Pensatempo: setembro 2012

domingo, 30 de setembro de 2012

O discurso dos anti-chavistas e a desintegração


Estou na Venezuela. Vim de TAM. Afora o péssimo serviço de bordo, sem um filminho ou musiquinha, nas seis horas de voo, a aeromoça sequer falava espanhol. O senhor do meu lado não sabia o que fazer com suas maletas e ela, gentilmente, lhe explicava em um português apressado de quem quer decolar, agora. Dei uma ajuda e isso rendeu uma conversa de quase seis horas entre ele, um administrador de clínica privada, sua esposa dentista e eu. Acho que em outra encarnação devo ter sido monge tibetano, porque meu ouvido foi transformado em penico por longas horas. Mas anotei tudo, tintim por tintim, para socializar a visão da oposição a Chávez em apoio a Capriles, um Collor fora de época e de lugar.
Vejamos oito pontos:
Primeiro – O fato da Unesco ter conferido a Venezuela o título de país livre do analfabetismo não passa de marketing. Chávez comprou a importante instituição da ONU para a cultura, vez em sempre sabotada pelos sucessivos governos dos Estados Unidos.
Segundo – O fato da Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe (CEPAL) colocar o país em terceiro lugar no Continente entre os com menor percentual de pobreza é tudo mentira, propaganda encomendada pelo governo para influir nas eleições, A Cepal informa que, na terra do libertador Simón Bolívar, entre 2002 e 2010, a pobreza diminuiu 20,8% ao passar de 48,6% para 27,8%, enquanto a pobreza extrema reduziu de 22,2% para 10,7%.
Terceiro – Fiquei sabendo que a Bolívia não está progredindo a olhos vistos por ter revertido a lógica entreguista de 85% das riquezas dos hidrocarbonetos para os estrangeiros e 15% para o país, mas porque o governo venezuelano está custeando tudo o que o “índio” Evo Morales necessita.
Quarto – Ainda existem problemas sociais porque a Venezuela “presenteia” os países da Alternativa Bolivariana para as Américas com dezenas de bilhões de dólares a fim de "exportar sua ideologia”. Fiquei sabendo pelos adeptos de Capriles que a integração não é boa para a Venezuela, que só entrou para o Mercosul “pela porta dos fundos”, porque Brasil, Uruguai e Argentina “desrespeitaram a decisão democrática do povo paraguaio”.
Quinto – Através das “Missões”, programas sociais que atacam os principais problemas dos mais pobres, o governo está cevando uma geração de pessoas que não quer mais trabalhar. “Agora ninguém mais quer passar roupa, porque o governo paga quem veste camisa vermelha e vai para a rua se manifestar”.
Sexto – A “geopolítica”, segundo os sábios caprilistas, aponta que a Venezuela está intimamente ligada aos interesses dos Estados Unidos. Portanto, o governo venezuelano deveria fazer como o da Colômbia, em vez de procurar alianças com os BRICs (Brasil, Rússia, India e China).
Sétimo – Há um problema com a saúde pública venezuelana motivada pelos médicos cubanos, “que não entendem nada de tecnologia e estão queimando todos os aparelhos modernos colocados à sua disposição”. Queimaram tantos durante tanto tempo que os hospitais estão superlotados, dizem.
Oitavo – O preço extremamente baixo da gasolina (o litro de água engarrafada é cerca quatro vezes mais caro) precisa ser revisto para diminuir os congestionamentos e colocar mais recursos no caixa do Estado. “Só deve andar quem puder pagar”. Uma solução simples e objetiva que talvez ninguém tenha pensado antes.
Infelizmente, o festival de asneiras continuou. E eu ali, apontando tudo. Vou informando a todos as pérolas. Reluzem. E dão asco.

sábado, 29 de setembro de 2012

“O povo palestino jamais renunciará ao direito de ser livre. Derrotaremos o apartheid de Israel ”


 
Afirmou Haneen Zoabi, primeira mulher palestina de um partido árabe a ter assento no parlamento israelense

Por Leonardo Wexell Severo

Filha da terceira geração após a Nakba, a catástrofe que caracteriza a diáspora palestina após a sua expulsão pelos sionistas em 1948, Haneen Zoabi é a primeira mulher de um partido árabe a ter assento no parlamento israelense. Integrante da “Flotilha da Liberdade” que tentou furar o criminoso bloqueio e levar remédios e alimentos para a Faixa de Gaza, foi classificada por Israel como “terrorista”. “Defensora dos direitos humanos e do valor da liberdade para todos os povos”, Haneen Zoabi sublinha que sua bússola é a da justiça num mundo de paz e coexistência, onde todos vivam “em pé de igualdade”. “O povo palestino jamais renunciará ao direito de ser livre num território livre. Derrotaremos o apartheid de Israel”, sublinhou. A parlamentar fez um “agradecimento especial à solidariedade da CUT Brasil” e destacou a relevância do nosso país para a luta contra o sionismo. Abaixo, selecionamos os principais trechos da entrevista de Haneen, concedida nesta sexta-feira (28) no clube Homs, na capital paulista, onde reforçou a convocação para o Fórum Social Palestina Livre, que será realizado de 28 de novembro a 1º de dezembro em Porto Alegre.

“Luta contra o apartheid é invisibilizada pela mídia”

 “85% da população palestina foi expulsa a partir de 1948. Hoje somos a terceira geração após a catástrofe, 1,2 milhão de árabes israelenses, 18% da população de Israel, um estado racista, que utiliza ferramentas religiosas para a sua dominação. Esta é a realidade da política do apartheid, muito invisibilizada pelos meios de comunicação que funcionam como instrumento de propaganda para justificar os massacres indiscriminados contra a população, sejam mulheres, idosos ou crianças. Na propaganda do dominador, os terroristas são os palestinos”

“Israel não tem Constituição, nem fronteiras”

“Israel é um país que não tem Constituição, nem fronteiras, mas 30 leis que legitimam qualquer abuso. Há uma lei de 2003, que proíbe terminantemente o casamento entre palestinos e uma de 2011 que possibilita o confisco de terras palestinas. É uma estratégia de guerra movida e exercida contra todo um povo com lógica de mais terras, menos árabes. Os expulsos a partir de 1967 não são mais cidadãos neste estado. Devido à lei de Reunião de Família e Naturalização, por exemplo, quem deixar Jerusalém por mais de seis meses pode perder a nacionalidade. Ou seja, um judeu que nasceu no Brasil tem mais direitos que um árabe que nasceu lá. Além do confisco de terras, se construímos uma casa corremos o risco de que ela seja derrubada porque o Ministério do Interior não tem mapas que registrem estas moradias. Assim, nossas construções são ilegais, não temos legitimidade para estar ali. Sem poder ocupar terreno, construímos mais andares para cima. Temos 60 mil casas sem autorização.  Então o estado chega e destrói tudo”.

“Além do conflito pela terra, conflito pela identidade”

Além do conflito pela terra em Israel há um conflito pela identidade, pois o racismo é muito presente. O confisco das terras palestinas, a construção e delimitação das cidades, o desaparecimento de povoados e aldeias, as leis da educação, da construção de partidos e organizações civis são partes de uma mesma política de segregação. Querem proibir o povo palestino de habitar o seu território.

“Um judeu que nasceu no Brasil tem mais direitos que um árabe que nasceu lá”

Como palestina não posso casar com nenhum palestino, mesmo que ele seja brasileiro ou sírio. Se o pai do marido é palestino, tem sobrenome árabe e não pode casar. Quem vive na Cisjordânia vive melhor que os árabes israelenses, pois eles são palestinos, nós não somos. Devido a uma lei absurda, se falamos que temos identidade palestina não estamos sendo leais ao Estado israelense. Eu, deputada no parlamento israelense, não posso ser chamada de palestina. Nos documentos oficiais somos não judeus. Não temos identidade”.

“Ministério da Educação de Israel transforma os árabes em fantasmas”

“O Ministério da Educação de Israel tem o papel de desaparecer com a nossa identidade. Entre os objetivos está o de vincular o judeu ao Estado de Israel, vinculado à diáspora no mundo, e fortalecer a linguagem hebraica. Eu não existia antes de 1948, nós todos somos fantasmas. Nas escolas árabes, está proibido ensinar o que aconteceu. A literatura de resistência está proibida. É proibido ensinar sobre a revolução nacionalista de 1952 no Egito, falar sobre Nasser. Todos os livros didáticos da sexta série, por exemplo, são sobre o holocausto, como catástrofe humana única. Eu me identifico mais como vítima do Holocausto do que os israelenses que estão nos reprimindo. Precisamos ser leais às lições da História: não mate, não seja racista, seja leal. Ao matar e discriminar, Israel é desleal com o Holocausto”.

“Não temos direito à memória ou à história”
“Nós somos proibidos até mesmo de lembrar a Nakba, a catástrofe. Não temos direito à memória ou à história. Todas as instituições são amordaçadas, proibidas até mesmo de mencionar a Nakba. Se algum estudante ou professor fala, o Ministério simplesmente corta os recursos da instituição de ensino”.

“50% dos palestinos vivem abaixo da linha da pobreza”
“Muitas vezes o homem palestino precisa sair para outras localidades à procura de emprego, mas a mulher, por conta dos filhos, fica muito vinculada à cidade. Como o sistema de comunicação e de transporte não chega às cidades árabes, tudo fica mais difícil para as mulheres, apesar de serem 54% dos palestinos graduados e 52% dos que têm título de mestrado. Mesmo com melhor qualificação, estudamos e ficamos em casa porque não temos trabalho. O resultado disso é que o ingresso das famílias judias é três vezes superior ao das famílias árabes. 50% dos palestinos vivem abaixo da linha da pobreza”

“O sionismo é um projeto racista, uma doença obsessiva”
“Temos lutado em defesa de um Estado para todos os seus cidadãos. Este é um projeto de cidadania que se choca com a essência do sionismo, que é racista, que é o projeto de um estado judeu. Para os judeus sionistas, o perigo representado pelos árabes-israelenses é o mesmo que os reatores nucleares do Irã. Vivemos um confronto entre a democracia e a judaização, entre o colonizador e o colonizado, daí o muro de separação, daí o cerco a Gaza. A judaização do Estado é uma doença obsessiva”
 
“O boicote é o caminho pacífico para derrotar o apartheid de Israel”
“Israel tem 60 acordos com os países europeus e até acordo de armamento com o Estado brasileiro, para vender aviões para o Brasil. O fato é que cada vez que Israel se expande, anexando ilegalmente territórios palestinos, tem melhores relações com os países do mundo. Então o governo israelense lê isso como apoio à sua expansão, enquanto deveria pagar o preço por esta afronta às leis internacionais. Quando denunciamos esta expansão ilegal no parlamento, imediatamente sobe um ministro na tribuna e diz: não se preocupe, temos boas relações e estão melhorando a cada dia. Ou seja, quando se assina um acordo com Israel ele não é apenas econômico, como costumeiramente ouvimos dos governos, mas um acordo político. É um apoio imoral, porque Israel está cometendo crimes”

“Estamos no caminho corretol”
“O governo de Israel vai proibir que me candidate  nas próximas eleições devido à minha participação na Flotilha da Liberdade, identificada como iniciativa terrorista. Pelos meios de comunicação a elite política promove o racismo e a paranoia em relação ao outro, a industrialização do medo para justificar sua política contra os árabes. Eu confio que vamos virar esta página. Confio na liberdade como instinto natural do ser humano. Uma humanidade  que Israel tentou domesticar com seu Estado militar, jogando seus tanques contra os que queremos somente sobreviver. Estou otimista, confio na força dos povos. A pergunta não é se estamos longe ou perto do objetivo, mas se o caminho é o correto. Estamos caminhando juntos pelo caminho correto”.

sábado, 22 de setembro de 2012

Encontro no Equador defende papel dos meios públicos e denuncia manipulações dos conglomerados de mídia



Cerbino (Equador), David Ribas (El Salvador) e Augusto Santos (Paraguai)  
Secretário de Comunicação da Presidência de El Salvador e ex-ministro da Secretaria de Informação do Paraguai defenderam investimento na luta de ideias

Fortalecer o papel dos meios públicos de comunicação enquanto instrumentos da sociedade para dar voz ao conjunto da população e combater a alienação e a manipulação dos grandes conglomerados de mídia , que comportam-se cada vez mais como partido político para induzir uma pauta reacionária e neoliberal, conforma os seus interesses e de seus anunciantes.

Esta foi a tônica do debate realizado entre o secretário de Comunicação da Presidência do Equador, David Rivas, e o ex-ministro da Secretaria de Informação e Comunicação do Paraguai, Augusto dos Santos, quinta-feira (20), durante o Encontro Latino-Americano de Comunicação Popular e Bem Viver, em Quito, Equador.

Conforme o moderador do debate, Mauro Cerbino, da universidade Flacso, os dois panelistas evidenciaram, assim como a realidade equatoriana mostra todos os dias, que temos um sistema de meios de comunicação com níveis inaceitáveis de deformação de consciências “através da concentração da audiências via jornais, revistas, redes de rádio e televisão”. “Empresas midiáticas têm sido criadas para serem grandes formadores de opinião,  escolhendo o que a população deve ou não conhecer. Fazem mais política que os próprios políticos, com iniciativas de grupo que se sobrepõem aos interesses da coletividade”, acrescentou.

Cerbino lembrou que após uma auditoria de três anos nas concessões públicas equatorianas ficou evidenciado que mais de 50% das frequências foram entregues de forma ilegal ou abertamente fraudulenta. Agora, alertou, estes mesmos criminosos têm se utilizado destes poderosos instrumentos para atacar o projeto que cria um novo marco legal para a comunicação no país. “Querem continuar como uma instância que pode colocar em xeque os governos, atuando de costas à cidadania”, sublinhou.

MÍDIA FOMENTOU O GOLPE NO PARAGUAI

Citando nominalmente o envolvimento do jornal ABC Color no golpe contra o presidente Fernando Lugo, o ex-ministro Augusto dos Santos frisou que a postura partidarizada do órgão de maior circulação no Paraguai, capitaneando o conjunto dos meios, foi antes, durante e continua sendo, o de “liderar uma oposição concreta a todos os projetos progressistas seja no âmbito social, político ou econômico”.

Conforme relatou Santos, os meios privados paraguaios estão muito alinhados, o que potencializa sua “logística, eficiência e alcance” em prol de transnacionais, bancos e da elite local. “A fonte de financiamento acaba marcando a tendência editorial do meio”, pontuou.

Diferente desta homogeneidade alinhada com as elites retrógradas do país e do continente, defendeu, “os meios públicos não têm opção preferencial e devem por ênfase na defesa dos mais desprotegidos”. Assim como o Estado precisa garantir a provisão da água, da saúde, da educação e da energia, ressaltou Santos, também precisa garantir o direito à comunicação veraz, livre das influências e manipulações dos meios mercantis.

“O que precisa ficar claro é quais são os meios públicos e quais os do governo, pois têm identidades distintas. O governo tem todo o direito de se comunicar com a população de forma direta e independente é precisa ter os seus instrumentos. Quanto aos meios públicos, precisam ter garantida a construção participativa, bem como recursos para funcionar de forma independente”.

Augusto lembrou que após sete décadas de governo do Partido Colorado no Paraguai foi construído um processo democrático, durante três anos, que fez com que na comunicação, por exemplo, todos os cargos da TV pública fossem preenchidos via concurso, o que possibilitou que a população encontrasse ali uma forte trincheira de resistência. Para não ficar refém do inimigo, informou, “também fundamos um semanário do governo e uma agência informativa”.  Dado o golpe, veio a onda de demissões na instituição.

A matança dos camponeses paraguaios em um enfrentamento onde foi morto o próprio chefe militar destacado para negociar, irmão do chefe da guarda presidencial, lembrou o ex-ministro, “foi utilizada pela oposição e pela mídia privada para justificar o impeachment do presidente Lugo, o que joga luzes sobre o que veio posteriormente”.
De acordo com lideranças dos movimentos sociais paraguaios, há mais do que evidências, em função da perfuração de coletes à prova de bala e da precisão dos tiros vindos do lado em que encontravam-se os camponeses do envolvimento da CIA.

MEIOS PÚBLICOS SÃO PARA O PAÍS

Para o representante de El Salvador, “os meios públicos são aqueles em que cabem todo o país e têm uma lógica diferente daquela dos meios privados, fundamentalmente guiados pela maximização dos lucros”. Na mídia privada, frisou, “o objetivo não é a qualidade, a formação da cidadania, da cultura de respeito ao meio ambiente, mas os recordes de audiência sem preocupação com as necessidades da população. Para nós, política pública significa respeito ao interesse público e não do público”. Este ponto precisa ser reiterado, destacou, pois em função de determinadas pautas mais facilmente assimiláveis e comercializáveis “se invisibilizam completamente outros temas de interesse. Há uma absolutização do cifrão em detrimento do conteúdo”.

David Rivas defendeu que a comunicação pública deve dialogar com a “construção de uma agenda de país, até para que os meios tradicionais mudem”. Desta forma, assinalou, “não cabe ao espaço público ter programas marginais, medíocres, de baixa qualidade de conteúdo e de baixos níveis de audiência. É necessário que o Estado garanta uma boa programação e por isso precisa de investimento. É possível, evidentemente, que um programa não tenha muita audiência, mas pela sua relevância cultural precise estar no ar. É a disputa entre um bom documentário, um noticário que informa e outro banal, onde a violência é o prato principal”.

O representante salvadorenho repudiou o que qualificou de “espetacularização da notícia” e alertou para a tentação de incorrer nos mesmos erros de “truques e sensacionalismo”. “É como um cavalo de parque de diversões, onde ficaríamos em movimento, mas rodando sobre uma mesma base. Por isso em El Salvador temos investido num trabalho de fortalecimento das consciências e de resgate da memória histórica”.

Acreditando na “direção coletiva e não na verticalização”, David falou sobre o projeto de lei proposto pelo governo salvadorenho, “que estará terminado em alguns dias”, “onde os meios públicos têm como função o desenvolvimento da cultura, do conhecimento e da educação”. Para isso, explicou, “propomos um conselho consultivo e um comitê de controle firmado por organizações culturais, sindicais, ambientalistas, profissionais do Ramo, portadores de deficiência e também por representantes salvadorenhos no exterior, já que temos um terço dos nossos compatriotas vivendo fora do país”. Além dos recursos públicos, disse, “a proposta é que as emissoras tenham uma publicidade muito seletiva, com muito filtro”.

COMPLEMENTARIDADE DOS SISTEMAS

Para a secretária nacional de Comunicação da CUT e coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Rosane Bertotti, “entre os pontos chaves expostos pelo debate está a necessidade da complementaridade dos sistemas público, privado e estatal”.  “Do ponto de vista dos movimentos sociais e pela democratização da comunicação, colocamos prioridade no fortalecimento do sistema público, a fim de que se estimule a reflexão, a crítica e a participação popular nos processos políticos. Isso é fundamental para construir e consolidar um projeto de país, o que significa olhar para a diversidade regional,  cultural e racial, garantindo a pluralidade de vozes”, declarou.

Na avaliação de Rosane, “comunicação pública requer gestão pública com independência financeira e plena participação dos diferentes atores”. A democratização da comunicação propiciada por este poderoso instrumento, ressaltou Rosane, “colocará os indivíduos como sujeitos do processo de democratização da comunicação e do próprio Estado, pois a ampliação do diálogo com a população tornará mais ágeis e eficientes as suas estruturas”.




quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Equador irradia a luta pela democratização da comunicação para a América Latina


Encontro da Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica (ALER) reafirma em Quito a comunicação como direito humano


“Mantenham acesa a luz, eu sempre vou voltar”

Guayasamin


Como uma profecia, as palavras do pintor equatoriano Oswaldo Guaysamin reverberaram na Capela do Homem, em Quito, na noite de quarta-feira (19), durante a cerimônia comemorativa dos 40 anos da Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica (AÇER). A entidade é a organizadora do Encontro Latino-Americano de Comunicação Popular e Bem Viver que, com a participação do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e da Central Única dos Trabalhadores do Brasil,  acontece na capital do Equador até o próximo sábado.

Erguida em 1985, a construção espetacular “rende homenagem ao humano” e resguarda como um museu parte expressiva da obra de Guaysamin, marcada por fortes e fecundas raízes indígenas. Mais do que um grito contra as mazelas provocadas pelo capitalismo e pelo neocolonialismo, as pinturas são um canto de amor à vida e de esperança na Humanidade. 

A gigantesca tela “O Condor e o Touro” sintetiza, como metáfora, as opções do Continente em relação aos descaminhos e armadilhas da globalização neoliberal e de seu projeto de dominação. A pintura traduz a luta entre o condor, ave símbolo dos Andes, e o touro, identificado com o colonizador europeu. Conforme a tradição indígena andina, uma vez por ano os dois animais devem ser amarrados e jogados do alto de um precipício. Se o condor conseguir se desprender, será um período de bonança e fartura. Caso contrário, tudo ao revés.

E foi este precisamente o cenário de fundo para a cerimônia que reuniu duas centenas de dirigentes dos movimentos sociais e pela democratização da comunicação da América Latina, autoridades, ministros e ex-ministros da Comunicação de todo o Continente, que elevaram a voz por um novo tempo.

Exortando “a arte como compromisso com a vida” e saudando o “espírito livre que salta destas quatro paredes” por obra do “pintor dos povos, da ternura e da paz”, o representante do governo equatoriano, Juan Meriguet, defendeu o bom combate para “mudar as velhas e caducas estruturas e conquistar a soberania e a dignidade”. Meriguet sublinhou a posição do presidente Rafael Correa de afirmar que “o direito à comunicação é garantia de democracia”, e que portanto se sobrepõe aos interesses de meia dúzia de famílias e seus conglomerados midiáticos. De acordo com Meriguet, “neste momento em que os meios massivos intervêm descaradamente para bloquear qualquer possibilidade para o pleno desenvolvimento dos desejos e aspirações dos nossos países e povos, reafirmamos nosso compromisso com uma comunicação plena e libertadora”.

O coordenador da ALER, Gerardo Lombardi, ressaltou que este é o espírito do encontro: “potencializar enfoques, olhares e sentidos de uma comunicação libertadora”. “Temos consciência de que este continente luta por novos espaços e caminhos, pois o modelo de desenvolvimento que nos venderam de diferentes maneiras está falido. Portanto, é hora de ressignificar. Nossas organizações trazem  propostas com diversos olhares para construir novos enfoques que  possam iluminar os caminhos carregados de sentimento e compromisso”, declarou.

Para o dirigente da Agência Latino-Americana de Informação (ALAI), Oswaldo León, a mídia privada expõe sua aversão à democracia ao argumentar que o projeto de lei em debate pelo parlamento equatoriano é uma “mordaça” e que a “melhor lei é que não existe”. A lei que está para ser aprovada, ressalta León, “garante a democratização do espectro eletromagnético: 34% para as emissoras comunitárias, 33% para as públicas e 33% para as privadas. E ponto”. Agora, denuncia, “em vez do ponto, a oposição de direita quer colocar uma vírgula e incluir ‘das frequências disponíveis’, para que nada mude, pois não há mais frequências para repartir”. Já está em vigor no Equador a legislação que possibilitou a retomada para o Estado de emissoras que foram doadas a parlamentares alinhados às propostas neoliberais e privatistas do antigo governo. Igualzinho ao que ocorreu no Brasil nos tempos de FHC, deputados e senadores saíram de determinadas votações com concessões debaixo do braço. “De 250 concessões ilegais, já retomamos 25. É um processo que caminha lento, mas que está andando”, disse. 

Entre os muitos abusos implementados pelos governos neoliberais que antecederam ao presidente Correa, informou León, encontram-se “o desmantelamento da Rádio Nacional, de quem não só tiraram as frequências como roubaram até mesmo os telefones”. “Agora o governo está estruturando a Rádio e a TV Públicas”, frisou.

Na avaliação da coordenadora do FNDC e secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, o embate que se trava hoje nos diferentes países da América Latina só reforça a justeza do empenho dos movimentos sociais e pela democratização da comunicação no Brasil para regulamentar os dispositivos constitucionais que combatem a formação de monopólios e oligopólios e garantem a complementaridade dos sistemas público, privado e estatal. Rosane defendeu que é “preciso pensar o novo tempo de convergência tecnológica e a necessidade de garantir a efetivação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) a partir dos interesses do país e do povo brasileiro em não das teles, que nos vendem uma internet lenta, cara e de má qualidade”. Um projeto soberano de país, alertou, “não pode estar subordinado ao poder das teles, que não garantem o direito ao acesso, que não levam a internet nem às escolas nem às comunidades rurais”. “O que afirmamos é que a comunicação é um direito. E que para que possa ser exercido precisa de um Estado que garanta este direito com políticas públicas para o conjunto da população”.

Leonardo Wexell Severo, de Quito

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Duas capas, duas caras, Folha de S.Paulo blinda o tucanalha mineiro





Mesmo sem querer, a Folha de S.Paulo do último sábado abriu o mês de setembro dando uma inigualável contribuição ao debate sobre a relação liberdade de imprensa e de expressão, estampando a imperiosa necessidade da democratização dos meios de comunicação.

Ao omitir da capa para os (e)leitores de Minas Gerais a foto do presidente Lula ao lado de Patrus Ananias, candidato a prefeito de Belo Horizonte pelo PT, o jornal da tucanalha paulista dá sequência às suas inconsequências e incontinências.

Para os demais estados, a foto do ex-presidente soltando o verbo caia bem, era notícia que se vende sem maiores contraindicações, já que não impacta diretamente as urnas do aliado alado. Para o povo das Alterosas, a bicada é mais embaixo.

A bem da verdade, conforme denunciou o secretário de Formação da Central Única dos Trabalhadores, José Celestino Lourenço (Tino), que adquiriu no aeroporto as duas edições, a Folha que chegou a Minas Gerais também omitia o texto sobre a participação de Lula e não fazia – obviamente - qualquer referência à candidatura contrária aos interesses do tucanato mineiro. 

Assim, livre para voar e invisibilizar, a Folha substituiu na edição de Minas a foto vertical de Lula-Patrus por duas horizontais: de Clint Eastwood com uma cadeira vazia e outra de Obama de costas. 

Não é de hoje a reflexão – e a denúncia – de como funciona o balcão de negociatas em que se converteu a distribuição de publicidades oficiais para garantir que as neves reacionárias e cambaleantes sejam degeladas em outras terras. É sempre bom ver para crer. Reforça a compreensão da necessidade do processo de depenagem, agora, das aves de mau agouro. E o compromisso de virarmos a página.