde estou. Nos oásis mais belos de nosso país. Não destruam a Líbia. Já sobrevivemos a seis meses de martírio e dor. Mas essa é a terra de vocês. Não a vendam.
 
Minha alma está com vocês. Temos democracia participativa na Líbia. O povo, para o povo. E por que dizem que não? Porque eu estou aqui. Uma voz de revolução? Não. Nem pensam nisso. É tudo pelo petróleo.
 
O imperialismo está acabado. Irmãos da Revolução Verde, não caiam na mentira capitalista. Para que algum império sobreviva hoje, precisa de guerra eterna.
 
Vocês não veem que ainda estando eu vivo e combatendo essa batalha infernal, eles já brigam entre eles, disputando o butim da nossa Líbia amada?
 
Os dissidentes supõem que os colonialistas lhes darão o que eu lhes dei? Pois esperemos, para ver.
 
Minha família e eu estamos bem, lutando pela verdade. Sofro, apenas, por haver líbios matando líbios. Mas foi o que conseguiram os sediciosos. Eu nunca lutei luta que não fosse por meus princípios, ajudando o povo, o povo líbio e os povos africanos. E eles? O que têm a dizer? Nada! Todos os capitalistas racistas são iguais. São aves de rapina!
 
Eles e seus slogans de caridade: Ajudem as crianças da África? E que criança da África ganha deles alguma coisa? As doações vão para banqueiros e multinacionais e para as empresas que eles criam para lucro deles. Algum africano alguma vez foi beneficiado pelas empresas que eles criam? Não.
 
O Chifre da África sofre o que sofre por causa do imperialismo. Sou líder e tenho o poder nas mãos. Vivo porque meu povo vive. Por isso querem calar-me. Kadafi aqui, hoje e sempre.
 
Povos do mundo levantem-se e façam fugir esses meios-homens que querem escravizar vocês.
 
Agora estou em Sirte. Nasci aqui. Sou filho humilde desse deserto líbio que me viu nascer. Estou em Trípoli, em Benghazi e no mundo. E daqui, falo. E os ianques, onde estão? O que têm a dizer?
 
Acaso a civilização e a cultura ianque querem pendurar-me numa forca, como o líder do Iraque?
 
Pois se acontecer, que seja. O martírio honra quem mostra a verdade ao mundo.
 
Estou em Sirte, em Trípoli, em Benghazi...
http://alainet.org/active/50320&lang=es